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Numa época pré-Internet, computador ou telemóvel, tínhamos talvez mais tempo para nos deleitarmos com as brincadeiras, os furos afazeres e a leitura, que junto à TV e à rádio nos distraiam do tédio da vida levada. A introdução deste texto poderá sugerir um simples saudosismo, mas a coisa vai além. Lembro-me aqui com saudades das descobertas dos primeiros livros, primeiro os infantis (“O Patinho Feio“, “Soldadinho de Chumbo“, entre outros) e, depois os infanto-juvenis. Destes últimos, o senso de aventura imperava em clássicos como “O Génio do Crime“, de João Carlos Marinho, o meu preferido.

Mas aqui irei tratar da obra “Furo de Reportagem” (Editora Saraiva, 9.ª edição, 2003, 95 páginas), de Roberto Jenkins de Lemos, com ilustrações de Marcelo Martins. Nesta história, um grupo amigos é responsáveis por um jornal de escola, e estes estão ansiosos pela matéria a ser feita pelo sempre retardatário Chicão. Este preocupa-se com o desaparecimento de uma vizinha, D. Margô e relata o facto aos amigos.

O jornal destinava algum espaço a assuntos da vizinhança, mas nada que não fosse trivial. Ficamos a saber tratar-se de uma cidade pequena, e foi com saudade que me lembrei da minha cidade de infância, Rio Espera, da província Minas Gerais. O livro traz até um mapa rudimentar, mas dá para se situar.

Capa do livro “Génio do Crime”, da autoria de João Carlos Marinho

Uma senhora desaparecer numa cidade deste porte só pode levantar suspeitas, ainda para mais um estranho numa Kombi (automóvel semelhante a um furgão) aparece e diz que a D. Margô foi viajar e não avisou ninguém. E ela que não largava o seu gato por nada. “Neste angu tem caroço”, e é claro que os nossos pequenos detetives irão investigar, contando com o apoio do pai do Chicão, que tem um amigo que já foi da polícia.

As amizades pueris de Laura, Tereza, Décio e Marcos, mais o nosso protagonista, as inocências e os sonhos demonstrados no enredo, tudo isso nos vai embalando e fizeram-me reviver sensações. A resolução do mistério vai se esclarecendo, mas antes coisas estranhas acontecem na casa sempre fechada da senhora. À tardinha, uma mulher coloca para lavar vários lençóis e os miúdos ficam com “a pulga atrás da orelha”. Porquê hábitos tão estranhos?

Chicão inicia a investigação, que termina com a polícia e os media nacionais a realizar a cobertura da organização criminosa que sequestrava bebés para os vender no mercado negro, para o fornecimento de órgãos. Observamos que o tema é pesado. Chicão e os seus amigos viram celebridades da noite para o dia, e quem diria que apareceriam nos principais jornais do país e no jornal da televisão em horário nobre? Sacada genial do autor que finda o livro plantando mais um mistério, pois um sapateiro não abrira o seu comércio há já alguns dias e todos ficamos a questionar os motivos deste desaparecimento.

Li e foi impossível não remeter à infância. Que lamentável hoje os miúdos estarem a perder o interesse pelos livros, ficando como zombies em frente às telas dos telemóveis! Nada contra os aparelhos, mas acredito que brincadeiras mais lúdicas e pueris acabam por lhes proporcionar uma melhor qualidade de vida, penso inclusive que esta primeira resenha aqui n’OBarrete poderá ser o ponto de largada para esporadicamente retornarmos a estas análises, pois quem sabe nós adultos não estejamos em falta ao não oferecer coisas boas? O que acham vocês disto?

No final de “Furo de Reportagem”, o autor esclarece: “Escrever para adolescentes é uma grande responsabilidade, pois eles conferem tudo o que leem. E gravam os mínimos detalhes. Mas é muito gratificante ser lido por jovens.

Marcelo Pereira Rodrigues

Rating: 2.5 out of 4.

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