Hoje em dia a presença de jogos independentes na indústria dos videojogos é algo completamente normalizado, embora nem sempre tenha sido o caso. Se há um jogo que pode ser apontado como impulsionador dessa maior visibilidade, esse jogo é “Braid”. Lançado em 2008, “Braid” é maioritariamente fruto da visão criativa de Jonathan Blow, a mente por detrás do também bem-sucedido “The Witness“.
A ideia para este jogo surgiu por volta de 2004, quando Blow já trabalhava há mais de uma década como programador e sentiu a necessidade de criar o seu próprio estúdio e os seus próprios jogos. Algum tempo depois, a ideia principal de “Braid” começou a materializar-se, sendo essa a mecânica conseguir retroceder no tempo, um conceito até então pouco explorado nos videojogos.
Procurando ter em atenção o facto de que um dos perigos dessa ideia seria a de eliminar as consequências da ação do jogador, Blow acabou por tornar “Braid” um jogo de plataformas baseado em puzzles. Para complementar a jogabilidade, foi criada uma história que, embora algo vaga, permite contextualizar e desenvolver o protagonista Tim, um rapaz em busca de uma princesa que foi raptada por um monstro terrível. Depois de a Valve ter rejeitado a distribuição do jogo na Steam, a presença de “Braid” em várias conferências captou a atenção da Microsoft que escolheu este para ser cabeça de cartaz na sua iniciativa para dar mais destaque a jogos indie, através da XBox Live Arcade.

Na prática, em cada um dos níveis do jogo, Tim tem que se movimentar ao longo de um conjunto de plataformas, tendo possibilidade ilimitada de voltar atrás no tempo, inclusive após morrer. Cada um dos seis mundos do jogo introduz novas mecânicas que mantém a experiência fresca, e incluem, por exemplo, objetos que não são afetados pelo poder de rewind, níveis em que o tempo só avança quando o jogador se move ou a possibilidade de manipular a rapidez com que o tempo progride.
Estilisticamente, muitas influências podem ser apontadas para os jogos da saga “Super Mario“, embora, dado o seu conceito inovador, se sinta como um jogo muito particular e distinto das suas potenciais influências. “Braid” acabaria por se tornar um sucesso da crítica, atingindo também números muito interessantes de vendas com mais de 50.000 cópias vendidas na primeira semana, algo raro para jogos da sua dimensão. A criatividade colocada na jogabilidade, bem como uma narrativa mais profunda do que era normal até então para jogos de plataformas, colocaram “Braid” em grande destaque – o que resultou numa grande mudança de mentalidades respeitante aos jogos independentes.

Curiosamente, ou talvez não, nos anos seguintes ao lançamento de “Braid”, a XBox Live Arcade continuaria a apostar em jogos indie, dando-lhes maior destaque (um desses exemplos é o já revisto “Limbo“). Já a Valve tornaria o mercado da Steam muito mais rico em termos de jogos independentes, a passo que a PlayStation começaria nesse período a investir em jogos com um carácter muito experimental (como “Flower” ou o mundialmente aclamado “Journey“).
Acima de tudo, os estúdios indie conseguiram ter cada vez mais visibilidade. Passados mais de 10 anos, o número de jogadores que frequentemente joga videojogos produzidos por pequenas equipas disparou, ao passo que hoje em dia certos jogos indie não só recebem tanta ou mais atenção que grandes lançamentos AAA, como se costumam intrometer nos grandes prémios da indústria.
Se se pudessem usar os poderes de Tim para retroceder no tempo, perceber-se-ia provavelmente que muito deste crescimento foi originado graças ao lançamento de “Braid” algo que, por si só, já justifica a atenção que lhe é aqui dada. Mas mesmo não considerando o movimento que ajudou a criar, este é um jogo que vale a pena ser jogado e simultaneamente uma experiência que dificilmente se esquece.
Disponível em: Linux, MacOS, PS3, Windows, Xbox 360
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