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Porque A Arte Somos Nós

Realizado por Greg Johnston, produtor da série “The Osbournes” (2002-2005) e exibido pelo canal Biography, o alvo de retrospetiva é nada mais nada menos do que a vida do homem e artista John Michael Osbourne, mundialmente conhecido como Ozzy Osbourne. A peça retrata as suas origens em Birmingham, no Reino Unido, até aos dias atuais. Hoje com 72 anos, podemos afirmar que o “Príncipe das Trevas” teve uma vida cheia de emoções, acidentes e variadíssimas histórias no mínimo peculiares…

Tal como menciono no parágrafo anterior, “Oz” nasceu em Birmingham, uma cidade operária onde após o fim da Segunda Guerra Mundial a maioria da classe trabalhadora pertencia à área industrial. Os pais do futuro cantor eram precisamente operários numa fábrica metalúrgica, alternando os seus turnos entre o dia e a noite. Consequência desses horários, e sendo Ozzy o irmão do meio – três irmãs mais velhas e dois irmãos mais novos – este sentia necessidade de dar aso à sua imaginação, pois odiava a escola e a sua falta de recursos levava-o a alguma delinquência.

O documentário, em estilo de auto-biografia (pelas palavras de Ozzy Osbourne e da sua família), mostra desde início uma pessoa frágil e insegura devido à vergonha que Ozzy sentia em público por parecer um “pedinte”. Não nos podemos esquecer que por esta altura em Birmingham havia muita pobreza e o saneamento não era como é hoje em dia. A casa-de-banho não era privada e não havia papel higiénico. É interessante ouvir estas declarações ao mesmo tempo que o cantor e a sua esposa, Sharon Osbourne, visitam a antiga casa de “Oz”. Contudo, para felicidade de muitos jovens, estes têm contacto com a música bastante cedo e o bichinho fica-lhes no sangue. O de Ozzy foram os Beatles.

Um jovem Ozzy Osbourne à direita

O objetivo estava traçado: ser cantor. O melhor presente que o jovem britânico podia desejar veio-lhe parar às mãos pelo seu pai. Um microfone, duas colunas e um PA. De referir que estas aquisições se revelaram decisivas para Geezer Butler, Tony Iommi e Bill Ward aceitarem Ozzy na sua banda. O que acontece daí para a frente é uma história escrita e cantada em canções e álbuns dos Black Sabbath.

Com o sucesso da banda, “Oz” foi contruindo a sua persona em palco e uma reputação bastante selvagem no que toca aos vícios relacionados com o álcool e com a droga. Em três anos o cantor passara de um rapaz sem dinheiro para comprar um par de sapatos e meias para frontman da maior banda de Inglaterra.

Paralelamente ao artista, John Michael Osbourne casou-se com Thelma Riley e teve dois filhos: Louis Osbourne e Jessica Starshine Osbourne. Sempre com muita transparência e uma grande dose de sinceridade, Ozzy admite o falhanço da relação e a injustiça das suas atitudes para com a então esposa e filhos. O mesmo admite também a veracidade de histórias tais como a do álbum dos Black Sabbath, “Vol. 4” (1972), ter sido criado do início ao fim sob o efeito de cocaína. A vida do artista consumia a vida do homem. Ou seria esta a verdadeira essência de Ozzy Osbourne?

Com o passar dos anos a sua decadência chegou a um ponto de rutura. Este foi despedido dos Black Sabbath, e como se não bastasse, o seu pai falecera nessa altura. Ozzy enfrentou, segundo ele, “o período mais negro da sua vida”. Contudo, a outra narradora deste filme, sua melhor amiga e o amor da sua vida, Sharon Osbourne, sugeriu agenciar “Oz” num álbum financiado pelo pai da produtora. Deixando a vida solitária de um quarto de hotel rodeado por caixas de pizzas, droga e álcool, o ex-vocalista dos Black Sabbath inicia a sua carreira a solo com grande estrondo! Na companhia de Randy Rhoads na guitarra, “Blizzard of Ozz” (1980) voa para os primeiros lugares do tops.

Sharon e Ozzy Osbourne

É interessante perceber o papel de Sharon num momento tão decisivo na vida de Ozzy, pois tal como este afirma “se não fosse a Sharon, eu não estaria aqui”. Contudo, sempre que acontecia algo de bom, um episódio mais infeliz acabaria por se seguir. A caminho de Orlando, Florida, Ozzy e a sua banda pararam para descansar da sua viagem de autocarro. De repente são acordados com um grande estrondo. Randy Rhoads, o jovem guitarrista de 25 anos havia-se despenhado de avião contra uma casa. As consequências foram devastadoras para Ozzy, tendo este mais uma vez se refugiado na bebida e nas drogas.

A década de 1980 foi literalmente para esquecer, visto que o próprio cantor não se lembra de mais de metade. Contudo, “The Nine Lives of Ozzy Osbourne” tenta abordar todo o espectro da vida pessoal e artística do músico nessa altura. O sucesso continuava, muito também devido às polémicas como a decapitação de um morcego em palco, algo que “Oz” admite ter-se arrependido de fazer (principalmente devido às consequências da cura).

Muitos momento cómicos são presenciados pelo espectador, como o breve diálogo no making of de Ozzy e Sharon, no qual o cantor não se lembra de a ter pedido em casamento… Para já nem falar da inalação de formigas durante a tournée de “Bark To The Moon” (1983), na companhia dos Motley Crue. Numa espiral descontrolada de eventos, Ozzy passa de uma tentativa de homicídio a uma clínica de reabilitação. Após três semanas, este demorou 45 minutos a voltar a tomar o seu primeiro cocktail. Já com Jack e Kelly nascidos, fruto do seu casamento com Sharon, o artista britânico pareceu encontrar o caminho da redenção e o seu equilíbrio. O álbum “No More Tears” (1991) trouxe de volta o melhor Ozzy.

Ozzy Osbourne

John era de novo um homem de família, contudo, um verdadeiro artista não vive sem os palcos. Com “Oz” não era diferente. Com uma revelação curiosa, “The Nine Lives of Ozzy Osbourne” revela o verdadeiro motivo da criação do festival de heavy metal “Ozzfest”. Paralelamente a isso, a família Osbourne atinge o pico da popularidade com a série de TV “The Osbournes”. Com a sua vida pessoal exposta, Ozzy chega ao ponto de conhecer personalidades como a Rainha Isabel II de Inglaterra ou a ser convidado à Casa Branca, nos Estados Unidos da América.

O documentário prossegue na mesma sintonia da vida de Ozzy, com os bons momentos a antecederem os maus, desta vez com o cancro de Sharon e a aparatosa queda do cantor britânico de uma mota. Este ficou em coma e tal como Kelly afirma: “era muito complicado, pois tinha a minha mãe nos cuidados intensivos nos Estados Unidos e o meu pai nos cuidados intensivos em Inglatera“. Essas crises encontraram todas solução, tal como toda a narrativa de Ozzy Osbourne no mundo.

Muito do arquivo utilizado nesta obra não é propriamente novo para os fãs, mas este é extremamente bem articulado com a narração dos intervenientes principais, oferecendo uma experiência imersiva a todos os que querem conhecer melhor o homem e o artista. Percebemos que as suas decisões afetaram todos que o rodeavam, mas também foi graças a eles que a solução foi encontrada. Absorvemos a cumplicidade e a intensidade da relação entre Ozzy e Sharon, dando a entender que esta aceita o marido como ele é, influenciando-o a ser um melhor ser humano e, consequentemente, um melhor artista.

Ozzy ao vivo

Mais recentemente, Ozzy foi diagnosticado com uma variante de Parkinson, algo que não o faz abandonar a música, sabendo que tem de continuar a trabalhar até não poder mais, pois nada lhe dá mais prazer do que uma multidão de fãs. Com declarações de artistas como Ice-T, Marilyn Manson ou Rob Zombie (para além dos Black Sabbath), todos destacam a personalidade pura de Ozzy Osbourne e a sinceridade que sempre o acompanhou ao longo da carreira, quer nos bons quer nos maus momentos. O próprio “Oz” vê e comenta a sua vida em retrospetiva, como um espectador que poderia estar sentado ao nosso lado.

“The Nine Lives of Ozzy Osbourne” é uma pintura bastante completa de quem realmente é John Michael Osbourne. O “louco mais querido que alguma vez podem conhecer“, o “verdadeiro Iron Man“. Um entertainer que veio do nada e conquistou o mundo com a sua pureza, com a sua alegria em criar música. Sabemos que todos temos demónios e que a fama os pode despertar, levando a ter comportamentos auto-destrutivos – com “Oz” não foi diferente. O documentário é bastante transparente pela qualidade das suas fontes, imprimindo dinamismo e intensidade às histórias, resultando na tal montanha-russa de acontecimentos na vida do eterno “Príncipe das Trevas”.

Para todos os fãs de Ozzy Osbourne, Black Sabbath, heavy metal e música, este é um filme a não perder.

Rating: 3.5 out of 4.

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