José Miguel Silva, nascido em maio de 1969, é um poeta e tradutor natural de Vila Nova de Gaia. Apesar de ainda ser um autor algo obscuro, a sua obra tem vindo a ser estudada no âmbito académico e a ganhar algum reconhecimento, dando-lhe o estatuto de um dos maiores e mais importantes poetas portugueses dos últimos 20 anos.
Dono de uma língua afiadíssima marcada pelo sarcasmo e ironia, José Miguel Silva tem-se firmado, ainda que discretamente, como poeta de uma implacável consciência crítica ao globalismo e capitalismo, o que o liga, por um lado, ao comprometimento estético de Jorge de Sena, e por outro, ao humor de Fernando Assis Pacheco.
Para além disso, a sua poesia também se relaciona com o cinema, a sua filmografia passa por Bergman até Kurosawa, concentrando-se sempre no valor emocional de cada filme, incluindo até a épica final de 1987 entre o FC Porto e Bayern de Munique. O seu estilo ainda guarda uma impressionante perícia no manuseio da métrica, que dão aos seus poemas um ritmo e fluidez que fazem lembrar a “naturalidade calculada” de mestres como António Franco Alexandre.
A sua estreia acontece em 1999 com “Sino de Areia“, livro que inclui alguns poemas a partir de filmes nomeadamente do cinema japonês, a que se seguiu “Ulisses já não mora aqui” em 2002. Durante a década seguinte, José Miguel Silva ainda lançaria, pela editora Relógio d’Água, “Vista para um pátio seguido de Desordem” (2003), “Movimentos no Escuro” (2005), “Erros Individuais” (2010), além de “Walkmen” (2008), escrito a quatro mãos, com Manuel de Freitas, pela editora &etc.

Recentemente lançou pela editora Averno mais dois livros, “Serém, 24 de Março” (2011) e o seu último livro de poesia “Últimos Poemas” (2017), sobre o fim da literatura, da civilização industrial e da espécie humana, que parece fechar definitivamente a sua obra.
José Miguel Silva vive hoje na pequena cidade de Serém, em Aveiro, onde trabalha como tradutor para a editora Relógio d’Água, tendo já traduzido para o português, autores como Virginia Woolf, James Joyce, Marshall McLuhan, William Shakespeare e Hannah Arendt. Mantém ainda o seu blog intitulado “Achaques e Remoques“, onde costuma ocupar-se com o iminente colapso da nossa sociedade.
Fontes
EIRAS, Pedro (2012). Com os punhos fechados. O cinema em José Miguel Silva, in Aula de los médios, Poesía, Cine y Fotografía en el Seminario Permanente Arcadia Babélica, Ediciones Universidad de Salamanca;
FERREIRA, Vítor (2017). José Miguel Silva, in A Europa face a Europa: poetas escrevem a Europa. http://aeuropafaceaeuropa.ilcml.com/pt/verbetes/jose-miguel-silva/;
MACIEL, Sérgio (2017). XANTO | Consciência do cadafalso (sobre ‘Últimos poemas’, de José Miguel Silva), por Pádua Fernandes. https://escamandro.wordpress.com/2017/09/27/xanto-consciencia-do-cadafalso-sobre-ultimos-poemas-de-jose-miguel-silva-por-padua-fernandes/;
MEXIA, Pedro (2005). Uma estética da decepção, in Diário de Notícias. https://www.dn.pt/arquivo/2005/interior/uma-estetica-da-decepcao-631674.html;
RAMALHOSA, Vítor Bruno Dantas (2016). Não sei se a culpa é minha ou de ninguém: a poesia política de José Miguel Silva, dissertação de mestrado, Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
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