Nascido em Cucujães, em 1959, Paulo Neves é escultor e pintor. Sendo considerado um dos nomes mais conhecidos da escultura portuguesa contemporânea com referência internacional, Paulo é autodidata, embora tenha frequentado a Escola de Belas Artes do Porto, e tem trabalhado em escultura desde os dez anos de idade, altura em que pegou na lenha para o fogão e nas ferramentas do pai e esculpiu bonecos nesse material. Apesar de esculpir em madeira, pedra e bronze, é com a primeira que mais gosta de trabalhar.
A sua obra transpira a sua ligação às raízes, a generosa floreta na vila de Oliveira de Azeméis dá-lhe a matéria-prima e a sua arte espelha esse reencontro com a natureza. “La nature est certes une source d’inspiration, mais elle est da vantage pensée comme un espace autorisant une expression sans limite (…) que ce soit une motte d’erbe ou une ferme artificielle, à chaque fois l’oevre, par sa seule presence au sein de l’espace d’exposition, nous oblige à penser autrement notre rapport à la nature.” (Denis-Morel, p. 9).
Os painéis de madeira marcados com círculos em linhas paralelas, denominador comum com as esculturas que nasceram da manipulação da madeira de castanho com recurso a uma motosserra. O escultor trabalha como se estivesse a fazer um retrato de uma grande família, enquanto conta uma história, uma longa história. As várias peças apresentam algumas variações, como uma documentação de uma pequena metamorfose, a peça inicial é como se fosse moldada com o passar do tempo. Apesar de cada uma ser diferente, é o buraco presente em todas que funciona como elo.
Na sua obra, tudo está ligado. “O artista depara-se com o que a Natureza lhe oferece, no ar livre dos dias, abraçando o seu dom, admirando as suas formas brutas, adivinhando-lhe a sua origem e essência primeira. Ele tem um desejo desmedido de a transformar, como um deus impetuoso, mas no fim, quando a obra se apresenta, parece que nada foi violado, forjado dela, a não ser a sua própria matéria.” (Ochôa, p. 223)
A obra de Paulo Neves já esteve em exposição em diversos lugares como no Fórum da Maia / Centr’Arte, na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia, e no Centro Cultural de Cascais. O escultor será ainda homenageado na 4.ª Bienal Internacional de Arte Gaia 2021, evento que terá lugar em três pavilhões da antiga Companhia de Fiação de Crestuma, em Lever, entre 17 de Abril e 20 de Julho.
Bibliografia
Denis-Morel, Barbara, (2010) “Une idée de Nature? L’écosystéme exposé”, in Écosystémes – Biodiversité et art contemporain, Publications de L’Université de Provence.
Ochôa, Elisa (2012). A natureza artística ou a arte do natural na escultura de Paulo Neves, in Atos do III Congresso Internacional Criadores Sobre outras Obras – CSO’ 2021. Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes, Lisboa.
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