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Porque A Arte Somos Nós

Apesar de apenas terem editado seis álbuns de estúdio, os Dire Straits marcaram o seu lugar no panorama da música rock dos anos 80 e 90. Banda formada em Londres no ano de 1977, reuniu elementos originários de outras cidades inglesas. Os irmãos David e Mark Knopfler vinham de Newcastle, e John Illsley e Pick Withers de Leicester, tendo todos eles à altura ocupações profissionais diversas. Withers já tinha experiência nas lides musicais, pois há já alguns anos que participava, como baterista, em trabalhos de outros músicos, enquanto que os irmãos Knopfler já tinham participado num “pub rock group” durante um curto espaço de tempo.

Estava assim reunida a vontade de fazer música por parte destes quatro rapazes, que influenciados pelos ritmos do jazz, folk, country e blues rock, mas também por outros tantos músicos de referência à época como J.J. Cale, decidem baptizar a banda com o nome Dire Straits e começar a produzir do melhor som que já veio de terras de Sua Majestade.

Desde já deve ficar claro que a mastermind da banda sempre foi Mark Knopfler, visto que a sua capacidade criativa se sobrepunha aos restantes elementos da banda. Prova disso é o facto de, salvo raríssimas excepções, todas as letras da banda serem escritas pelo próprio Mark. Já para não falar nas capacidades “mágicas” de lidar com o seu instrumento de eleição, a guitarra solo, onde domina como poucos na história do rock contemporâneo!

No entanto, e apesar de ser o vocalista da banda, os seus dotes vocais não são magníficos, no entanto hoje em dia já seríamos incapazes de ouvir Dire Straits sem a voz de Mark… é uma questão de hábito.

E é com a simplicidade de uma bateria (Pick Withers), um baixo (John Illsley), uma guitarra ritmo (David Knoplfler) e uma guitarra solo (Mark Knopfler) que gravam a sua primeira demo com cinco temas para apresentar a uma editora. A coisa não corre bem, e é só após uma apresentação na BBC Radio London pela mão de Charlie Gillett que vêm a assinar contrato, dois meses mais tarde, com a editora Vertigo.

O primeiro álbum da banda acaba por ser editado em Outubro de 1978, com o título homónimo “Dire Straits”,  e contém logo à partida um dos maiores êxitos de sempre da banda: Sultans Of Swing, que iria ser tocado em praticamente todos os concertos que realizaram até hoje.

Para além deste, Down To The Waterline, Setting Me Up ou In The Gallery, foram temas fortes deste primeiro trabalho que reflectia muito da visão que Mark tinha do que o rodeava na Inglaterra onde vivia. Até aqui faziam a abertura dos concertos dos Talking Heads, mas Sultans of Swing atinge boas performances nas tabelas musicais de Inglaterra e Estados Unidos, abrindo a porta para uma tournée americana com vários concertos esgotados, permitido assim que a banda se passasse a apresentar em nome próprio. Estavam abertas as portas para o sucesso.

No embalo destes acontecimentos, os Dire Straits apresentam um novo álbum em Junho de 1979, “Communiqué”. Ainda na linha de concepção do primeiro, Mark ajusta a identidade da banda com sons marcados pela sua guitarra, tal como já fizera antes. Once Upon A Time In The West, Angel Of Mercy ou Portobello Belle são temas deste álbum, no entanto é Lady Writer que se destaca neste trabalho, com uma sonoridade cunhada pela guitarra de Mark. Genial.

A identidade da banda estava definitivamente marcada por estes dois trabalhos editados quase em simultâneo.

Em 1980 os Dire Straits editam o seu terceiro álbum de originais, “Making Movies“, e é a partir daqui que se começam a dar algumas alterações não só na estrutura da banda, como na própria sonoridade da mesma. Após divergências com o irmão Mark, David Knopfler decide abandonar a banda após participar em parte das gravações do álbum. Isto leva Mark à decisão de acrescentar um elemento de teclas à estrutura do grupo, a fim de obter um som mais complexo e trabalhado, de acordo com o seu conceito musical.

Nesta linha, os Dire Straits começam a tocar temas mais longos como é o exemplo de Tunnel Of Love ou Romeo And Juliet, que demonstram também um maior cuidado por parte do artista no lado conceptual da melodia. Para além destes, Solid Rock e Expresso Love são também temas fortes deste trabalho, que marca uma transição na identidade da banda.

Dois anos mais tarde, em Setembro de 1982, a banda edita aquele que é o álbum mais conceptual dos Dire Straits, “Love Over Gold”. Com apenas cinco temas, este trabalho contém no lado I Telegraph Road com uns incríveis 14 minutos de duração, Private Investigations com quase sete minutos, e no lado II Industrial Disease, Love Over Gold e It Never Rains, esta última com oito minutos de duração.

Não os menciono a todos por acaso, menciono porque são todos temas incríveis, de uma beleza melódica fantástica e de uma envolvência muito agradável, onde é acrescentado o sintetizador, para além do órgão e piano que já constava no trabalho anterior. Podemos dizer que são claramente a cara de Mark Knopfler! De audição obrigatória.

Em 1984 a banda decide editar um trabalho ao vivo, “Alchemy Live”, com excertos de concertos realizados no ano anterior, e onde consta, para mim, uma das melhores versões ao vivo de Sultans Of Swing tocadas pela banda. Mark Knopfler está pura e simplesmente imparável.

Os Dire Straits ao vivo em 1985

E, em 1985, dá-se a explosão: os Dire Straits editam “Brothers in Arms”. Este é definitivamente o álbum que projecta a banda para o estrelato à escala global, com números de vendas de álbuns incríveis, tournées gigantescas e um sem fim de acções promocionais que marcaram o seu percurso até aos dias de hoje.

É até difícil destacar algo em especial neste trabalho, pois todo ele é formatado para ser um sucesso, desde Money For Nothing com a colaboração de Sting, passando por So Far Away ou Walk Of Life até Brothers In Arms, à imagem do seu cérebro conceptual: Mark Knopfler. Apesar de ter um objectivo claramente comercial, a qualidade está lá e foi provavelmente o trabalho mais marcante da banda.

Após tudo isto, Mark Knopfler decide dedicar-se à sua carreira a solo e acalmar o seu ritmo, anunciando uma paragem da banda. Até aqui, os Dire Straits já tinham recebido inúmeros prémios e galardões pela sua carreira e trabalho musical. Os números de vendas de álbuns era já astronómico e ninguém duvidava que tinham conquistado um lugar entre os grandes do rock.

No entanto, em 1991 a banda volta a reunir-se para editar um novo álbum de originais, o que veio a suceder em Setembro desse ano, “On Every Street” de seu nome.  Trata-se de um trabalho que rompe de alguma forma com a linha do que até aí a banda tinha produzido. Temas bastante trabalhados com recurso a uma instrumentação cuidada (e numerosa) e de audição muito agradável e madura. Calling Elvis e Heavy Fuel foram os temas que mais se destacaram, mas não atingiram o sucesso desejado. Era altura de reflectir no futuro.

Mark Knopfler ao vivo na digressão de “On Every Street”

O último concerto ao vivo ocorreu em Outubro de 1992 e posteriormente apenas foi editado, para além das obrigatórias colectâneas de Hits, um trabalho gravado ao vivo em final de carreira, “On The Night”, que teve uma relativamente boa aceitação, e um álbum com gravações de actuações feitas ao vivo nos estúdios da BBC. Este “Live At The BBC” anda para trás no tempo e oferece-nos uns Dire Straits como ainda não os tínhamos ouvido, pois reporta a apresentações realizadas entre 1978 e 1981 e em que o suporte musical ao vivo é ainda muito rudimentar. Trata-se de um excelente documento histórico da banda.

Até aos dias de hoje, os Dire Straits são reconhecidos como uma banda com um papel importante nas sonoridades do rock, demonstrado no “Rock and Roll Hall of Fame” e nos inúmeros prémios e distinções que receberam, já para não falar nos números incríveis de semanas que permaneceram nos tops de vários países, com vários temas por si editados.

O espírito criativo genial de Mark Knopfler é inquestionável e a longa e extensa discografia editada a solo fala por si, para além do som inconfundível da guitarra tocada pelo “mestre” que ficará para sempre nos nossos ouvidos. Ainda assim, divido a carreira dos Dire Straits em duas fases: Os dois primeiros álbuns, e os restantes. Ouçam e comprovem!

Bons sons.

Jorge Gameiro

One thought on “Dire Straits – Uma banda incontornável

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