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Porque A Arte Somos Nós

O primeiro filme do ator Jack Nicholson que assisti no cinema foi “Uma Questão de Honra” (1992), co-estrelando Tom Cruise e Demi Moore, numa trama de tribunal militar onde o carrancudo Jack era o vilão, isto em 1992. Na televisão, só assisti à sua performance como Joker no filme do “Batman” (1989) tempos depois. E ao longo dos tempos, fui agraciado e apaixonado pelo cinema como sou, inevitavelmente esbarraria nas atuações deste ator que atualmente é um dos meus preferidos. Nas aulas de Filosofia Clínica, foi-nos sugerido assistir a “Voando Sobre Um Ninho de Cucos“, filme da década de 1970 que rendeu o primeiro Óscar a Nicholson.

Mas antes já havia visto “Melhor é Impossível“, filme que lhe rendeu outro Óscar e que nos apresenta o escritor misantropo, sarcástico, avesso a qualquer contato humano e com TOC Melvin Udall. Hilário! (já escrevi a resenha para este filme aqui no Barrete). E foi assim que, ao longo dos anos, assisti a várias das suas obras: “The Departed – Entre Inimigos” (2006), “Lobo” (1994), “O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes” (1981), “Nunca é Tarde Demais” (2007), “A Promessa” (2001), “Easy Rider” (1969), “Shining” (1980), “Alguém Tem que Ceder” (2003), “Laços de Ternura” (1983), “Chinatown” (1974) (também já escrevi resenha aqui no Barrete), “Terapia de Choque” (2003), e outros.

Jack Nicholson no papel de Joker em “Batman” (1989)

Daí o meu interesse para ler a biografia muito bem escrita por Marc Eliot, que é um laureado escritor nos Estados Unidos que já escreveu 25 livros. Publicado no Brasil pela Novo Século, com 343 páginas, a biografia revela todos os bastidores dos filmes realizados, as recusas de Jack para alguns papéis, o seu trabalho como produtor, os sucessos, os fracassos e a vida íntima e farrista do ator que adquiriu ojeriza a relacionamentos sérios e monogâmicos, e a dizer que lendo este livro sentimo-nos dentro de um filme.

Chapado com cocaína dentro dos sets das filmagens e viciado em sexo como um contumaz Casanova, Jack Nicholson ganhou a atenção de todos no concorrido mundo de Hollywood e safou-se de tudo isso pelo facto de ser um ator excecional, sendo que o seu cartão de visita sempre foi o sorriso aberto que não envelheceu a sua personalidade marginal no início, e numa imitação entre vida e obra, numa trama difícil de dissociar, Jack passou para o rol das grandes celebridades mesmo que às custas de muitas polémicas ao longo do caminho: lendo o livro, soube que a violação de uma menor pelo cineasta Roman Polanski foi no seu jacuzzi, pois a casa de Jack estava sempre aberta aos amigos.

Jack Nicholson no papel de R.P. McMurphy em “Voando Sobre Um Ninho de Cucos”

Jack não se encontrava na cidade neste dia; o relacionamento vai e volta com Anjelica Huston, que começou pelo encantamento padrão de Nicholson, pela beleza da beldade e terminou com o mais puro amor que uma mulher pode ter por um homem: o maternal. Pois é isso mesmo: se o ator Jack Nicholson cresceu tanto a se transformar numa lenda, o tiozão não se deu conta do envelhecimento e, por muito tempo, insistiu na equação de sair com mulheres mais jovens, algumas das quais bem poderiam ser suas netas.

No livro, uma espécie de “para além do bem e do mal” na visão nietzschiana, algo me chamou profundamente a atenção: o gosto de Jack Nicholson por escritores aos quais admiro profundamente, tais como Camus, Sartre e o próprio Nietzsche. Inclusive, numa entrevista, saiu-se com essa ao ser perguntado sobre o seu constante vai e volta com Anjelica: “Temos uma relação a la Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir“. Estudioso exigente, dedicado incansável nas funções de realizar e atuar, Jack Nicholson, tão laureado e ainda galã aos 80 anos, mostra-nos que a vida pode ser vivida em toda a sua intensidade, afinal, viver é para aqueles que têm coragem.

Excelente o livro narrando a vida e obra de um excelente ator!

“Os filmes sempre foram encarados como um ótimo meio de fuga da realidade. Não são. Os filmes aproximam-nos de nós mesmos. Nós aprendemos mais sobre quem somos, e não menos, assistindo aos personagens na tela. Nesse sentido, um filme é tanto uma janela quanto um espelho. A sua carga emocional e a sua força tranquilizam todos nós, no templo do cinema, de que não estamos sozinhos. Os filmes de Jack Nicholson revelam-nos um pouco mais sobre quem somos ao mostrar um pouco mais quem ele é.”


Marc Eliot

Marcelo Pereira Rodrigues

Rating: 3 out of 4.

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