“News of the World” é um título que podemos associar ao famoso jornal britânico que viu a sua última edição ser publicada a 10 de julho de 2011, ou até a um dos mais famosos álbuns dos Queen, publicado em 1977 e que contém as famosas We Will Rock You e We Are The Champions. Neste caso, podemos afirmar que está mais relacionado com o primeiro exemplo. O filme não retrata de todo o histórico tabloide britânico, mas o nosso personagem principal tem como principal função levar as notícias às comunidades de uns Estados Unidos pós-guerra civil, ou seja, em meados do século XIX.
Essa curiosa função está a cabo do ex-combatente Jefferson Kyle Kidd, aqui magnificamente desempenhado por Tom Hanks, que faz sobressair a sua experiência e total controlo sobre o que lhe é pedido, revelando uma entrega total ao papel e às suas respetivas emoções. Hanks já havia trabalhado com o realizador deste “News of the World”, Paul Greengrass, mais precisamente em “Capitão Phillips” (2013). Greengrass participa também no argumento de “News…”, permitindo assim ter uma clara noção de quem seria o ator ideal para desempenhar o papel deste experiente aventureiro.
A narrativa da obra passa-se a norte do estado do Texas, com muitas paisagens áridas e onde a lei era ainda posta em prática pelas próprias mãos. Resumidamente, não eram dias fáceis. Jefferson Kyle Kidd tem como função fazer o que as outras pessoas não têm tempo para: trazer os jornais à mesa e, como uma espécie de missa ou convenção, ler e entreter as pessoas com o que de novo se passava pelo mundo (mais precisamente nos EUA). Em troca, era pago pelos ouvintes de forma a conseguir sobreviver e a deslocar-se até à próxima “cidade”.

Numa dessas viagens depara-se com um homem negro asfixiado, uma carruagem destruída e uma pequena menina perdida. Kidd viu-se sem outra saída a não ser acolher a jovem rapariga, que apelidou de Johanna, e incumbiu-se da missão de a levar a casa – ou pelo menos a quem pudesse cuidar dela. Johanna, interpretada por Helena Zengel de forma irrepreensível, é descendente de uma família alemã e posteriormente abandonada pela comunidade de nativos americanos que assassinaram os seus pais. Johanna tenta comunicar com Kidd em dialeto Kiowa, algo que até certo ponto da história dificulta a comunicação entre os dois.
“News of the World” é um road-movie pelo velho oeste, onde uma relação improvável deixa bem visível as melhores qualidades de Hanks, originando uma catarse para com o espetador no que toca à proteção, coragem e solidariedade para com os personagens mais desfavorecidos. A confiança de Kyle Kidd e Johanna evolui a olhos vistos, e nós somos levados com eles. É impossível não achar graça ao desconhecimento da jovem rapariga que nunca tinha provado café ou açúcar, que demonstra uma curiosidade constante em aprender e experimentar coisas novas. Tem para isso o melhor shaman.
Na primeira cidade a que chegam os dois, para além de Kidd ser obrigado a ensinar boas maneiras à mesa a Johanna, esta última chama à atenção a três forasteiros. Primeiramente, estes tentam comprar a rapariga, mas após uma resposta negativa, o grupo tenta raptar a jovem companheira de Kidd. Felizmente para os nossos aventureiros, os seus instintos de sobrevivência falam mais alto do que as dificuldades comunicativas. Desde balas com moedas a sinais, os olhares pareciam dizer tudo, revelando que nem sempre são precisas palavras para uma forte união se formar.

O agora contador de histórias, ou neste caso de notícias, revela que não perdeu os seus skills de combate, espelhando mais uma vez que este não se trata de um filme onde a violência e o peso da história ficam de fora. Com o decorrer da viagem, a jovem Johanna parece ficar cada vez mais à vontade com o ‘capitão’, ensinando-lhe certas palavras em Kiowa. A jornada que estes atravessam simboliza também uma espécie de aprendizagem, com Kidd a provar ser sábio quanto aos seus ensinamentos: “temos de seguir esta linha“, pois não devemos olhar para o passado, só o futuro nos pode atingir.
A meio da sua viagem, os nossos protagonistas vêm-se obrigados a ajudar um influente “empresário”. O seu negócio são as peles de búfalo, deixando bem claro a ambição desmedida e as crenças coloniais presentes nesta página da história. Desde o princípio, “News of the World” alerta para o desaparecimento da comunidade nativa americana ao longo dos anos, deitando largas culpas ao excessivo uso da força e ao preconceito por parte dos “invasores”.
Voltando à narrativa, Kidd tem uma intervenção digna de nota. Este à luz da razão e da realidade, mas também graças ao seu carisma em discursar, usa do seu dom da palavra para comunicar algo que não estava nos planos. Ao invés de ler uma notícia de propaganda, este conta uma tragédia passada num campo mineiro, mas fá-lo de tal forma brilhante e pertinente que consegue abrir os olhos à população subjugada pela força do medo, por parte de uma minoria violenta e oportunista. Mais uma vez, fica demonstrado que a verdade só necessita de ser comunicada pelas pessoas certas para criar impacto. A força está na mensagem, não na quantidade dos que a profetam.

Após a chegada ao objetivo final, a despedida evoca um sentimento de tristeza, mas ao mesmo tempo de responsabilidade. Por vezes temos de sacrificar o que mais gostamos por algo ainda melhor. Outras vezes, não. Após saber do falecimento da sua mulher, pois não nos podemos esquecer que o Capitão Jefferson Kyle Kidd esteve anos afastado da sua terra, este encontra um vazio em sua casa. Deixara de haver uma razão para ficar, mas a luta ainda era possível graças a um sentimento que se criou: Johanna. Uma alma selvagem que claramente não se adaptou à vida com a sua família afastada, uma criança impedida de ter uma infância digna. Kyle Kidd seguiu o coração.
Com um final não muito surpreendente, “News of the World” faz do espetador também um viajante. A sua banda sonora é carregada de drama e composta por James Newton Howard, por vezes a fazer lembrar o jogo “Red Dead Redemption“, sendo que a fotografia também não fica atrás na lista de méritos, revelando a beleza imponente do interior dos Estados Unidos. A caracterização dos personagens é também exímia, não deixando espaço a pontos negativos. Carregado de significado, sem nunca esquecer o valor da informação, a obra de Paul Greengrass vai ao encontro do dever cívico em consonância com uma bonita história de amizade e sobrevivência, fácil de rever daqui a uns meses na televisão.
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