Na sociedade em que vivemos, o passado e o futuro regem a nossa vida – magoados pelo passado doloroso, ansiosos pelo futuro incerto. Eckhart Tolle simplifica estas viagens mentais com uma desconstrução completa do tempo cronológico: o tempo é uma ilusão, a única coisa real e que efetivamente existe é o Agora, o momento precisamente atual, tudo o resto é a nossa mente egóica que insiste em relembrar ou prever de forma a proteger aquilo a que estamos habituados. A mente é uma máquina imparável e, por mais que louvemos essa capacidade humana, é importante reconhecer que é ela e os seus mecanismos que criam aquilo a que chamamos ‘problemas’.
“O poder do Agora” não se trata apenas de uma obra para os céticos, pois não é algo que se deva ou possa questionar. É, na verdade, algo para ser simplesmente interiorizado por aqueles que estiverem dispostos a abrir a sua espiritualidade e a colocarem a sua mente de lado. Esta última é o grande inimigo; muitas vezes nem nos apercebemos das mil coisas em que estamos a pensar, acabando por se tornar num processo automaticamente perigoso. O barulho constante assemelha-se a uma corrida, a uma fuga de absolutamente nada que não nos permite parar e olhar em redor.
Quantas vezes não nos encontrámos num sítio simplesmente belo e não nos apercebemos porque estávamos a pensar no que vamos fazer a seguir, nas tarefas, nas pessoas, nas palavras? Para o ser humano é normal parar de vez em quando, de férias ou durante o fim de semana, viajar para algum lugar longínquo, bonito e apreciá-lo. O que nos esquecemos muitas vezes, é que o bonito também está do outro lado da rua ou simplesmente no fundo da janela. O sol brilha, o vento toca, o mar canta para todos da mesma forma.

Para o escritor alemão, foi necessário um momento extremamente devastador, um sentimento de solidão extrema, para compreender os elementos que o rodeavam no Agora. Por isso mesmo, com esta obra espiritual, o seu objetivo é partilhar com todos o conhecimento do momento presente e ajudar a desacelerar a sociedade atual, de forma a evitar que continuemos a ignorar a beleza que nasceu em nós e para nós – a beleza do Agora.
Primeiramente, somos confrontados com o choque de que não somos a nossa mente. A mente é uma ferramenta utilizada pelo ego para nos separar daquilo que realmente somos – a nossa essência, a nossa alma, se assim quiserem. É na mente que criamos o drama, as discussões, as preocupações, a ansiedade, aliás, tudo aquilo que se resume no medo.
A partir do momento em que nos separamos e distanciamos da nossa mente, somos capazes de nos tornarmos observadores conscientes da mesma e compreender os padrões que ela tende a repetir, de forma a evitá-los cada vez mais. A consciência é a palavra-chave, pois é o que nos permite estar alerta e ao mesmo tempo estar presente – alerta em relação aos pensamentos que podem irromper a paz e o presente no Agora.
Aquilo que a nossa mente normalmente faz quando recorre ao futuro é procurar o prazer e uma espécie de realização pessoal em algo que poderá vir a acontecer, deixando de se focar no que está a acontecer agora mesmo. Isto cria um mundo ilusório que ao mínimo abalo é destruído e daí nascem as tristezas, a dor, a frustração. O Agora, o sentimento do momento presente não é ilusório porque é tudo o que existe.
Ao entrarmos no Agora, entramos no nosso Ser, ou seja, mais uma vez, a nossa essência transcendente, é pura quietude interior. Para além disso, a dita ilusão criada na nossa mente acaba por se transferir para o mundo “real” quando nos identificamos com a aparência física e assumimos que somos formas separadas quando, na verdade, somos um com tudo o que existe, com todos os seres, com a natureza, com a vida.

Porém, não é só a mente o obstáculo, pois com ela surgem outras entidades que nos querem separar do nosso ser. É o caso do corpo de dor. Quando deixamos as nossas emoções tomarem conta do nosso corpo através da identificação com a mente, estamos a deixar que elas se acumulem numa sombra projetada pelo ego – o corpo de dor. Esta sombra anda sempre ao nosso lado, colada a nós, a ser alimentada pela preocupação, frustração, e pelo medo.
Esta dor não passa de uma não aceitação, de uma resistência ao momento presente. A solução, no entanto, é sempre a mesma: primeiro aceitar e só depois atuar; ser guardião da própria mente, não pensar, não julgar, não opinar, somente estar presente e observar como as emoções se manifestam, o que fazem no nosso corpo, a forma como vão e vêm.
Também os mais variados relacionamentos podem ser solucionados com o Agora. A arte de escutar, de ouvir com todo o corpo, de dar espaço ao outro para ser aquilo que é, para deixar o seu Ser fluir através do nosso. Isto porque a presença retira espaço para julgar e abre o espaço à compreensão, que é a única forma de o amor fluir. Mais uma vez, a realização da unicidade, o estarmos ligados ao outro, permite-nos aceitá-lo tal como ele é.
Tolle desafia o leitor a questionar-se, traz-nos termos que nos confrontam diretamente, afirmando muitas vezes para nos rendermos. Muitas pessoas assumem a rendição como um ato cobarde. Não precisamos de lutar, no entanto, a rendição não é deixar de fazer, é aceitar primeiro as coisas como são e a partir daí atuar em conformidade, mas sempre no Agora. É importante na leitura não interpretar nada para além do que está escrito, pois devemos “transcender as palavras“, como diz o autor, porque estas são simplesmente um meio e não lhes podemos dar demasiada importância.
Este é o livro para a atualidade, para mudar o rumo daquilo que nos tornámos: pensadores compulsivos guiados por corpos de dor. A chave é a rendição ao Agora, é perceber que não há mais nada e que mais nada importa. Se fizermos, que façamos agora, depois de aceitarmos onde estamos. Nas palavras de Marco Aurélio, “Aceita tudo o que vier a ti entretecido no padrão do teu destino, pois que outra coisa poderia responder melhor às tuas necessidades“. E como o autor diz no final da sua obra acerca do espírito, “«Como saberei que me rendi?» Quando deixar de precisar de fazer essa pergunta.“
Vivam o Agora. Mais do que ser feliz, estejam em paz.
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