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Quem diria que o mítico mestre do cavaquinho, Júlio Pereira, fora um dos músicos a impulsionar o rock progressivo em Portugal. Depois da sua breve passagem pelos pioneiros Petrus Castrus, Júlio Pereira embarcou num último trabalho rock em 1975, juntamente com outro músico, Carlos Cavalheiro, membro da banda Alarme. Foram ambos desenterrar o projeto hard rock chamado Xarhanga, de 1973, e editaram dois singles para um último esforço.

O disco, “Bota Fora”, apresenta-se como uma forte vertente política, fortemente marcada pelo socialismo e pelo comunismo. A temática aborda principalmente a situação de Portugal no pós-25 de Abril, nomeadamente as colónias portuguesas, as consequências da Guerra Colonial (1961-1974), e o Movimento Popular de Libertação de Angola. As letras, ao contrário da música, são da autoria de vários músicos como Fausto, José Mário Branco, Sérgio Godinho, e ainda do poeta Manuel Alegre, com exceção da última faixa, autoria do nosso mestre Pereira.

O músico, compositor, multi-instrumentista e produtor português Júlio Fernando de Jesus Pereira ao vivo no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, em 1982 / cavaquinhos.pt

No lado musical, Júlio Pereira é o grande mastermind por de trás de tudo. Não só o mestre toca virtualmente quase todos os instrumentos (os vocais ficam ao encargo de Carlos Cavalheiro) como compõe toda a música. Essa é de qualidade excecional, pois exibe uma exímia técnica musical e uma originalidade fulcral. As nove faixas são relativamente curtas para as exigências do prog rock, rondando entre os três e os quatro minutos, que vão diretas ao assusto sem deixar nada de fora. A sonoridade é fortemente influenciada por bandas como os Emerson, Lake and Palmer, Genesis, Petrus Castrus, assim como alguma música africana. Tanto as teclas com as guitarras são o foco das canções no geral.

Em suma, Bota Fora é uma pérola do nosso rock, um disco obscuro que subtrai o prog rock feito na década de 1970. O mestre Júlio Pereira e o músico Carlos Cavalheiro deixam uma entrada única carregada de boa música e arranjos, que nunca deixam de entreter. Porém, a letra acaba por estar demasiadamente em volta de um só tema, ficando a qualidade conceptual aquém da excelência musical. O que é agora um LP raro e caríssimo, foi na altura um dos pilares do rock progressivo nacional.

João Filipe

Rating: 3 out of 4.

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