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Porque A Arte Somos Nós

É, sem qualquer dúvida, um dos estilos cinematográficos mais apreciados pelos fãs de cinema, os épicos. Seja pela grandiosidade dos cenários, seja pela temática centrada em grandes figuras da história ou apenas pelo efeito visual que normalmente estes filmes nos proporcionam, os épicos têm vindo a marcar a história do cinema ao longo das décadas. São normalmente caracterizados por se tratarem de produções em larga escala e por se centrarem, por norma, em grandes figuras da história mítica ou real, dando-nos uma imagem, obrigatoriamente ficcionada, de pessoas ou factos que de outra forma nos seria difícil imaginar… não fosse esta a magia do cinema. São exemplos disso o princípe Judah Ben-Hur, o gladiador Espártaco (Spartacus) ou Jesus de Nazaré. Porém, podem também abordar a história de um povo ou um determinado período histórico que tenha sido marcante na nossa existência, ou um romance, ou até ficção científica. Em suma, quando falamos de épicos, falamos de coisas em grande!

Foi por volta dos anos 1950 que os grandes estúdios cinematográficos se começaram a dedicar à realização deste tipo de filme, vendo aqui uma janela de oportunidade junto de um público sedento de novidades. É impossível falar de filmes épicos sem referir aquele que serve como referência no estilo, à época: “Ben-Hur” (William Wyler, 1959). Adaptado da obra de Lew Wallace, “Ben-Hur: A Tale of The Christ“, publicada em 1880, e sendo já um remake de um filme produzido em 1925, mudo, William Wyler e a Metro-Goldwyn-Mayer não olharam a meios para produzir este megafilme, sendo até à época a produção mais cara de sempre atingindo uns impressionantes 15 milhões de dólares. Situando-se no ano 26, conta a história de um príncipe judeu que é condenado pela lei romana e convertido à mesma, retornando mais tarde a Jerusalém onde encontra sua mãe e irmã doentes com lepra e maltratadas pelos romanos, decidindo então renunciar à lei romana e a todos os seus bens, procurando a cura de ambas na fé em Jesus Cristo, que por essa altura era julgado por Pôncio Pilatos. Após assistirem à crucificação, sua mãe e irmã são curadas com a chuva que começa a cair copiosamente, e pela fé que as acompanha. Filmado no Egipto e em Israel, recorreu a meios impressionantes para a produção: mais de 10.000 figurantes, mais de 2.000 cavalos e centenas de camelos, um guarda-roupa incrível e cenários nunca antes vistos (a corrida de brigas é um exemplo destes cenários megalómanos). Não é pois com surpresa que “Ben-Hur” conquista 11 Óscares da Academia, entre eles o de Melhor Filme, Melhor Actor (Charlton Heston), Melhor Realizador (William Wyler), Melhor Fotografia, entre outros. É, sem dúvida alguma, uma obra de referência da sétima arte, tendo sido dos filmes mais galardoados de sempre.

Enquadram-se também neste estilo de épico bíblico filmes como “Sansão e Dalila” (Cecil B. DeMille, 1949), “Quo Vadis” (Mervyn LeRoy, 1951) com um elenco notável como Robert Taylor, Deborah Kerr ou Peter Ustinov, “Os Dez Mandamentos” (Cecil B. DeMille, 1956) também com um elenco fantástico onde se destacam Charlton Heston e Yul Brynner, ou o “Rei dos Reis” (Nicholas Ray, 1961) que relata a vida de Jesus Cristo baseada nos quatro evangelhos do Novo Testamento e que conta com a narração de Orson Welles.

Curiosidade: quase todas estas obras têm uma duração de perto de três horas (com excepção de “Sansão e Dalila”), sendo que “Os Dez Mandamentos” têm uma duração épica de três horas e cinquenta minuto.

No estilo de épicos históricos é obrigatório falar em “Guerra e Paz“, obra escrita por Liev Tolstói em 1869 e realizada para cinema por King Vidor em 1956. Com três horas e meia de duração, conta com um elenco de primeira onde se destacam Audrey Hepburn, Henry Fonda, Mel Ferrer e Oskar Homolka. Um retrato de sofrimento de uma Rússia em guerras sucessivas aquando das campanhas de Napoleão nas conquistas europeias e onde as relações amorosas são quebradas pelo sangue derramado nos campos de batalha. Mais um filme em que os recursos foram imensos, tendo tido um orçamento elevadíssimo para a época. Os seus inúmeros figurantes e um guarda-roupa incrível contribuíram sobremaneira para que tal acontecesse. Também “Spartacus” (1960) é uma referência, com a realização de Stanley Kubrick e um elenco colossal, venceu quatro Óscares e relata a história de um escravo que se torna gladiador e lidera, a partir da arena, a revolta dos escravos contra o decadente poder romano. É um filme incrível e tem em Kirk Douglas o seu expoente máximo, num desempenho inesquecível, coadjuvado ao longo das mais de três horas de filme por Laurence Olivier, Jean Simmons, Peter Ustinov e Tony Curtis. Imperdível. E o que dizer de “Lawrence da Arábia” (David Lean, 1962 – 3:45h) com o desempenho inesquecível do grande Peter O’Toole e que levou à conquista de, nada mais nada menos, que sete Óscares da Academia. É impossível gostar de cinema e nunca ter visto “Lawrence da Arábia” com os seus luxuriantes cenários naturais enquadrados na Península Arábica e o relato baseado na vida de T. E. Lawrence, arqueólogo, militar, diplomata e escritor britânico que viveu entre 1888 e 1935. Outra obra magnifica é “Cleópatra” (Joseph Mankiewicz, 1963 – 4:08h) com a esplendorosa Elizabeth Taylor no papel principal, e que relata a resistência da Rainha Egípcia à ocupação romana. Esta produção quase levou à falência a 20th Century Fox, tal a dimensão de tudo o que envolveu a feitura deste filme. Desde cenários que tiveram que ser refeitos por várias vezes até mudanças constantes do elenco, tudo contribuiu para os números exagerados que envolveram esta película. Ainda assim, o filme arrecadou quatro Óscares e teve como curiosidade o facto de a duração do filme pós-montagem ser de seis horas. No entanto, e após exigências feitas pelos estúdios, o realizador foi “cortando” até chegar à duração de mais ou menos três horas para que o filme pudesse ser exibido nas salas de cinema pelo menos duas vezes por dia! O formato actual ronda as quatro horas. Outras obras do mesmo estilo, mas mais recentes, são “Gandhi” (Richard Attenborough, 1982 – 3:08h) com Ben Kingsley no principal papel, “Gladiador” (Ridley Scott, 2000 – 2:35h) que projectou Russel Crowe para o estrelato, “O Último Samurai” (Edward Zwick, 2003 – 2:34h) com Tom Cruise ou “Tróia” (Wolfgang Petersen, 2004 – 2:43h) com Brad Pitt no papel do famoso Aquiles.

Não percam a “Parte II” deste artigo, porque nós também não…

Jorge Gameiro

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