Chegou-me de Lisboa, via Correio, este maravilhoso “Alfarrobeira…”. Autografado, foi com sentimento que passei a lê-lo para conhecer a verve literária de Luís Tiago, escritor do outro lado do Atlântico. Quando estudamos a literatura de um país, e ainda mais sendo este país Portugal, é corriqueiro remetermos a Camões, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Saramago, Valter Hugo Mãe, Miguel Sousa Tavares e António Lobo Antunes. Mas, é com satisfação que passo a conhecer os novos: Norberto Morais e esta grata revelação das letras lusitanas: Luís Tiago.
“Alfarrobeira” é um romance épico medieval que antecede a Descoberta do Brasil, nos preparativos para a conquista de Ceuta (1415). Gira em torno do reino de D. João e dos seus filhos Duarte, Henrique, Pedro, Fernando, João e o bastardo Afonso. A história é romanceada e o autor é feliz ao descrever as personagens, ficando em segundo plano sabermos se é ficcional ou não. Deixo a avaliação para os leitores. Assim, Duarte é um Rei conservador que já governava com D. João vivo, e quando herda de facto e direito o Reino, fá-lo sem sobressaltos. Henrique é o navegador estudioso que funda a Escola de Sagres e, aventureiro, pretende estender os domínios de Portugal para o além-mar, em África.
Intempestivo quando sai das audiências não conseguindo mais verbas para os seus loucos empreendimentos. Pedro é o filósofo ponderado, equilibrado, um pouco Marco Aurélio (o imperador romano estoico) e Fernando, feito refém em Tânger, sofre com resignação e espírito elevado as agruras do cativeiro. Cabe a Pedro, o literato, a descoberta do diário de um espião holandês, Siemen, um tanto místico e com sentenças premonitórias, sendo este diário recorrente ao longo da trama e que inclusive dá o título ao livro.
Não ficamos ao largo das intrigas palacianas, do poder pelo poder, das alianças, da Peste Negra, da aliança estável (instável) entre espanhóis e portugueses e tudo isso numa narrativa ágil que nos conduz ao longo das suas 266 páginas com desenvoltura. Li o livro em três dias, chateado pelo facto de ele ser demasiado curto. De tão bom que é.
Gostei de reler uma obra épica com o português de Portugal, num vocabulário rico e bem composto. Gostei de descobrir a escrita de um escritor talentoso que é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Nova de Lisboa. Gostei de retornar a Portugal, notadamente a Lisboa, ao imiscuir na trama por onde passam as personagens tão bem descritas. Gostei de algumas pérolas motivacionais ao longo do livro, em frases tão bem elaboradas e convidativas.
A este colega das letras, a este colega de editora (a Chiado), só me resta desejar novas narrativas e que estenda mais as suas histórias… para o deleite de um admirador do lado de cá do Atlântico. Mais do que indico e recomendo!
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