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Porque A Arte Somos Nós

Frank Zappa e Captain Beefheart (o pseudônimo de Don van Vliet) eram amigos desde os primeiros dias na Antelope Valley High School em 1958. Eles compartilhavam o interesse em discos de blues, sendo claro que músicos como Howlin’ Wolf tiveram uma enorme influência em ambos. Depois de Zappa formar os The Mothers of Invention, Beefheart começou a sua própria banda, The Magic Band, em meados dos anos 60, apesar de alguns anos mais tarde se sentir desiludido com a indústria musical.

Antes de “Bongo Fury”, Frank produziu a obra-prima “Trout Mask Replica“, e Beefheart cantou Willie The Pimp em “Hot Rats” (ambos os álbuns lançados em 1969). Ao longo dos anos 70, Beefheart tornou-se um músico de culto, mas as vendas eram muito baixas, mesmo com algumas tentativas de música mais comercial. Devido a obrigações contratuais, ele não pode gravar novo material em 1975, então voltou a atenção para Frank Zappa, pedindo ajuda.

Através deste álbum ao vivo, fica claro que a música tem uma forte influência blues-rock, pois são sons muito crus e fortes (talvez isso explique o título do álbum), e não complexos como no estilo de Zappa. Os vocais ásperos de Beefheart nunca soaram tão bem como agora, até contribui com duas músicas (Sam With The Scalp Flat Top e Man With The Woman Head), e a banda é fantástica com uma abordagem mais simplista.

O estilo de Zappa neste álbum também pode ser visto como mais focado na guitarra eléctrica, fornecendo os riffs e ideias básicas para as peças antes de realmente sair tangente com os seus solos, juntamente com o humor negro e piadas surrealistas. Este álbum também é o último dos The Mothers enquanto banda.

“Bongo Fury” começa com Debra Kadabra, uma típica música de blues com algumas passagens mais jazzy, seguida por Carolina Hard-Core Ecstacy, um tipo de hino com um coro épico e alguns ótimos vocais de Beefheart, além de um excelente solo de Zappa no meio da loucura. Advance Romance é a faixa mais longa do álbum, uma peça épica de 11 minutos com uma secção instrumental de blues-rock e mais um solo incrível de Zappa no topo, além de um excelente trabalho rítmico realizado pelo baterista Terry Bozzio e pelo baixista Tom Fowler.

Captain Beefheart e Frank Zappa

O disco termina com um clássico, Muffin Man, com Frank a personificar um cientista louco, seguido por um contagiante riff, abrindo as portas para um solo esmagador, cortesia de Zappa. Apesar de ser um álbum ao vivo, existem duas faixas de estúdio, 200 Years e Cucamonga, não que sejam propriamente más, mas ainda deixam algo a desejar.

Em suma, a final colaboração entre dois amigos de longa data revela-se um grande esforço, abrangendo um repertório blues e rock, e demonstrando as habilidades de ambos os músicos, apesar da música ser mais direta e simples. Além das duas faixas de estúdio, o resto é material original, bem conseguido e muito divertido de se ouvir. Dito isto, Frank, juntamente com Beefheart, oferece um excelente álbum ao vivo.

João Filipe

Rating: 3 out of 4.

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