OBarrete

Porque A Arte Somos Nós

Apaixonada por comunicação visual, foi desde cedo que Cristiana Figueiredo encontrou na ilustração a sua forma preferida de expressão. Lembram-se daqueles desenhos proibidos que alguns colegas faziam nos cadernos da escola? Provavelmente encontrariam a autora a escaldar a imaginação nessas tarefas. Atualmente, o design e a comunicação através de imagens são aquilo que a movem.

Depois de concluir uma licenciatura em Artes Visuais e Tecnologias pela Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico do Porto, a autora tirou o curso de Especialização em Ilustração pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, onde aprofundou a sua arte. Atualmente, frequenta o Mestrado e Design Gráfico e Projetos Editoriais, na mesma instituição.

É co-fundadora da Editora Rabiscos e o seu primeiro livro de ilustração infantil, também intitulado “Rabiscos“, foi lançado no dia 1 de agosto e pretende refletir um espetro variado de emoções através da cor e do traço. Está dividido em três histórias que abordam temas diferentes e situam-se em ambientes distintos. Mas mais do que as palavras, é a ilustração que pretende passar as mensagens principais, que derivam desde o amor à tristeza. Também referido como álbum ilustrado, este projeto é o mote que levou OBarrete a entrevistar a artista.

Tendo em conta que desde a licenciatura estiveste de alguma forma sempre ligada às artes, de onde nasceu a tua vontade de ilustrar?

R: No secundário enverguei pelo curso de Ciências e Tecnologias, mas percebi rapidamente que não era nada daquilo que eu queria. Ainda no secundário inscrevi-me num ateliê de pintura, como hobby, também para me ajudar a entender o que é que queria e apercebi-me que gostava mais de atividades artísticas. Era engraçado, porque precisava de passar a Matemática A mas o que eu gostava mesmo era de ir para o ateliê de pintura aos sábados (risos). Foi aí também que comecei a desenhar e a ilustrar.

Então quando chegou a altura de me inscrever na faculdade percebi que o meu caminho era Artes, então inscrevi-me nos exames de Desenho, História de Arte, Matemática A e Português. Já na licenciatura aprendi imenso sobre vários estilos de artes – pintura, escultura, ilustração, design. Foi durante este percurso que comecei a limar as arestas e nasceu a paixão pela ilustração, até porque já no secundário e depois na licenciatura mantive sempre os meus diários com pequenos desenhos de pessoas, momentos ou acontecimentos que encarava como desabafos. Era tudo muito para mim, até perceber que aquilo tinha valor, era ilustração.

Em “Rabiscos” a mensagem é passada, principalmente, através da ilustração

De todos os estilos de ilustração e públicos-alvo, porque é que escolheste a ilustração infantil para o teu primeiro projeto?

R: Ao longo da licenciatura o público infantil esteve sempre muito intrínseco. Às vezes havia propostas para fazermos workshops a crianças e no final da licenciatura tivemos um estágio e todos os estudantes estiveram muito ligados ao público infantil. Por exemplo, o meu estágio foi nos Serviços Educativos de Serralves, onde mantive sempre contacto com crianças e depois disso trabalhei também com crianças, em Guimarães. Estive sempre muito ligada à educação artística infantil, então comecei a perceber que podia ligar as duas coisas – a ilustração às crianças. Os desenhos que estava a fazer eram cada vez mais infantis, mas também por influência das crianças no meu percurso.

Quais foram as referências ou os pilares que te inspiraram na tua jornada enquanto storyteller?

R: O “Rabiscos” começou por ser um projeto académico. Tive uma cadeira na faculdade chamada Projetos, onde era requerido apresentar algo no final do ano e tive um semestre para o preparar. Inicialmente a ideia era que este projeto fosse uma revista de ilustração, inspirada numa revista de ilustração espanhola chamada Minchõ, até porque não sabia se queria ilustrar para crianças ou para adultos. Pensava numa revista com muitas atividades, mas também pensava numa revista para divulgar ilustradores, que vai mais ao encontro da revista que falei. Baseava-me nos livros da ilustradora Keri Smith, por exemplo o “Destrói Este Diário“, no qual as pessoas têm de interagir em todas as páginas e no final o livro fica destruído.

Pensei em vários ângulos para a minha revista e concluí que queria que cada edição tivesse um tema, inspirado no livro “Cá Dentro“, da editora Planeta Tangerina, que é um livro sobre emoções. Então quis que o meu primeiro livro retratasse emoções. Inicialmente estava confusa, mas tudo fez parte do processo criativo. Tive, inclusive, um professor a acompanhar-me e a perguntar porque é que não me focava mais na ilustração. Foi também a partir desse empurrão que comecei a dedicar-me mais ao que veio a ser o resultado final – um livro em que as imagens valem por si.

O arco das três histórias que compõe o “Rabiscos” resulta numa viagem primariamente emocional. Como é que gostavas que o leitor recordasse a tua obra uma semana depois de a ter lido?

R: Apesar de ser sobre emoções, gostava que o público ficasse com a ideia de que o livro é divertido porque era algo que gostava de passar através das ilustrações. Um pouco devido ao facto de ser infantil. Quando pensamos no público infantil, pensamos também naquilo que poderão gostar. O livro é sobre emoções, mas cada capítulo não tem o nome explícito das emoções que fala, então gostava que o leitor descobrisse quais são as emoções que estão a ser retratadas e que se lembrasse delas. Por exemplo, o primeiro capítulo chama-se “Borboletas”, gostava que o leitor associasse ao amor.

“Rabiscos”

Ao ler o press realease foi-nos possível compreender que cada história tinha um esquema cromático bastante particular. De que forma pretendes que a cor complemente a mensagem de cada história?

R: A cor está muito presente naquilo que faço, é sem dúvida um aspeto que tenho bastante em atenção quando desenho. Queria que fosse importante de alguma forma neste trabalho. A maneira de o tornar importante foi dando cores específicas a cada capítulo. Eu gosto muito de todas as cores, então tenho alguma tendência em exagerar nelas. Aqui decidi escolher uma paleta cromática para cada capítulo e assim não desvalorizar a cor no trabalho. É engraçado porque o capítulo que me custou mais foi precisamente o último, que deixei a preto e branco (risos), com um tom de azul.

Qual foi o filme de animação que marcou a tua infância e qual seria, agora enquanto jovem adulta, o filme animado que mais recomendarias fosse para um miúdo ou para um graúdo?

R: Eu vi tudo o que a Disney lançava, era a menina que adorava as princesas todas! (risos) Mas agora, ao olhar para trás, percebo que elas eram todas totós. Quanto a filmes, eu choro sempre no “O Rei Leão“(1994), mas não consigo escolher um em particular que tenha marcado a minha infância. Agora em adulta, recomendaria o “Persépolis” (2007), principalmente porque li há pouco tempo o livro, então queria reforçar ainda mais a recomendação do livro por causa das mensagens que transmite.

Gostei imenso por ser uma história verídica, é a própria autora Marjane Satrapi a contar a sua história. Foi a primeira banda-desenhada editada no Irão e fala imenso sobre os direitos das mulheres naquele lugar, na história do país… E falando em concreto do livro, quando o estava a ler haviam coisas que me irritavam! (risos).

Quais foram os maiores desafios que tiveste de ultrapassar para lançar um álbum ilustrado em pleno contexto de pandemia da Covid-19?

R: Comecei a produção do livro em janeiro, antes da crise, então o objetivo principal nem era tornar o projeto público e editá-lo. Essa vontade surgiu durante, quando estava perto do final e a ver o resultado. Além disso, o Lucas Moreira [namorado de Cristiana Figueiredo] acompanhou o processo e motivou-me a publicar. Ele estava há muito tempo a querer editar o livro dele, “Ciclos de Sono“, então uma coisa puxou a outra. Mas o maior desafio foi provavelmente o contacto com as livrarias que diziam que “não” por estarmos a viver momentos de incerteza. Noutro panorama teria sido também mais fácil fazer um lançamento presencial, um evento. Dadas as circunstâncias, não foi possível.

O que podemos esperar de Cristiana Figueiredo, quer como co-fundadora da Editora Rabiscos, quer como profissional da ilustração?

R: Espero que corra tudo pelo melhor! (risos) Em relação à editora foi tudo muito espontâneo. Tanto eu como o Lucas tínhamos um livro para lançar e percebemos que era algo que gostávamos de continuar a fazer. Para além disso, gostávamos de ajudar outras pessoas com os seus projetos. O primeiro passo foram estes livros e estamos a pensar no que vamos fazer a seguir. Queremos que pessoas se juntem a nós, estamos a tratar disso!

Quanto a mim, quero continuar a dedicar-me à ilustração, mas também ao design gráfico. Apesar de gostar muito de ilustração, não é aquilo que quero fazer a tempo inteiro. Portanto, em suma, a Cristiana Figueiredo quer ser bem-sucedida em design gráfico e continuar a trabalhar em ilustração na sua editora – Rabiscos!

O livro “Rabiscos”, de Cristiana Figueiredo, está atualmente disponível nos sites Blurb Books e Amazon UK, assim como na livraria Tinta nos Nervos, em Lisboa. Podem também adquirir o livro através do envio de mensagem privada no Instagram:

https://www.instagram.com/crisfromthespace

https://www.instagram.com/rabiscosedicoes/?hl=pt-br

Bernardo Freire

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