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Como já mencionado em artigos anteriores, poderão ser muitas as razões que levam um consumidor de entretenimento a, num determinado momento, preferir jogar um videojogo ao invés de assistir a um filme. Seja pela participação ativa que os jogos fomentam ou pela simples possibilidade de competição, uma boa parte dos videojogos distanciam-se de qualquer outra arte ou, para evitar discussões, de qualquer outra forma de entretenimento. Mesmo quando se trata de jogos mais voltados para narrativas clássicas (que podem ser lineares ou não), a necessidade de intervenção do jogador faz como que não haja dois a jogarem um mesmo jogo de forma igual.

“What Remains of Edith Finch” situa-se num género peculiar onde as classificações entre videojogo e filme se misturam, sendo curiosamente um dos poucos exemplos que jogam a favor do argumento de que os videojogos são uma forma de arte. O jogo foi desenvolvido pelo estúdio Giant Sparrow e lançado pela Annapurna Interactive, a divisão gaming da empresa Annapurna Pictures, uma das mais conceituadas produtoras e distribuidoras de cinema indie da atualidade. O primeiro lançamento foi feito em 2017 e o jogo pode ser jogado atualmente em Windows, PS4, XBox One e Nintendo Switch.

“What Remains of Edith Finch” pode ser incluído no género dos chamados walking simulators

Na história, a protagonista Edith Finch regressa à antiga casa da família na Ilha Orcas, situada na zona costeira do estado de Washington, uma habitação já abandonada uma vez que todos os seus habitantes e membros da família Finch já faleceram, sendo Edith a última pessoa viva. É precisamente este retorno à casa, que irá espoletar as várias memórias de Edith (sobretudo da sua infância) e descobrir como é que cada membro da família faleceu, acontecimentos que esta vai registando no seu diário. O papel do jogador prende-se com a tarefa de exploração desta enorme casa, visitando os vários quartos e restantes divisões, e interagindo com elementos que acionam as memórias de Edith.

“What Remains of Edith Finch” seria um jogo como tantos outros walking simulators não fosse um pequeno fator que distingue o jogo. Cada memória, que representa o momento da morte de cada membro da família, tem também pequenas sequências jogáveis, com diferentes estilos dependendo da personagem em questão e da sua personalidade. A jogabilidade é ajustada consoante a história que está a ser contada, cada uma com um estilo visual muito próprio.

O resultado do jogo é uma combinação antológica destas experiências, quase sempre contadas sob o ponto de vista de um dos familiares de Edith, agregadas numa narrativa maior que retrata os acontecimentos trágicos que trouxeram a desgraça e desmembramento da família Finch. Para guiar a atenção do jogador, a narração constante de Edith é um grande auxílio, onde também as suas palavras são visualmente apresentadas no ecrã, numa espécie de legendas dinâmicas.

A forma como o jogo guia o jogador torna a narrativa mais controlada

Ainda que o jogo partilhe muito com jogos do género, tais como a exploração na primeira pessoa e a existência de narrativas mais pausadas, os grandes fatores de diferenciação estão nos pequenos detalhes que quebram algumas convenções do género. Ao contrário de jogos semelhantes, a narrativa é bastante linear, o que quer dizer que os jogadores são levados a seguir um percurso quase fixo pela casa, usando para isso artifícios como portas trancadas ou passagens secretas que só mais tarde são descobertas.

A maior linearidade do jogo permite um maior controlo narrativo, sobretudo a nível de ritmo e consistência da história, do que se houvesse liberdade para o jogador explorar a casa pela ordem que quisesse.

É esta falta de controlo por parte do jogador que leva muita gente a considerar “What Remains of Edith Finch” mais um filme do que um jogo, onde as cerca de duas horas de duração e a pouca interação que existe contribuem para o debate. As críticas não foram suficientes para que “What Remains of Edith Finch” deixasse de ser um dos jogos mais bem recebidos de 2017, tendo vencido vários prémios de jogo do ano e ter arrecadado o prémio de melhor narrativa nos The Game Awards desse ano.

Quer seja considerado um jogo que é visto ou um filme que é jogado, “What Remains of Edith Finch” mistura o melhor dos dois mundos para apresentar uma das melhores experiências narrativas dos últimos anos.

Luís Ferreira

Rating: 3.5 out of 4.

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One thought on “Jogo: “What Remains of Edith Finch” – Um jogo cinemático ou um filme jogável?

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