Até 2007 muito daquilo que era a marca Naughty Dog estava associada a jogos então recentes como “Crash Bandicoot” ou “Jak and Daxter“. Muito por essa razão, o lançamento de “Uncharted: Drake’s Fortune” no final desse ano terá deixado os fãs da empresa surpresos e marcou muito daquilo que seriam os seus futuros jogos.
Primeiro, porque ao contrário de “Crash” e de “Jax and Dexter”, “Uncharted” baseou-se na criação de um mundo virtual mais humanizado (se é permitida a palavra quando se fala de um videojogo). Segundo, porque se distanciou dos tradicionais jogos de plataformas (como é o exemplo dos dois jogos mencionados) e se focou muito em elementos narrativos cinematográficos. O lançamento foi feito pela Sony no final de 2007 para a América do Norte e um ano depois para a Europa, ainda na novinha PlayStation 3.
“Uncharted: Drake’s Fortune” inicia-se com o protagonista Nathan “Nate” Drake (voz de Nolan North) após este ter recuperado o caixão de Sir Francis Drake, capitão e explorador inglês do século XVI e antecessor de Nate. A acompanhar Nate encontra-se a jornalista Elena Fisher (voz de Emily Rose), responsável pelo patrocínio da expedição. Nate, ele próprio também explorador e aventureiro, conseguiu encontrar o caixão do seu antecessor através das coordenadas inscritas num antigo anel de família. Este crê que o diário de Sir Francis, que encontra no caixão, o levará até ao tesouro de El Dorado. Após Nate e Elena serem atacados por piratas, estes são salvos por Sully (voz de Richard McGonagle), amigo e mentor de Nate.

Esta pequena secção do jogo faz em pouco tempo aquilo que muitas outras obras narrativas (não apenas em videojogos) precisam de muito tempo para fazer: estabelecer os protagonistas, o contexto e o ambiente da história. O capítulo, que serve de prólogo a toda a saga, estabelece “Uncharted” como um shooter de ação, aventura e exploração, que dá importância tanto à jogabilidade como à narrativa cinematográfica.
Estabelece também Nate como um protagonista carismático, que aborda qualquer situação com humor, mas também ambicioso e decidido a desvendar o segredo de Francis Drake. Relativamente a Sully, rapidamente se percebe que funciona como uma figura paterna para Nate, uma pessoa que respeita ainda que não goste que ninguém lhe diga o que deva fazer. Elena é caracterizada como uma repórter curiosa, sempre de câmara na mão pronta a captar potenciais momentos para a sua reportagem, mas também consciente que tanto Nate como Sully não lhe dão a confiança necessária para os acompanhar na aventura.

É a precoce descoberta da localização de El Dorado no diário de Sir Francis Drake que guiará toda a história da primeira aventura de Nathan Drake, entre-cortando as cutscenes com momentos de exploração (sobretudo através de uma habilidade quase sobre-humana que Nate tem para escalada), momentos de “tiro” e de pequenos puzzles.
O grande foco na narrativa, ao estilo de um gigante filme de ação de Hollywood, ajudou à criação de uma grande empatia com as personagens e com o próprio jogo. Uma das provas disso são as críticas muito favoráveis que o jogo recebeu, que resultaram num recorde de vendas para a Naughty Dog e culminaram num grande número de prémios para o jogo, entre os quais o de Jogo do Ano para a PlayStation 3, atribuído pela IGN.
Apesar do sucesso, uma retrospetiva e um olhar mais atento ao jogo, que já possui um grande número de sequelas que auxiliam em efeitos comparativos, é capaz de denunciar algumas falhas que o tempo ajudou a emergir. Comparativamente a outros jogos da saga “Uncharted“, “Drake’s Fortune” revela-se como o mais repetitivo de todos. Muitas das secções jogáveis consistem em encontros com intermináveis piratas e mercenários ou zonas de exploração demasiado lineares para apresentarem um desafio entusiasmante.
Além disso, algumas zonas que incluem o controlo de veículos são particularmente frustrantes devido à estrutura dos controlos. Por último, as cerca de seis horas que o jogador médio leva a passar o jogo podem dar um sentimento de decepção e deixar um sabor amargo para quem esperava uma aventura mais duradoura.

Muito daquilo que caracteriza Nate, relaciona-se com o seu mote “sic parvis magna” ou, em português, “grandeza a partir de um pequeno começo“. Dificilmente haveria uma melhor descrição para aquilo que é hoje a franquia Uncharted. Mas, ao contrário de outras, a “pequenez” que se pode atribuir ao primeiro capítulo da saga está mais relacionada com a capacidade de evolução da mesma em termos de qualidade, do que com a falta desta no jogo que aqui é descrito.
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