A história de “Marvel’s Spider-Man” iniciou-se por volta de 2014 quando um dos membros da direção da Sony visitou o afamado estúdio de videojogos Insomniac Games para fazer uma proposta ao seu CEO. O projeto seria o desenvolvimento de um videojogo baseado numa personagem da Marvel Comics, uma oferta que inicialmente foi recebida de forma defensiva pela direção da Insomniac, que, até então sempre trabalhou com propriedade intelectual original (conhecida sobretudo pelos jogos das séries “Spyro” e “Ratchet & Clank“), embora tenha havido uma grande excitação por parte dos desenvolvedores.
A Marvel permitiu à Insomniac que desenvolvesse uma história original usando uma das suas personagens (a Marvel não quis que o jogo fosse uma adaptação direta de filmes ou bandas desenhadas já existentes), tendo a Insomniac escolhido para seu protagonista Peter Parker e o seu alter-ego Spider-Man. Após um período de desenvolvimento de cerca de quatro anos, “Marvel’s Spider-Man” foi lançado em 2018 como exclusivo PlayStation 4 e recebido com grande antecipação pelos fãs do super-herói. Depois de dezenas de videojogos sobre o Homem-Aranha (com início em 1982 através do jogo homónimo lançado para a Atari), esta nova aposta foi recebida com a exigência de trazer algo diferente.

Tal como tem sido frequente com os exclusivos mais sonantes da Sony, “Marvel’s Spiderman” esforça-se por construir uma história sólida e que valha por si só, algo que, neste caso, aproveita várias personagens já estabelecidas do universo Spider-Man. Quando a narrativa se inicia, Peter Parker já é Spider-Man há vários anos. Enquanto que Spider-Man se esforça por lidar com o crime em Nova Iorque com a ajuda da comandante da polícia Yuri Watanabe e da sua ex-namorada jornalista Mary Jane Watson, Peter Parker trabalha como cientista com o seu amigo e mentor Dr. Otto Octavius.
Depois de uma primeira missão em que Spider-Man ajuda a polícia a capturar o criminoso Wilson Fisk (que num jogo de menor escala poderia ser bem a missão climática), um gangue denominado Demons começa a aterrorizar a região de Manhattan e a trabalhar numa arma biológica chamada Devil’s Breath. No seu outro trabalho, Peter continua a ajudar Dr. Octavius a investigar o desenvolvimento de membros prostéticos até Norman Osborn (candidato a mayor e ex-parceiro de Octavius) retirar o seu financiamento para o pequeno laboratório onde Peter trabalha.
Seguindo uma tradição recente nos jogos deste super-herói da Marvel, o jogo passa-se em Manhattan num estilo mundo aberto, que permite aos jogadores não só escolher quando completar as missões principais e secundárias do jogo, mas também resolver crimes que vão acontecendo na cidade, encontrar diversos tipos de colecionáveis, tudo enquanto usam as suas teias para viajar pela cidade.

A arma número um deste “Marvel’s Spider-Man” é exatamente o quão satisfatório é navegar pela cidade usando os lançadores de teias e a capacidade de correr nas paredes dos edifícios. É perfeitamente notório o esforço alocado a esta mecânica de navegação que, por um lado, pretende ser acessível (pois a maioria dos objetos são automaticamente evitados e é impossível morrer através de quedas), e, por outro lado, requer aos mais dedicados um esforço adicional para dominar, dado que, mais do que noutros jogos, a velocidade é controlada pelos momentos em que são lançadas e largadas as teias, onde têm que ser bem medidos os momentos de impulso.
Além da navegação pela cidade, a maior parte das missões incluem um grande número de momentos de combate que, num nível simplista, pode ser reduzido a três botões: um para ataques físicos, outro para ataques com teias e o terceiro para desvios. Apesar dos controlos elementares serem reduzidos, existem dezenas de combinações de ataque e movimentos que podem ser usados (muitos dos quais vão sendo desbloqueados com o passar do jogo). Se se defendia que a navegação era a arma número um do jogo, a sua arma número dois terá que ser o quão agradável é o combate.
Aliando a proeza de conseguir fazer o jogador sentir o poder do Spider-Man (algo muito valorizado em jogos de super-heróis), raro é o momento em que o jogador se fartará dos sucessivos encontros com inimigos. É uma façanha curiosa do jogo, pois, fazendo uma análise global, os momentos de combate (que podem ocorrer nas missões principais, secundárias ou nos crimes que acontecem dinamicamente) são porventura excessivos e com pouca variedade, algo que seria uma falha grave não fosse o já referido combate extremamente refinado. Durante as missões principais acontecem também esporádicas boss fights, que, embora não ao nível de jogos focados nestes duelos, apresentam desafios excitantes, tensos e cativantes.

Por ventura para adicionar alguma variedade à jogabilidade, e servindo como limpa palatos, existem dois tipos adicionais de secções jogáveis. Momentos em que Peter Parker tem que resolver puzzles relacionados com as suas investigações no laboratório (que podem, contudo, ser ignorados, se o jogador assim o preferir) e secções de combate furtivo onde são controladas outras personagens que não Peter Parker (algo que não será detalhado para não estragar a surpresa).
Sendo um jogo que cumpre praticamente todos os requisitos dos grandes lançamentos AAA, “Marvel’s Spider-Man” fica apenas a um passo de poder ser considerado um jogo exímio. Alguma preocupação em fazer render o preço do jogo enche várias secções com demasiadas tarefas corriqueiras, embora a qualidade da história principal desculpe esta falha cada vez mais comum nas desenvolvedoras de renome.
Fazendo uma análise global, “Marvel’s Spider-Man” não revoluciona o género dos super-heróis, um género que, no geral, vai ficando cada vez mais fatigado com lançamentos desinspirados. Ainda assim, este jogo tem a sagacidade para identificar a potencialidade dos videojogos em contar histórias de super-heróis. Isto porque, mais do que em qualquer banda desenhada, filme ou jogo sobre o alter-ego de Peter Parker, nesta aventura é possível sentirmo-nos como se fôssemos o verdadeiro Spider-Man.
Disponível em: PS4, PS5 (remaster)
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