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Depois do lançamento do já analisado “Virginia” (que se defendeu como um excelente videojogo), o mundo do gaming ficou com grande curiosidade para ver o que estaria por vir por parte do estúdio Variable State. Relembrando o facto de que “Virginia”, principalmente dado a restrições de recursos, se resumiu a um walking simulator minimalista, com pouca interação, pouco detalhe gráfico e sem quaisquer diálogos, os fãs estariam curiosos para ver o que é que se seguiria por parte do estúdio, já com uma reputação estabelecida e maior capacidade financeira.

Cinco anos depois do lançamento do primeiro jogo da Variable State, “Last Stop” chegou a várias plataformas recentemente, no final de julho do presente ano. O lançamento ficou a cargo da Annapurna Interactive, uma distribuidora conhecida pelo investimento em videojogos de pendor “artístico”. “Last Stop” mantém-se no género narrativo com toques sobrenaturais, desta vez focando-se na história de três personagens controláveis (John, Meena e Donna), todas numa perspetiva de terceira pessoa.

Os três protagonistas de “Last Stop”: John, Meena e Donna

Após um curto prelúdio passado em Londres nos anos 80, o jogo avança para o presente, onde são apresentados os três protagonistas. O primeiro é John Smith, um pai de meia-idade, que vê a sua vida complicada quando o seu corpo é trocado com o de Jack Smith, o seu jovem vizinho que é programador de videojogos. A segunda narrativa anda à volta de Meena Hughes, agente de uma organização de inteligência, a trabalhar numa missão confidencial e ultrassecreta. Por último, Donna Adeleke é uma adolescente que se vê numa embrulhada quando, juntamente com os seus amigos, invadem a casa de um estranho, são descobertos e acabam por ter que o aprisionar.

Podendo ser considerado uma espécie de narrativa antológica, “Last Stop” é constituído por seis capítulos divididos em três secções cada, uma para cada protagonista. Logo no início indiciando uma maior liberdade de escolha, que contraria a narrativa firmemente controlada de “Virginia”, o jogador pode escolher a ordem pela qual joga as secções de cada capítulo (embora nunca possa avançar para o capítulo seguinte sem completar as três secções do capítulo atual). Para justificar a história tripartida, existe também um sétimo capítulo onde as histórias convergem e os três protagonistas se juntam no mesmo local.

As três histórias estão muito bem construídas e escritas, havendo espaço para vários géneros (como drama, comédia e thriller). Os diálogos estão excelentes, sendo suficientemente realistas a ponto de fazer esquecer os gráficos algo simplistas quando comparados com o que as tendências modernas têm habituado os jogadores.

As três histórias de “Last Stop” convergem numa narrativa geral, de cariz sobrenatural

Ainda assim, o principal amargo de boca que “Last Stop” deixa no jogador é causado pela sua jogabilidade. Pretendendo ser uma narrativa interativa e ramificada, o jogo usa uma mecânica de escolha de diálogos já vista em vários jogos do género (exemplos: “Heavy Rain“, “Until Dawn“). Ao contrário da maioria destes jogos, em “Last Stop” as três opções de diálogos que são apresentadas são, em mais de metade das vezes, variações subtis da mesma resposta e, consequentemente, as três suscitam a mesma reação por parte do interlocutor, criando uma sensação de falsa liberdade de escolha ao jogador.

As experiências de dois jogadores distintos divergirão sobretudo no final, onde, para cada personagem, existem dois finais possíveis, apenas dependentes de uma escolha binária feita no epílogo do jogo. A jogabilidade conta ainda com uma mão cheia de minijogos, que, para além de serem simples, também caem no erro de resultar na mesma consequência, quer o jogador os complete, quer não.

Não se pretende com isto querer afirmar que a linearidade de um jogo é algo necessariamente mau, algo provado eximiamente com a experiência controlada que é “Virginia”, o jogo anterior da mesma desenvolvedora. Quer-se sim argumentar que “Last Stop”, ainda que brilhe no capítulo narrativo, usa a interação de forma a ludibriar os jogadores, fazendo-os sentir que têm poder de intervenção, quando na verdade não o têm. Como tema já retratado em inúmeras histórias, uma falsa liberdade é tão má quanto a ausência da mesma.

Disponível em: Nintendo Switch, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S, Windows

Luís Ferreira

Rating: 2.5 out of 4.

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