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Porque A Arte Somos Nós

viva o rock brasileiro #1

Inicio aqui uma série de relatos que homenagearão algumas das mais importantes bandas de rock surgidas no Brasil nos anos 80. Saudades do tempo em que os adolescentes se reuniam à tarde para ouvir os LPs de bandas como os Titãs, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii, RPM, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Barão Vermelho, Plebe Rude, Capital Inicial, Nenhum de Nós, Ultraje à Rigor, Camisa de Vênus, Lobão, Raul Seixas, Biquíni Cavadão, Uns e Outros, Ira, Hanoi Hanoi, Cazuza, João Penca e seus Miquinhos Amestrados, Ritche, Blitz e outras.

Conheci estas bandas na casa da minha prima, dois anos mais velha que eu. 12 anos à época, que sorte ter sido apresentado a este novo mundo. Ouvia os LPs, lia as letras e ficava a refletir sobre elas. Encontrei o antídoto ao conservadorismo católico puritano da minha família. Assistia às apresentações e atuações de muitos destes conjuntos no famoso programa da TV Globo, “Cassino do Chacrinha”. E mais tarde, no “Mixto Quente”. Ficava encantado com aquelas performances. A liberalidade das canções, falando abertamente sobre sexo, comportamento, atitude e posicionamento político ajudaram na constituição do meu espírito crítico. Passei a ser mais questionador e agradeço aos meus “professores” do rock Brasil.

Não pretendo tratar aqui de música apenas, sob o risco de soar superficial. Não sei diferenciar um som de baixo de um som de guitarra. Como bateria é aquele som que bate, desconfio do que se trata.

Abordarei o todo, a sensação de ouvir tais discos, a sensação de ter ido ao primeiro concerto, analisar o badalado “melhor disco de rock do Brasil de todos os tempos”, as conversas com os amigos e as nossas discussões sobre quem era a melhor banda do país (os jovens costumam ser muito tribais), e mais uma série de abordagens que poderão passar ao largo dos músicos em si, mas que retratarão uma época sem Internet, de poucas opções de canais televisivos, e se você residisse numa cidade do interior de Minas Gerais, o panorama seria limitado.

Mas essas músicas tinham como propósito alargar o nosso campo de visão, pelo menos para aqueles garotos que fizessem um juízo crítico sobre a mensagem.

Típico fenómeno dos anos 80, muitos destes artistas sobrevivem até hoje com carreiras sólidas. Quis o destino que eu tivesse a honra de entrevistar alguns deles para a Revista da qual sou editor, a Conhece-te. Nas oportunidades em que entrevistei Humberto Gessinger (Engenheiros), Bruno Gouveia (Biquíni), Sérgio Britto e Tony Bellotto (Titãs), Arnaldo Brandão (Hanoi), Lobão, Marcelo Hayena (Uns e Outros) e fiz cobertura in loco de alguns shows, sentia-me mais o menino e menos o jornalista. Quantas vezes tive que me beliscar para me certificar de que não estava a sonhar. Trabalhar com prazer é divertido.

Estranhamente, para muitos os anos 80 ficaram caracterizados como algo brega e até ofereceram Festas Anos 80 para recordar o estilo das permanentes e do gel no cabelo e das indefetíveis ombreiras, com os também inconfundíveis ténis All Star. Como pano de fundo, algumas canções deste período, de alguns notadamente bregas tais Sylvinho e um insuportável Ursinho Blau Blau (banda Absyntho) e Eduardo Dusek com a sua dica para se trocar o cachorro por uma criança pobre.

Confesso que algumas das bandas citadas no primeiro parágrafo esbarraram sim nessa falta de gosto, mas no todo o legado que deixaram sustenta-se até hoje com carreiras sólidas e músicas que se mostram atuais, no que toca às críticas sociais e políticas, além de muito lirismo em canções introspetivas que nos emocionam.

Que país é esse?, a música dos Legião Urbana parece encontrar ainda hoje ecos pelo mundo

Ao propor estes textos, sugiro a interatividade de ato contínuo, ouvirem as canções e refletirem sobre as letras, deixando-se embalar por melodias que grudam nos nossos ouvidos, de tão boas que são. Mergulhem neste universo de uma época em que “música era feita com a cabeça, música era feita com o coração, música não era feita com a bunda não“. Este brado entre aspas foi gritado por Bruno Gouveia num espetáculo em Fortaleza – CE.

Com muito prazer e gosto, abro a vocês o meu diário sentimental…

Marcelo Pereira Rodrigues

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