“A vida é uma passagem
O mundo segue seu caminho
Tudo vem, tudo passa
A vida passa, o tempo passa
Os dias, os meses e os anos
As horas, os minutos e os segundos
Tudo passa, tudo se vai
As pessoas passam
Umas se vão, outras chegam
A saudade é o alívio
As lembranças são acalentos
Que tranquilizam a alma
A vida passa, tudo passa
E o mundo segue seu caminho.“
(um dos poemas do livro)
Estava num café em Lima, Peru, quando, observando o fluxo de pessoas na calle (rua), disse à minha namorada: “Engraçado, todos nós estamos indo e vindo o tempo todo!”. O que à primeira vista pode ser entendido como algo tolo, ou até estúpido, carrega em si questões complexas e inaugurais do pensamento Ocidental, basta estudarmos a dicotomia entre a “permanência” de Parmênides e o “constante devir” de Heráclito de Éfeso. Isso remete às aulas inaugurais de Filosofia.
Pois bem, a leitura dos poemas de Abdul Assaf contidos no livro “Escriba da Alma” (Editora Futurama, 86 páginas) constitui esse olhar para as coisas mesmas da vida. Simples e singelas, com altas doses de reverberação intimista advinda do psicologismo provenientes dela. E isso não é pouca coisa. Entendendo tratar-se do seu primeiro livro, podemos definir como poemas de formação. Por isso, certo exagero no singelo pode evocar descuido, desconhecimento, mas nada disso. “Escriba da Alma” é a semente para trabalhos vindouros, entendendo que o constante aperfeiçoamento faz parte do ofício do escritor.

Lendo e ouvindo depoimentos do autor, trabalhando no agenciamento literário desta obra, soube das suas referências e inspirações literárias: Cazuza e Renato Russo. Certamente, são músicos e letristas admiráveis, mas proponho a Abdul Assaf o adubo com as marcas de Rimbauld, Baudelaire, T. S. Eliot, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, William Butler Yeats, Paul Válery, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Manoel Bandeira, só para ficar em alguns.
Que a introspeção seja clima propício a continuar pelo mundo da literatura, que a tessitura dos textos se construa fora do alarido mediático da autopromoção e que o fruto seja o prédio de uma promissora carreira literária.
Nesse mundo tão corrido, a introspeção pede passagem e exige lugar. Cada poema de “Escriba da Alma” pode ser lido separada e alternadamente, sem prejuízo do todo. Esse instante de respiro necessário para contrastarmos com a crueza do mundo cão, da necessidade premente de levar o pão para casa. Que os leitores se deleitem com esta obra, que exijam do autor a sequência de outros trabalhos artísticos, quem sabe casando alguns projetos com a música e com a comunicação? Fica a dica.
Findo aqui, aguardando o tempo passar, relendo “Escriba” alternadamente, sempre com um olhar novo e com a eterna definição de Heráclito: “Não tomamos banho no mesmo rio por duas vezes. Pois, quando entrarmos para tomarmos um novo banho, é diferente o rio. E sou diferente também“.
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