“Só vivo porque posso morrer quando quiser: sem a ideia do suicídio já me teria matado há muito tempo”
Emil Cioran
Preparem-se para pensamentos melancólicos. Para ideias desconcertantes. Para ideias que nos incomodam. Se forem de natureza macambúzia e com pouco senso de reflexão, sugiro que não se apercebam do filósofo romeno Emil Cioran, que nasceu em Rășinari, uma área rural da Transilvânia (portanto, conterrâneo do Conde Drácula) em 1911 e que faleceu em Paris, no ano de 1995. Ainda na Roménia, aos 17 anos ingressou na Faculdade de Filosofia, e encantou-se pela política partidária aderindo a um Partido Nacionalista, inspirado no Nazismo, mas na fase adulta reconheceu este erro e acabou por se desculpar; mas foi em Paris que se radicou e tentava viver como estudante apenas.
Tanto é que foi chamado à responsabilidade pela administração da Sorbonne, pois já estava com 40 anos e havia estado há muito na instituição, aproveitando-se das refeições baratas nos bandejões da cantina da universidade. Assim, teve que se desligar da instituição (ou desligaram-lhe) e entronizou a característica com a qual gostaria de ser conhecido e reconhecido: a de um eterno estudante.
Nos primeiros ensinamentos da Filosofia, encantou-se com Immanuel Kant (1724-1804), Arthur Schopenhauer (1788-1860) e Friedrich Nietzsche (1844-1900). Contudo, refutou a Filosofia como o grande esquema de explicação do mundo e de Nietzsche herdou a característica de se expressar por aforismos, tais como:
“Amo o pensamento que guarda um gosto de carne e sangue, e a uma abstração vazia prefiro mil vezes uma reflexão surgida de uma exaltação dos sentidos ou de uma depressão nervosa“.

Cioran é de um pessimismo impressionante. Mas, quando leio alguns dos seus pensamentos, consigo encontrar humor, mesmo que negro, das suas provocações. Na fase adulta, foi acometido por uma insónia que não o deixava aspirar a novos começos, pois, segundo ele, só aqueles que dormem e se levantam normalmente na manhã seguinte têm o direito de aspirar a coisas novas, sonhos novos, projetos novos.
Saindo do seu quarto barato de hotel, pela madrugada lá ia Cioran perambular pela Cidade Luz, em becos escuros contando com a companhia de putas tristes que formavam as cenas. Sem aspiração alguma, pessoal ou profissional, sem compromissos e sem ter que prestar contas a ninguém, Cioran tinha tempo de sobra para refletir e tirar extratos destas sinapses, tais:
“O paraíso é a ausência do homem“.
O mundo de Cioran é cinza e não intenta nenhuma metafísica. Ele mesmo desejava uma vida de inseto, tipo “A Metamorfose” de Franz Kafka e fico aqui a pensar se este desapego à vida é que não fez com que, contraditoriamente, vivesse tanto, afinal, morreu aos 84 anos, precedido pelo Mal de Alzheimer.
Os seus livros mais conhecidos são “A Tentação de Existir“, “Exercícios de Admiração“, “Breviário de Decomposição” e “Silogismos da Amargura“. Citando fontes, o filósofo foi-me apresentado pelo excelente artigo de Paulo Jonas de Lima Piva, “Cioran Uma Mente Desconcertante“, publicado na Revista Discutindo Filosofia (Ano 1, n.º 2). Do mesmo modo que a partir desta apresentação procurei inteirar-me mais sobre Cioran, espero que este artigo em questão lhes possa proporcionar isso.

Deixo-lhes alguns pensamentos, e esclareço que não me aprofundei mais para dar um certo estilo às intenções de Cioran: mais vale uma vida vivida com toda a sua contrariedade a esquemas de reflexões e de salvação do mundo, pelo menos a nossa própria. Tentem não se matar ao lerem estas reflexões tortas. Ao menos para mim, significou deleite puro, pois, para além da seriedade das sentenças, percebi um certo sorrisinho de mofa.
“No edifício do pensamento não encontrei nenhuma categoria na qual pousar a cabeça. Em contrapartida, que belo travesseiro é o Caos!“;
“O momento em que pensamos ter compreendido tudo dá-nos ar de assassinos“;
“O destino do homem é esgotar a ideia de Deus“;
“A obsessão pelo suicídio é própria de quem não pode viver, nem morrer, e cuja atenção nunca se afasta dessa dupla impossibilidade“;
“Que vale mais: realizar-se na ordem literária ou na ordem espiritual, ter talento ou força interior? Parece a segunda fórmula a preferível, pois mais rara e enriquecedora. O talento destina-se ao olvido, em contrapartida a força interior aumenta com os anos, podendo atingir o seu apogeu no momento em que a pessoa expira“.
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