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Nos dias que correm é relativamente fácil (com uma ou outra exceção) saber o que esperar dos grandes lançamentos distribuídos pela Sony (denominados no jargão gaming por jogos triple A). É com muito orgulho, e fazendo isso uma das suas principais armas para vender consolas, que a Sony lança os jogos frequentemente como exclusivos nas suas consolas, uma estratégia que tem dado os seus frutos.

Os fãs da PlayStation que investem nestes jogos sabem que poderão esperar uma história empolgante, jogabilidade entusiasmante, frequentemente recaindo num mundo aberto que o jogador pode explorar ao seu ritmo, com missões secundárias, colecionáveis e inúmeros segredos escondidos. Tem sido assim que muitos destes jogos da Sony se têm apresentado, com exemplos recentes que incluem “God of War” (2018), “Spider-Man” e “Miles Morales“, “Days Gone” ou “Ghost of Tsushima“. Todos estes apresentam características semelhantes de design e presenteiam o jogador com sentimentos de excitação e entusiasmo.

“Horizon Zero Dawn”, outro dos exclusivos lançados pela Sony (desenvolvido pela Guerrilla Games) faz também parte da lista de exclusivos da distribuidora dos últimos anos (entretanto também lançado para PC). No meio de outros grandes sucessos de vendas e crítica, “Horizon Zero Dawn” pode parecer só mais um dos bons jogos em que a Sony tem investido, mas a verdade é que, assaz discretamente, acaba por ser um dos melhores.

Aloy, protagonista de “Horizon Zero Dawn”

A história de “Horizon Zero Dawn” é passada num mundo pós-apocalíptico, algures no século 31. O cenário do jogo retrata uma localização onde anteriormente foram os Estados Unidos e onde os humanos vivem (ao contrário do que poderia ser de esperar) em diversas tribos com tecnologia primitiva. Apesar de tudo, criaturas robóticas gigantescas dominam praticamente todo o ambiente, sendo vestígios tecnológicos de uma civilização tecnologicamente avançada mas já extinta, a que os atuais humanos se referem como os “antigos”.

A protagonista da narrativa é Aloy, expulsa da tribo Nora logo à nascença e criada por outro ex-membro da tribo chamado Rost, que acaba por se tornar a sua principal figura paterna. Ainda em criança, Aloy encontra acidentalmente numas ruínas um artefacto dos “antigos”, um objeto de Realidade Aumentada que lhe dá capacidades especiais de perceção, denominado Foco. Com uma grande curiosidade e determinação em saber quem é a sua mãe biológica, Aloy convence Rost a treiná-la durante vários anos, para que possa participar já em adulta na Prova, uma competição que permite a qualquer um (mesmo alguém expulso) tornar-se membro do exército dos Nora.

Embora com grande desconfiança dos elementos da tribo, Aloy acaba por ganhar a competição e um lugar no exército e na tribo Nora, pensando que será algo que lhe poderá trazer respostas sobre o seu passado. Contudo, no dia da competição os Nora são atacados por uma tribo rival e Aloy descobre que ela própria era o alvo do ataque, dadas as suas parecenças com uma cientista do “Mundo Antigo”. Já depois da tragédia, é atribuído a Aloy o papel de Exploradora da tribo e a missão de abandonar as terras sagradas dos Nora para descobrir a origem da ameaça.

“Horizon Zero Dawn” passa-se num mundo pós-apocalíptico onde humanos e máquinas coabitam

Embora o cenário do mundo pós-apocalíptico tenha sido já retratado de praticamente todas as formas e feitios em vários tipos de entretenimento, “Horizon” consegue retorcer um pouco a temática, por apresentar um mundo onde os efeitos do apocalipse, de tão distantes, não são sequer lembrados pelos habitantes, podendo quase ser chamado um mundo “pós-pós-apocalíptico”. É precisamente no worldbuilding que recaem muitas das principais características positivas do jogo, sobretudo pela sua capacidade em desenvolver os componentes core da experiência em torno do seu mundo aberto, ao invés de, como não é nada raro, o open world ser simplesmente um chamariz para o jogo e uma forma de acrescentar mais algumas horas à história.

Sendo, como já referido, o mundo dominado por máquinas hostis para com os humanos (muitos dos quais nunca abandonam sequer as bases das suas tribos) é nos confrontos entre Aloy e estas mesmas criaturas que recaem as principais mecânicas do jogo e onde o jogador irá despender mais tempo. É por isso mesmo um regalo verificar que o sistema de combate é bastante dinâmico e profundo, onde o jogador pode usar uma variedade de armas e armadilhas para derrotar os vários tipos de máquinas que habitam o ambiente. O resultado é um conjunto de encontros que poderão ser abordados de formas muito diferentes por jogadores com estilos distintos.

Além do combate deliberado e complexo (mesmo para jogos AAA), “Horizon Zero Dawn” prima também pela variedade de inimigos, aproveitando o facto de estes serem maioritariamente não humanos para lhes dar características bastante distintas. Nas cerca de 25 máquinas que existem em diferentes localizações e pertencentes a biomas distintos, cada uma é suficientemente diferente para que o jogador necessite de conhecer bem as suas características, padrões, comportamentos e fraquezas (ajudado também pelo uso do Foco de Aloy) para que os combates possam ser ultrapassados.

No jogo é possível combater um variadíssimo conjunto de máquinas, usando um sistema de combate com uma complexidade acima da média

Ainda que “Horizon Zero Dawn” seja, no papel, uma ideia criativa e bem executada, jogadores mais habituados a jogos com elementos mais cinemáticos e focados na história poderão torcer o nariz à forma como o jogo interseta a sua narrativa principal e as missões secundárias, fazendo uso de diálogos um tanto ou quanto insípidos ou ângulos de câmara totalmente desinspirados e genéricos. Outro dos aspetos algo negativos do jogo é a sua incapacidade para deixar de lado elementos pertencentes ao cânone dos jogos em mundo aberto, como campos inimigos ou as chamadas “torres Ubisoft”.

Não sendo um jogo perfeito, “Horizon Zero Dawn” sabe perfeitamente quais são os seus pontos fortes e fracos. O jogo tende a dar mais relevância às suas forças, como o combate e a exploração, e a fazer destes as suas principais apostas. O resultado é, por exemplo, um dos raros jogos em mundo aberto onde a procura por artefactos, logs de som ou documentos escritos é constantemente interessante, em vez de se tornar rapidamente num frete. Embora seja um jogo que possa exigir do jogador mais de 50 horas, poucos serão aqueles que, no fim do mesmo, não estarão em pulgas para jogar a recém-estreada sequela “Horizon Forbidden West”.

Disponível em: PS4, Windows

Luís Ferreira

Rating: 3.5 out of 4.

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One thought on “Jogo: “Horizon Zero Dawn” – Fórmula do mundo aberto bem aplicada

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