O que seria pior: ser aterrorizado por figuras demoníacas ou ter terceiros a contestar a fonte desse horror? Esta é a questão central que permeia a narrativa de “The Conjuring 2 – A Evocação“, título em português, a antecipada sequela de “The Conjuring“, que retoma o subgénero da casa assombrada sem grande gana de diferenciação. Ainda que o fator derivação tenha o seu peso relativo, algo muito mais severo passa por uma execução duvidosa, que se traduz num aborrecimento progressivo. Tendo o filme duas horas e catorze minutos, estão a ver o tempo que há para desenvolver este amargo estado de espírito…
Depois de um prólogo que pauta alguns eventos do horrível caso de Amytville, Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga) decidem fazer um hiato das suas investigações paranormais, por iniciativa de Lorraine. Uma visão mortífera, cortesia de um demónio infame vestido com um hábito religioso, preconiza que Ed tem os dias contados. E em nada ajuda o facto deste último estar a pintar essa mesma entidade maligna numa tela. Um começo sólido que evoca sentimentos de insegurança, mesmo em plena luz do dia.

Do outro lado do oceano, no norte londrino, os acontecimentos apresentam camadas mais taciturnas. Peggy Hodgson é uma mãe solteira paupérrima que tem ao cuidado quatro filhos – Janet (Madison Wolfe), uma menina de onze anos, a sua irmã mais velha, Margaret (Lauren Esposito) e dois irmãos mais novos, Johnny (Patrick McAuley) e Billy (Benjamin Haigh), que é gago. Não bastassem os severos problemas financeiros e uma casa ruinosa de dois pisos, a família Hodgson está assombrada por um espírito indesejado, que toma posse de Janet. O caso é baseado na história real conhecida como o Poltergeist de Enfield e apesar dos votos de contenção, Ed e Lorraine partem em auxílio dos desesperados.
A premissa de uma família em apuros que recorre ao casal para analisar o fenómeno domiciliar é recuperada do capítulo anterior, com a pequena variante do sotaque britânico. Ambos os filmes são realizados pelo maestro do género, James Wan, que habitualmente tem destreza na batuta. Desta feita, o resultado final é inferior, o que não significa que “Conjuring 2” seja totalmente desprovido de méritos.
O contexto social onde a família está inserida acrescenta particularidades à narrativa. Tanto para os céticos como para os investigadores, é plausível que os relatos horrorosos da família não passem de uma cilada elaborada para gerar atenção e financiamento para reabilitar a casa. Quiçá, os distúrbios da criança não sejam um mero reflexo maquiavélico da ausência do pai e, como tal, em nada estão relacionados com intervenções endiabradas.

Estas possibilidades oferecem um interesse argumentativo, mas não apuram o suspense ou o mistério, visto que é do conhecimento explícito da audiência que a origem dos eventos é paranormal. Além destes fatores, a palete de cores azulada e o ambiente espacial austero estabelecem a atmosfera doentia ideal à evocação do terror. Em linha de raciocínio, as atuações são prestáveis e integram o cenário com alguma facilidade. Os destaques naturais vão para Wilson e Farmiga, que acrescentam uma tremenda dose de charme mesmo quando a prosa insiste em fatigar.
Os jumpscares, ao contrário do seu antecessor, são mais frequentes e barulhentos, assim como menos engenhosos – o que provoca desinteresse. Não fomentam propriamente frustração porque ainda há uma tentativa de criar antecipação e algum envolvimento com a cena, mas, em última instância, acabam por ser esquecíveis. Uma combinação fatal quando emparelhada com uma duração temporal para lá do necessário. Se podia reduzir um demónio ou cortar um subenredo para ser mais coeso? Perfeitamente.
Mesmo as referências cinematográficas que regem as sequências provêm do trabalho de cineastas como William Friedkin, Steven Spielberg ou Tobe Hooper. Isto é, não existem propriamente muitos ângulos inovadores que Wan e companhia estejam a tentar mastigar. O fator que determina o sucesso de “The Conjuring 2” é apenas um: a execução convincente de uma história conhecida. E nessa matéria, inconstância é a palavra de ordem. Nada que impeça o Universo onde o filme se insere de continuar a transpor para o grande ecrã os casos controversos encabeçados pelos protagonistas.
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