Com a sua 1h50 de filme, o documentário “Fantasmas do Império” escrito e realizado por Ariel de Bigault, produzido por Alexandre Oliveira e AR Filmes, coproduzido por Alexandre Perrier e KIDAM, com as atuações de João Botelho, Margarida Cardoso, Ivo M. Ferreira, Fernando Matos Silva, Hugo Vieira da Silva, Manuel Faria de Andrade, Joaquim Lopes Barbosa, José Manuel Costa, Maria do Carmo Piçarra, Orlando Sérgio e Ângelo Torres é um passeio histórico pela história de Portugal e pelas suas colónias.
Numa imersão na Cinemateca Portuguesa, vários trechos de filmes históricos são colados e compõem este “Fantasmas do Império”. Embora a colonização, entendida como usurpação, tirania e com a falsa ideia de civilizar povos bárbaros sejam notórias, apenas no século XX o cinema regista as suas histórias e do documentário percebi a denúncia óbvia: por trás de todas as propagandas estatais do governo de Portugal, só mostravam facetas que melhor lhe conviessem, e mesmo alguns diretores dos anos 70 e 80 esbarraram nessa dificuldade, edulcorando muitas das relações dominantes entre opressor-oprimido.

Aqui vale a máxima que reza o seguinte: numa relação de poder, os mesmos grilhões que prendem o prisioneiro o associam ao seu captor que, de certo modo, está agrilhoado também. Assim, das colónias portuguesas em África, tais como Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, e também Macau (agora China), é revelador de um certo enredo que diz que o mundo Ocidental chegou ao continente para levar a palavra de Deus e a civilização propriamente dita. Existe um fosso entre essas culturas, e a subserviência dos “nativos” não encontra precedentes.
Pós década de 1960, rebeliões, insurgências e levantes ocorrem e as chamadas guerras coloniais marcaram profundamente o dominador e os dominados. Chega-se a um consenso de que mesmo as famílias lusitanas que perderam os seus entes queridos nessas guerras não gostam muito de tocar no assunto. Com um forte predomínio etnográfico, o filme é uma excelente aula de História e os depoimentos dos realizadores destes muitos filmes (que fique claro que existem também as histórias ficcionais) acrescentam muito e servem de aperitivos para assistirmos na íntegra a estes.

Filme que esteve na Porto/Post/Doc, o Festival de Cinema da Cidade do Porto, permitiu-me uma viagem pela nossa história e um sair do mundo para perceber a máxima de Aristóteles: “Um povo que não conhece bem a sua história tende a repeti-la”. Ainda bem que os tempos são outros, e que as expansões territoriais estão fora de moda, chegando a assustar o facto de que em décadas recentes ainda existia essa mentalidade de domínio de um país pelo outro.
Este filme foi exibido no Porto/Post/Doc no dia 24 de Novembro (terça-feira), às 20:00 horas, no Teatro Rivoli.
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