Caros(as) leitores(as), trago-vos hoje cinco sugestões de álbuns de música para escutarem nestes dias de reclusão. Como o cinema, a literatura, ou outros, também na música os gostos são diversos e a oferta quase infindável, no entanto, chego à conclusão que mesmo depois de já ter ouvido, visto e lido muita coisa, sou regularmente surpreendido por obras que não imaginava que existiam. E isso é bom, pois é sinal que não conhecemos nem somos sabedores de tudo. A vida deve ser isso mesmo: uma descoberta a cada dia da nossa existência. Faz-nos crescer enquanto parte integrante do todo e dá-nos sempre um motivo para acordarmos amanhã. E isso é, realmente, bom!
Assim sendo, passo a propor-vos cinco trabalhos que vos poderão ajudar a passar uma tarde bem passada com algumas bonitas melodias no ouvido. Creio que não terão grande dificuldade de as encontrar nas atuais plataformas de streaming, pois será realmente difícil de as adquirir fisicamente nos dias que correm. Temos que ter paciência! Aqui vai então, e sem qualquer ordem em especial:

1.º “Friday Night In San Francisco”, Al Di Meola, John McLaughlin & Paco de Lucía (1981)
O que dizer deste trabalho gravado ao vivo em dezembro de 1980 no The Warfield Theatre em San Francisco, nos Estados Unidos da América. Quando se junta três magos da guitarra no mesmo palco, o resultado só pode ser magnífico, como comprova este excelente trabalho. Meola e McLaughlin no perfeito domínio das suas guitarras acústicas e Paco, de igual modo, com a sua guitarra espanhola vão desfiando o seu virtuosismo, ora Paco com Meola, ora Meola com McLaughlin, ora Paco com McLaughlin ou os três juntos.
Chega a ser hipnótica a conjugação de ritmos arrancados por estes artistas imensos, qual viagem sensorial sem fim. A fusão do flamengo com inspiração jazzística resulta em sons que só ouvidos nos transmitem o verdadeiro feeling do momento. Considerado um dos melhores álbuns acústicos jamais editados, é de audição absolutamente obrigatória.
Mediterranean Sundance / Rio Ancho

2.º “Come Away With Me”, Norah Jones (2002)
Este foi o primeiro trabalho editado por Norah Jones, filha do mundialmente conhecido sitarista indiano Ravi Shankar, e tornou-se desde logo um sucesso e um cartão de visita desta pianista e cantora norte-americana. Com influências várias na composição do seu trabalho, Norah inspira-se essencialmente no jazz, country, folk e algum soul, resultando em sons melódicos, muito bem construídos, aos quais se associa a sua voz quente e afável.
Neste primeiro álbum, como já referi, Norah Jones anuncia bem ao que vinha com um conjunto de temas que demonstram já uma grande maturidade para debutante, devidamente acompanhada por um conjunto de músicos, também eles de grande qualidade, o que a levou aos tops em vários países. Todos os 14 temas são de audição muito agradável, mas não posso deixar de salientar um tema de que gosto muito, uma pequena pérola: Painter Song. Que requinte. Disfrutem.

3.º “Older”, George Michael (1996)
Quer se goste ou não (eu gosto), falar de George Michael é falar de um dos mais completos artistas pop de todos os tempos. Por vários motivos, desde logo pelo facto de George ser o letrista de praticamente todos os temas por si cantados, por ser o compositor de também a maior parte dos seus temas e por ter sido um artista altamente profissional que sempre respeitou os seus fãs, e não só. Este trabalho é precisamente o espelho perfeito de todas estas qualidades de George.
Todos os temas nele contidos são trabalhados à exaustão da perfeição, não só acusticamente como ao nível do desempenho vocal. Após atravessar uma época algo conturbada na sua vida pessoal, e após quase três anos de preparação, “Older” vê a luz do dia em maio de 1996 e contém alguns dos temas mais conhecidos do artista, Fastlove, Star People ou Free, mas também nos traz temas como Spinning the Wheel, To Be Forgiven, You Have Been Loved ou Older que nos mostram o outro lado de George, calmo, reflectido e sentimentalista. De audição obrigatória e cuidada.

4.º “Missing… Presumed Having a Good Time”, The Notting Hillbillies (1990)
Este trabalho resulta de um projeto idealizado por Mark Knopfler, guitarrista dos Dire Straits, que juntou para além dele os músicos Brendan Croker na guitarra , Steve Phillips também na guitarra e Guy Fletcher nos teclados, acompanhados em estúdio por Marcus Cliffe no baixo, Ed Bicknell na bateria e Paul Franklin na pedal steel guitar. É um trabalho de inspiração country blues que nos trás um som de uma envolvência e pureza absolutamente fantástica.
Se não temos reservas relativamente a Mark Knopfler como líder dos Dire Straits e cantautor a solo, aqui temos oportunidade de ouvir os outros intervenientes no projecto de forma honesta e limpa. Parte dos 11 temas que compõem o disco são tradicionais, sendo os restantes compostos por músicos da banda e outros. O que saliento neste trabalho é a pureza e harmonia do som em todas as suas faixas. Não consigo passar muito tempo sem voltar a este álbum. Ouçam e encantem-se. Qualidade no seu melhor.

5.º “Promise”, Sade (1985)
Apesar de ter nascido na Nigéria, desde muito cedo Sade Adu viveu em Inglaterra e foi altamente influenciada pelos grandes nomes da soul durante o seu crescimento. Embora não tenha tido a carreira musical como sua primeira opção de vida, veio a perceber que esse seria o caminho para a sua realização pessoal. Optei por vos propor o seu segundo trabalho de estúdio, “Promise”, editado um ano após o seu trabalho de estreia, “Diamond Life”.
Embora já apresentasse muita qualidade no primeiro álbum, neste, Sade está mais segura e evolui em termos de composição e melodia. Dona de uma voz exótica e envolvente, todo o trabalho é ritmado e com excelente percussão, oferecendo-nos momentos de ritmos variados e confortantes. Ao longo de 16 anos, Sade foi editando outros trabalhos, seguindo todos eles a mesma linha de qualidade. Som de conforto e bem-estar na voz de uma artista que não se deve arrepender pelo caminho que seguiu. A ouvir com calma. Muita calma.
Bons sons. Protejam-se.
Jorge Gameiro