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Porque A Arte Somos Nós

Há um sentimento de admiração nos segundos finais que premiam “Shutter Island”: tanto por ser um thriller difícil de prever, como pelas sensações de medo por ir seguindo em frente. Desde o início, vai havendo uma melodia que cada vez mais se vai fazendo sentir ao ritmo da pulsação dita cinematográfica; desta forma, o espectador quase que emerge dentro da narrativa, como alguém que vai apreciando tudo ao lado dos protagonistas e que, por isso, vai desenvolvendo uma opinião gradativamente irracional. Estamos a falar de um filme cujo epicentro histórico sobressai sobre 1954, em Boston, numa pequena ilha, Shutter Island (título original).

Mas, afinal, o que tem esta ilha de especial? Nela existe o centro de psiquiatria mais ousado que existe, onde homens e mulheres estão separados em blocos diferentes, existindo um 3.º bloco com os ditos “seriamente problemáticos”. A eficácia deste centro passa por estudar ao pormenor o paciente e ter como prevalência métodos inovadores e audazes.

Neste sentido, o que espoleta verdadeiramente a narrativa tem que ver com o alegado desaparecimento de uma das pacientes e, portanto, o agente Teddy Daniels (Leonardo Di Caprio), juntamente com o seu novo parceiro Chuck Aule (Mark Ruffalo), são seleccionados para esta missão. Lá, vão-se apercebendo de coisas aparentemente sombrias e o grande clímax da trama vem, precisamente, com a resposta à pergunta: qual era, de facto, o grande mistério de Shutter Island?

Leonardo DiCaprio

O filme brinda-nos uma banda sonora de excelência, que vai elevando a obra emocionalmente, sendo um espelho das vicissitudes e epifanias da mente de Teddy, que vai ficando cada vez mais confundido neste “universo”. Além de ser brilhantemente dirigido por Martin Scorsese, toda esta história nasceu com a novel de Dennis Lehane, e pela adaptação inteligente e certeira de Laeta Kalogridis.

Algo que deve ser enaltecido vezes sem conta tem que ver com o marco fascinante de este filme ter sido lançado em 2010, no mesmo ano que “A Origem“, o que constitui uma coincidência fascinante de dois filmes com abordagens brilhantes à mente humana no mesmo ano. Há um certo sentimento de desalento ao verificar que “A llha do Medo” não teve qualquer nomeação para os Oscars, mas pode-se afirmar que muita dessa “culpa” se deve ao facto de ter sido lançado em Fevereiro, mesmo em cima da cerimónia.

Além de toda a brilhante “aula” de psicologia que constantemente vai sendo dada, neste filme também vemos como por vezes a mente nos engana nos pormenores mais supérfluos, o que não só revela que a esta é o nosso bem mais precioso – e, talvez por extensão, incontrolável – e também que as histórias que temos na nossa mente, se não forem todos os dias cultivadas, podem muito bem perder-se no tempo, ou talvez não corresponder à realidade. Daí a real importância da memória, uma das outras grandes facetas deste belo filme.

Desta forma, e agora fazendo, de novo, um enquadramento mais conciso com a narrativa, tudo isto aliado à experiência de trauma que o agente Teddy teve por ter estado na guerra e por ter sido obrigado a matar uns quantos inocentes, nas suas veias o que reina é uma violência profunda e uma dor irreparável pela morte da sua esposa, alegadamente por um incêndio provocado por um vizinho, que iria parar, precisamente, à ala psiquiátrica de Shutter Island (alegadamente), e com isto temos um dos muitos motivos pelos quais Teddy aceitou participar neste caso.

Além disso, diz-se que o farol da ilha serve de palco a experiências cerebrais dos pacientes, e isso também constitui um dos grandes mistérios de todo este drama. Drama este que, acima de tudo, inspira suspense e vive de contradições, dessas de que a vida está cheia e que, metaforicamente transpostas para o universo que aqui se propõe, dão azo a inúmeras consciencializações.

Será que Teddy vai descobrir o que realmente se passou (e se passa) nesta ilha e fazer as pazes com o seu passado? É essa a pergunta que fica, precisamente outra das mensagens e morais fortes do filme: “O que seria pior? Viver como um monstro ou morrer como um bom homem?

Tiago Ferreira

Rating: 3.5 out of 4.

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