“Monamour” começa com uma cena que irá ditar o desenvolvimento da narrativa: sexo. É certo que pôr as coisas desta forma é bastante insípido, contudo, apesar de certos aspectos estéticos serem deveras interessantes ao longo da obra, a verdade é que a nível de profundidade e riqueza de argumento o filme deixa bastante a desejar.
Estreado em 2006, o filme é escrito e realizado por Tinto Brass, cineasta italiano que depois de começar no cinema como assistente dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, Federico Fellini e Roberto Rossellini, desenvolveu durante as décadas de 1960 e 1970 um estilo muito pessoal e vanguardista, que o levaria para nos anos 80 a realizar um cinema provocador, entre a pornografia e o esteticismo. Este filmou inúmeros trabalhos íntimos, com uma fotografia rápida, cheia de travellings, edição rápida e guiões humorísticos e desconcertantes. “Monamour” personifica na perfeição o estilo de Brass, com vários planos às formas do corpo humano, mesmo quando estas estão representadas em pinturas ou esculturas, celebrando sempre a ligação da Arte com a sexualidade.
A história prende-se com a personagem de Marta (Anna Jimskaya), a mulher de um escritor e editor de sucesso, Dario (Max Parodi), que ao fim de seis meses de casamento, vê a sua relação sofrer uma crise devido à insatisfação sexual. Numa viagem do marido ao norte de Itália, Marta envolve-se com um francês chamado Leon (Riccardo Marino) e a notícia rapidamente se espalha. Esta infidelidade tem resultados devastadores na vida do casal.
Contudo, a forma como esta traição se desenvolve é o íman entre o espectador e a obra. Começando com uma cena de sexo, o primeiro sinal de insatisfação de Marta é-nos demonstrado através de uma entrada no seu diário – este que é minuciosamente escondido no meio da sua roupa interior, na última gaveta da cómoda. Enquanto Dario cumpre as suas obrigações para com o Festival de Literatura, Marta vê-se envolvida numa cena situação inesperada, mas de certa forma reveladora.
Ao visitar um museu de frescos (pintura), dá de caras com um francês que a fotografa, beija e apalpa. Esta cena desenrola-se de forma muito directa e rápida, indo ao encontro da directriz de filmagem por parte de Tinto Brass. Pode ser estratégia, mas esta forma “fácil” de construir este tipo de cena realça mais a falta de imaginação do que propriamente qualquer tipo de sensualidade ou eros.
A narrativa desenvolve há medida que este novo “romance” de Marta vai aquecendo. Os encontros com Leon começam a ser mais frequentes, um deles numa festa onde o próprio marido, Dario, estava presente. Aqui podemos presenciar uma pequena cena explícita, onde Marta por momentos acaba mesmo a fazer sexo oral ao francês. O irónico disto tudo acontece quando são interrompidos por uma amiga da italiana, Sylvia (Nela Lucic), que estava na festa com o agente do marido (escritor) e desde logo se percebeu que este personagem era algo mais do que um simples representante.
É posto ao de cima a banalidade da traição, um dos muitos problemas que assombram a sociedade desde há muitos séculos. A história prossegue com Marta a continuar a fazer ciúmes ao marido através das contínuas traições carnais com Leon, até esta ter uma espécie de monólogo interior e perceber que este é apenas uma “aventura” que serviu para acordar sexualmente Dario, o seu marido. Sim, este a certo ponto descobre o diário da sua mulher, sendo que no final do confronto com Marta, acaba simplesmente a discutir sozinho e a destruir o quarto de hotel.
Podíamos tentar mencionar mais alguns episódios de alguma importância, mas a verdade é que pouco mais há. A experiência visual tem como mote as partes íntimas do homem e (principalmente) da mulher. Tinto Brass está constantemente a provocar o espectador, não fossem as roupas de Marta – ou a falta delas – sensuais e provocantes. Os fetiches de sexo em locais públicos é outra característica aqui presente, tal como o voyeurismo.
A fotografia deste filme deixa a desejar no que toca à riqueza do envolvimento arquitectónico riquíssimo presente em Itália, e foca-se demasiado no corpo da sua personagem principal. Personagem esta que é retratada de um ponto de vista muito erótico, pois pouco ou nada se sabe da história de vida de Marta, mas conseguimos sempre saber quais são os seus pensamentos mais perversos aquando na companhia de Dario, Sylvia, Leon… basicamente durante o filme inteiro.
Com algum desalento, chegamos ao fim com a sensação de que simplesmente observamos a mente de uma mulher frustrada em formato de novela barata. O mistério é quase nulo, a sexualidade é abordada de forma muito banal e o argumento é praticamente inexistente. Anna Jimskaya destaca-se em frente à câmara, mas o guião que lhe deram parecia ser fácil demais para uma prestação que podia estar uns furos acima. Um filme extremamente visual, com uma estética apelativa, mas trabalhado de forma superficial e a roçar o insuficiente. Uma obra interessante para descontrair, mas de pouca importância na categoria do cinema erótico.