Não tivesse “Uncharted: The Lost Legacy” sido lançado como jogo independente e não mereceria mais do que uma nota de rodapé quando se falasse em “Uncharted 4“. O plano inicial seria o de lançar o quinto jogo da saga como um DLC (ao jeito do que a Naughty Dog fez com “Left Behind“, a extensão de “The Last of Us“), algo a que todas as evidências aconselhariam.
Visto que a maioria dos elementos da equipa se encontravam afetos ao projeto “The Last of Us Parte II“, este novo jogo não poderia ocupar muitos recursos nem resultar num jogo tão imenso como o predecessor. Outro fator novidade, a necessidade de colocar Nathan Drake (Nolan North) de lado e de focar a história noutras personagens também aconselharia a começar com um pequeno jogo e, a partir daí, avaliar a disponibilidade dos fãs para colocar os holofotes noutros heróis que não no adorado Nate.
Por essa razão, mais do que discutir o potencial tamanho do jogo, seria essencial escolher o novo protagonista. Algumas potenciais escolhas incluiriam o irmão Sam Drake ou o amigo Victor Sully. Apesar de nenhum destes ter sido escolhido, a decisão acabou por recair noutras duas personagens secundárias: Chloe Frazer, introduzida pela primeira vez em “Uncharted 2” e com aparição em “Uncharted 3“, e Nadine Ross, cuja primeira e única aparição se deu em “Uncharted 4” como antagonista.
Dada a maior longevidade da personagem de Chloe e uma grande simpatia dos fãs para com a personagem, Chloe acabou por ser escolhida como a única personagem controlável de “The Lost Legacy” e, por consequência, alvo de maior foco de desenvolvimento narrativo. Discussões à parte, o jogo foi lançado para a PlayStation 4 em agosto de 2017, um ano após “Uncharted 4”.

A história passa-se exclusivamente em território indiano, onde Chloe Frazer (Claudia Black), com a ajuda de Nadine Ross (Laura Bailey), procura a lendária presa de Ganesh, filho do Deus hindu Shiva. As duas caçadoras de tesouros deslocam-se para a cordilheira das Gates Ocidentais, no oeste da Índia, à procura de pistas sobre a localização dessa presa, procurando vestígios do império Hoysala. Com o mesmo objetivo encontra-se Asav (Usman Ally), que procura usar a presa de Ganesh para iniciar uma guerra civil nesse território indiano, representando quase totalmente a força antagonista de “The Lost Legacy”. Na segunda metade da narrativa, Sam Drake (Troy Baker) junta-se ao par feminino para ajudar a travar Asav.
Ainda que a narrativa seja mais contida, apenas numa localização (algo raro nos jogos “Uncharted”), é possível fazer render o mundo criado. A arte como o faz é incentivando (ainda mais) a exploração para compensar o número de capítulos mais limitado (apenas nove em vez de cerca das duas dezenas habituais). O jogo ensaia uma espécie de mundo aberto num dos capítulos do jogo, num mapa algo reduzido quando comparado com outros jogos open world, mas em que o efeito é similar.
Além disso, adiciona um novo tipo de colecionáveis (além dos já famosos tesouros), que permite, quando recolhidos na totalidade, acrescentar dicas sonoras quando as personagens se aproximam de tesouros. O resultado é um jogo que pode atingir as oito ou nove horas para os mais exploradores, mais do que alguns dos jogos da trilogia original.

Como já foi mencionado, é Chloe que tem o maior desenvolvimento como personagem, onde é explorada com alguma profundidade a sua backstory e onde a relação com Nadine é um dos principais focos do jogo, começando num interesse mais utilitarista, mas que vai crescendo aos poucos para se tornar numa amizade mais pura. Já Nadine, como personagem não tem tanta sorte, parecendo em algumas secções que está lá mais para servir como interlocutora às intervenções Chloe do que para ter o seu próprio desenvolvimento. É sobretudo após a introdução de Sam que Nadine começa a criar o seu arco narrativo, acabando por ser satisfatório quanto baste.
“The Lost Legacy” é, portanto, mais do que um mero DLC, é sim um jogo com mérito próprio, obrigatório para todos os fãs de Nathan Drake e da saga “Uncharted”. Com a já anunciada PlayStation 5, os fãs ficarão a aguardar novidades sobre uma potencial expansão do universo. A existir, talvez possa ter novamente Chloe Frazer como protagonista, e pode até ser que o testemunho seja passado a outra personagem já existente ou a alguém completamente novo.
A haver continuidade da saga, é apropriado dizer que a fasquia já está alta e que manter a qualidade “não será fácil“, como Nathan Drake diz a certa altura em “Uncharted 4”. A única resposta possível é aquela que Elena faz a essa intervenção: “nada que valha a pena é“.
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