“Gran Torino” (2008) conta a história de Walt Kowalski (Clint Eastwood), um trabalhador aposentado e veterano da Guerra da Coreia, que tenta preencher a sua vida com algum significado após a morte da sua esposa. A dado momento, ele protege o seu vizinho, Thao (Bee Vang), um adolescente asiático, que é forçado por um gangue a roubar o precioso automóvel de Walt, um Gran Torino. A partir daí, uma improvável amizade desenvolve-se entre os dois, de tal forma que Walt começa a aprender que tem muito em comum com os seus vizinhos asiáticos. Este filme é escrito por Nick Schenk e Dave Johannson, e realizado por Clint Eastwood.
“Gran Torino” é uma história da amizade improvável entre Walt e Thao, que, perante as suas diferenças culturais, e, inclusive, depois deste ter tentado roubar o seu carro, conseguem criar uma ligação com bastante profundidade e conteúdo humano. O primo de Thao pertence a um gangue no seu bairro e obrigou-o a tentar roubar o carro de Walt, carro esse que tem bastante significado para este último.
Posteriormente, a irmã de Thao, Sue (Ahney Her), após ver Walt a defender Thao do seu primo, ganha bastante admiração pelo veterano de guerra. Como forma de se redimir, por sugestão da sua irmã, Thao passa uma semana com Walt a tratar do que fosse necessário na sua casa ou no bairro, aprendendo bastante com ele e começando a criar uma certa afinidade.

Este filme tem a capacidade de nos empurrar para dentro de toda a personalidade que Walt carrega dentro de si. Um homem que acaba de perder a pessoa que mais ama e pouco chegado aos seus filhos, carrega consigo alguns arrependimentos e dores que o impedem de usufruir do presente. É quase um homem que sabe mais sobre a morte, pela experiência na guerra, do que propriamente sobre a vida, mas que dentro de toda essa amargura e frieza guarda uma humanidade tão requintada, algo deveras frequente nos filmes do próprio Clint Eastwood, isto é, a própria angústia do homem no tempo e em lidar com o passado.
Walt inicialmente olha para Thao com uma certa desconfiança, algo que acontece muitas vezes nas nossas relações, o facto de não darmos espaço suficiente à outra pessoa para se revelar; no entanto, se prestarmos a devida atenção, entendemos que, por vezes, as impressões que criamos das pessoas resultam, acima de tudo, de circunstâncias e não propriamente da sua essência. E é isso que Walt aprende ao longo da sua jornada.
Além disso, a obsessão que certas pessoas vão tendo para com o seu carro, de certa forma, elevando-o, transporta este simbolismo do título numa mensagem bastante particular: por vezes – ou quase sempre –, aquilo que temos de mais valioso não é o objeto em si, mas, acima de tudo, aquilo que ele representa. E, nesse sentido, a narrativa deste filme consegue fazer um trabalho exímio, ao mostrar aquilo que verdadeiramente significava para Walt, ao ponto de mostrar o outro lado de uma pessoa que aparenta viver sem esperança e sem rumo.
E toda esta marca que vemos em Walt vem seguramente da experiência que teve na guerra. Por outro lado, a ligação fria que tem para com os seus filhos é por de mais evidente, com várias demonstrações destes a tentarem aproveitar-se do pai, em vez de estarem seriamente preocupados com ele. Apesar de tudo isso, Walt ganha um carinho muito especial por Thao e Sue, que o faz defendê-los do gangue do primo com toda a valentia e força.

Uma outra personagem que apresenta bastante relevo é o padre Janovich (Christopher Carley), que após a morte da esposa de Walt, este prometeu vigiá-lo de perto, mesmo perante a relutância deste em deixar que o padre se meta na sua vida. A sua persistência e o seu carácter permitiu que, em conversas com Walt, sejam tecidas as reflexões mais interessantes, em matéria de diálogo, de todo o filme.
No entanto, a saúde de Walt não aparenta estar nos seus melhores dias. Após a perda da esposa, que o abalou emocionalmente, e sendo também ele fumador, começou a ter alguma tosse com sangramentos. Não chegamos a entender exatamente a condição de Walt, mas percebemos que, provavelmente, é grave, e ele chega a ter uma certa noção disso mesmo, quando decide ir ao médico e recebe os resultados das suas análises ao sangue.
Assim, a magia de “Gran Torino” é fazer-nos acreditar que por mais sombrio que possa ser o nosso passado, nada é definitivo, e devemos fazer de tudo para cultivar a paz, o amor e a harmonia no presente. Além disso, emocionalmente falando, é profundamente inesquecível.
“Aquilo que mais atormenta um homem é aquilo que não lhe mandam fazer”
Walt Kowalski
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Falta fazer as referências a Dirty Harry e como este projecto seria originalmente um projecto com o carimbo da saga do Inspector.
O foco desta crítica — tal como todas as que escrevo — foca-se na profundidade narrativa (em conteúdo e na forma), mais do que em fazer referências. No entanto, agradeço o comentário