“As massas sempre estiveram presentes na história da humanidade, mas não eram massas indóceis, massas que não aceitavam mirar-se no exemplo dos notáveis. Homens medíocres, mas convencidos que se bastam; homens limitados que se julgam guias da sociedade; homens cujo conhecimento se limita a um estrito campo do conhecimento, mas que se julgam sábios; homens que acreditam que o mundo está aí pronto para ser gozado e que nenhum esforço extra é necessário para melhorar a vida das pessoas”
“Ortega y Gasset e o Nosso Tempo”
O livro do filósofo José Maurício de Carvalho, “Ortega y Gasset e O Nosso Tempo” (FiloCzar, 2016, 465 p.) é um tratado sobre o raciocínio no pensamento do filósofo espanhol Ortega y Gasset (1883-1955). O tratado teve prefácio de Constança Marcondes César, da Universidade Federal de Sergipe. Composto por 12 capítulos bem ordenados e sequenciais, num plano lógico e profundamente didático, o filósofo José Maurício passeia pela História da Filosofia, analisando a génese do pensamento dito racional dos gregos do século V a. C à rutura no pensamento moderno exercido por René Descartes e Leibniz.

Analisando a História da Filosofia, só mais tarde sistematizada por Hegel (1770-1831), Maurício aborda a filosofia de José Ortega y Gasset e a sua compreensão do mundo de então, tratando a vida e as suas circunstâncias. Estudando um filósofo e uma época tão próxima a nós, José Maurício mantêm-se fiel a um dos seus princípios mais notáveis: mesmo tendo a História do Pensamento Ocidental e Filosófico na sua cabeça de pensador, atua de modo a discutir os problemas do seu tempo. Do seu tempo e com as suas circunstâncias.
Lendo o seu atual livro, relembrei-me do período em que fui seu aluno. Obtido da leitura, o meu reconhecimento a algumas das suas características: clareza, precisão, objetividade, erudição sem ser pedante e elegância ao escrever.
Para aqueles que pensam que filosofia é coisa fora do nosso tempo, seguem algumas discussões propostas por José Maurício ao estudar Ortega y Gasset: a vida de cada um de nós, abordando as já ditas circunstâncias; conhecimento e verdade; a crise de valores nos dias atuais; o afastamento das pessoas de bem da política; ser e parecer ser (qualquer observador de redes sociais entende isso); o dever de nos tornarmos melhores para um mundo melhor e a triste constatação do conceito de homem massa, entendido por Gasset e corroborado por Maurício como o homem medíocre, afastado dos seus melhores princípios.
Como estudioso de Filosofia, confesso que somente agora travei conhecimento com as ideias do espanhol. Através do livro do Professor Maurício, percebi que a verdadeira autoajuda não está em dropes de felicidades mas sim num chamamento à consciência em cada um de nós (um passo além do existencialismo francês de Sartre e Camus). Como propedêutica aos egressos de Filosofia, indico o livro. Pois terão uma aula-magna com um professor distinto.

Com pensamento claro e moderno, José Maurício insere-se no rol dos guias que nos indicam setas, rotas, caminhos. Com os já formados e profissionais da área, propicia uma conversa de alto nível. E particularmente, fez-me recordar das lições de Kant, Schelling, Hegel e da tese de conclusão de curso, sobre “A Doutrina da Ciência” em Fichte, em que tive a honra de tê-lo como orientador.
“Ao referir-se à vida como o problema radical do filosofar, o filósofo rejeita o entendimento do filósofo alemão Martin Heidegger de que o componente essencial da vida é a angústia. Se a tanto se resumisse viver, o homem não desejaria continuar a fazê-lo, mas a vida não é, essencialmente, desespero e angústia. Existe um lado trágico na existência, tristezas e dificuldades nos acontecem, isto é certo, mas a vida é também esportiva, uma atividade alegre e jovial.“
Trecho do livro
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