Como se fosse o acontecimento mais trivial do mundo, “Uncharted 3: Drake’s Deception” chegou a toda a comunidade gamer no final de 2011 para a PlayStation 3, dois anos depois do mundialmente aclamado “Uncharted 2“. Tal como na primeira sequela, o ciclo de desenvolvimento durou um par de anos e o jogo foi lançado no final do ano (como se costuma dizer, em equipa que ganha não se mexe). Contudo, revelou-se um grande desafio e uma novidade para a Naughty Dog, que ao mesmo tempo entraria em produção o também aclamado “The Last of Us“.
Em termos criativos, esta divisão de equipas significou a deslocação lateral de um dos principais nomes das duas franquias anteriores de “Uncharted”, Neil Druckmann. Também o estatuto alcançado por “Among Thieves” obrigaria, por um lado, a manter o estatuto já adquirido e ser fiel às personagens já estabelecidas; por outro, seria sempre necessário manter a história fresca e original.
Muito daquilo que marca “Uncharted 3” são as múltiplas linhas temporais jogáveis, ensaiadas primeiramente em “Uncharted 2”, sobretudo como elemento criador de suspense. No primeiro capítulo, Nathan Drake (Nolan North) procura (pelo menos aparentemente) vender o anel de Sir Francis Drake num bar londrino. Não sendo tão relevadora de toda a premissa da história, serve perfeitamente o propósito de introduzir algumas personagens novas, como o importantíssimo Charlie Cutter (Graham McTavish), bem como os antagonistas Talbot (Robin Atkin Downes) e Katherine Marlowe (Rosalind Ayres).
Após esse encontro resultar na perda do anel por parte de Nate e Sully, o jogo recua cerca de 20 anos, onde é assumido o controlo de Nate deambulando pelas ruas de Cartagena, na Colômbia, explicitando não só onde este obteve o seu adorado anel, mas também as origens da sua relação com o seu mentor Sully (Richard McGonagle). Regressando ao presente, é introduzida a personagem de Chloe Frazer (Claudia Black) e estabelecido o objetivo principal da nova aventura de Nathan Drake – encontrar o mapa que Sir Francis deixou que revela a localização da cidade perdida de Ubar, na Arábia.

“Uncharted 3” é o jogo da trilogia que mais procura caracterizar os seus protagonistas e começar a atar pontas relativamente aos seus backgrounds, onde se nota particularmente uma adição que pode parece um pouco forçada da relação entre Nate e Elena (Emily Rose) à narrativa praticamente a metade do jogo. Isto é justificado, em parte, pelo estatuto de último jogo da trilogia (só se viria a anunciar alguns anos depois uma nova sequela).
Talvez por esse carácter de conclusão, o jogo foi um completo sucesso de vendas, tornando-o um dos jogos mais vendidos de sempre da PS3 e a também a série “Uncharted” uma das mais vendidas e respeitadas em todo o universo dos videojogos.
Uma análise mais fria (que, por consequência tenta ser menos emocional) permite detetar que “Uncharted 3”, ainda que se situe num nível altíssimo, não teve a capacidade de reinvenção atingida por “Uncharted 2”, mas sim confiança que usando as bases dos dois jogos anteriores seria suficiente e que não seria necessário ousar ir muito mais longe (“Uncharted 2” costuma ser caracterizado por isso). Ainda assim, “Uncharted 3” possui das melhores sequências de toda a franchise, onde o famoso “nível do barco” fica na memória de qualquer jogador.

O gameplay mantém-se quase gémeo dos jogos anteriores: baseado em exploração, combates com armas ou corpo a corpo e resolução de puzzles. Algumas adições interessantes incluem a oportunidade de abordar inimigos de forma furtiva, não alertando as redondezas e impedindo vagas de inimigos armados extra. Além disso, o combate corpo a corpo recebeu alguns melhoramentos e torna-se, em doses moderadas, uma experiência satisfatória. A nível gráfico, e tal como a física do jogo, as melhorias são notórias, aproximando cada novo jogo da série a um filme de Hollywood.
“Drake’s Deception” não faz jus ao título e estabelece um novo patamar naquilo que um videojogo com foco narrativo pode oferecer. Em 2015, a Naughty Dog lançou uma coletânea dos três primeiros jogos da saga remasterizados para a nova geração de consolas da PlayStation (a novinha PS4), apelidando-a de “The Nathan Drake Collection“. Este jogo acaba por ser uma grande oportunidade para quem não teve oportunidade de jogar a trilogia “Uncharted” quando esta saiu originalmente, podendo fazê-lo agora com (ainda) melhores gráficos. Quase tanto um must play para amantes de gaming como um must watch para os amantes de cinema.