António Emílio Leite Couto (Mia Couto) nasceu a 5 de Julho de 1955 em Moçambique. Filho de emigrantes portugueses, optou por adoptar o nome próprio “Mia” por gostar imensamente de gatos – o que não deixa de ser uma curiosidade bastante querida. A verdade é que desde cedo começou a demonstrar aptidão e paixão pela escrita, ao ponto de aos 14 anos já publicar poemas no jornal “Notícias da Beira”.
Posteriormente, em 1971, com 16 anos, começa a sua jornada pelos estudos académicos na área de Medicina, mas, após a revolução de 25 de Abril, abandona esses estudos para ser jornalista. No entanto, mais uma vez, em 1985, abandona essa carreira para voltar à Universidade e, desta forma, finalizar o seu curso em biologia, o que viria a acontecer quatro anos depois.
A sua paixão pela escrita e pela Literatura esteve, factualmente, sempre presente na sua vida, tendo em 1983 publicado o seu primeiro livro de poemas, “Raiz de Orvalho“, que, no fundo, se trata de uma antologia de poemas com o objectivo de corromper com as tradições culturais africanas. Algo que é, invariavelmente, inegável é que a escrita de Mia Couto veio dar lugar a um espaço inovador e verdadeiramente singular.
Por conseguinte, nas décadas de 1980 e 1990 continuou a escrever, dedicando-se a crónicas, contos e poesia e romances. Aliás, o seu primeiro romance, “Terra Sonâmbula“, lançado em 1992, considerado por muitos, até agora, o magnum opus da sua carreira literária, veio reconstituir o passado, elevando os oprimidos marginalizados pela Guerra e pelos sistemas de poder. Três anos mais tarde, estaria a receber, precisamente por esta obra, o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos.
Desta forma, todo o trabalho de Mia Couto é ferozmente reconhecido pela comunidade literária, não só pela sua qualidade intrínseca e originalidade associada às temáticas que aborda de forma criativa, mas sempre pertinente, e naturalmente, também pelo contributo amplo que deu à Língua Portuguesa. E muito por causa disso, mas não só, foi reconhecido, em 2013, com o Prémio Camões (25.ª edição), um dos mais importantes galardões da nossa língua.

No seguimento da entrega, afirmou que “há que fazer com que todas as palavras assumam a dimensão que podem ter” e que – comicamente – “os prémios que se recebem são (no fundo) acidentes de percurso“. É hoje o escritor moçambicano mais traduzido. Por outro lado, nos dias de hoje, Mia Couto trabalha como biólogo, de forma a analisar as vertentes de impacto ambiental em Moçambique.
Segundo especialistas e entendidos, Mia Couto foi capaz de recriar a Língua Portuguesa, dando-lhe um novo sentido, uma nova voz, um novo olhar, através de um léxico rico e complexo (de várias regiões moçambicanas), mas também a partir de um novo modelo de narrativa africana. De tal forma que, actualmente, tem os seus livros publicados em mais de 22 países, o que pressupõe, inegavelmente, que faz parte do leque brilhante de referências literárias de sempre da Língua Portuguesa, mas também, podemos dizer, do mundo.
Para além das obras já mencionadas, entre os romances e contos escritos pelo moçambicano encontram-se: “Cada Homem é uma Raça” (1990), “Na Berma de Nenhuma Estrada” (2001), “O Último Voo do Flamingo” (2000), “O Outro Pé da Sereia” (2006), ou “A Espada e a Azagaia” (2016).


Mia Couto costuma até dizer que: “Às vezes penso que não quero regressar da escrita, e então não regresso“, realçando precisamente a ligação forte com a escrita que o autor, e até o próprio leitor, tem: uma ligação carnal, poética, catártica, digna do inexplicável e do indizível… “É somente quando escrevo que me sinto vivo e capaz de sonhar“, disse uma vez o próprio.
Um apaixonado pela Literatura, que apaixonou o Mundo.
“O paraíso não é um lugar, é um breve momento que conquistamos”
(excerto da obra de Mia Couto, “Pensageiro Frequente“, de 2010)
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2 thoughts on “Mia Couto: Uma nova voz”