OBarrete

Porque A Arte Somos Nós

Sofia Maciel é uma jovem artista visual e performativa que vive, trabalha e estuda entre Lisboa e Leiria. Em menina, quando ainda não sabia exatamente o que eram manifestações artísticas, olhava e experienciava a arte com tremenda curiosidade. Foi com naturalidade que concluiu o ensino secundário na Escola Artística António Arroio, com especialização de Realização Plástica do Espetáculo – Cenografia e Figurinos, em Lisboa, de 2016 a 2018. Durante este período, terminou também a Academia de desenho e pintura na MART – Escola de formação e experimentação avançada nas Artes Visuais.

Além disto, participou em diversas exposições quer individuais como coletivas, cimentando de uma forma séria e dedicada a sua arte. De momento frequenta o último ano da licenciatura em Artes Plásticas, na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, em Leiria.

No trajeto do seu acumular de experiência, foi selecionada pelo BalletTeatro do Porto para o Ciclo Projeções – Ciclo de Performances Artistas Emergentes (2020) a apresentar no Coliseu Ageas do Porto. Foi no sentido de receber feedback da artista relativamente a esta última aventura e de descobrir mais sobre as suas crenças que OBarrete abordou a artista.

Desde o ensino secundário que as artes te estão no sangue. Foi algo que descobriste durante esta fase da tua vida ou vem da tua infância?

R: Na realidade sempre me interessei por manifestações artísticas, que de outro modo chamava o outro lado das coisas, como quando olhava para as formas das nuvens. Sempre tive um fascínio em construir e desconstruir imaginários à volta dos objetos e das imagens que me chegavam. Não me lembro de mim mesma sem que isto não estivesse presente.

Lembro-me muito bem quando em criança pintava, desenhava, ordenava, imitava, montava, criava exercícios para desempenhar sozinha (aquilo que neste momento assumo como ações performativas que possibilitam construir-me enquanto humano). Tudo isso vai de encontro ao que hoje faço, numa perspetiva ampliada e mais consciente sobre o que essas mesmas coisas assumem e acendem.

Quem são, no seio da arte, os teus maiores heróis ou heroínas?

R: (Silêncio)

Não simpatizo com esses termos. Reconheço pessoas (artistas ou não) fundamentais no meu caminho. São essas pessoas que me potenciam, aqueles me impulsionam na liberdade com que (re)visito alguns assuntos.

Tenho de nomear tanto no universo artístico como no literário, um conjunto de seres que prezo bastante como: Rebecca Horn (Alemanha), Pina Bausch (Alemanha), Dumb Type (Coletivo do Japão), Ryoji Ikeda (Japão), George Bataille (França), Emil Cioran (Roménia)… entre outros.

Quando te expressas quer por meios visuais, quer através de performances em palco, o que esperas evocar nos recetores?

R: O que mais me importa é trazer a potência da presença a qualquer corpo que esteja em relação com a obra e desse modo a integre. Interessa-me muito a atenção total que um corpo pede e a capacidade que este encontro tem no desencadear de profundas constelações e dúvidas disruptivas nas imagens.

Em relação aos workshops de performance e formações, o que consideras que te tenha permitido fazer atravessar no teu trabalho?

R: Todas as pessoas que tenho vindo a conhecer nesse contexto, quer seja pelas experiências performativas, quer pela convivência pessoal com elas, têm-me permitido com muito estímulo, submergir no meu processo de trabalho, permitindo reconhecer métodos e desconstruir estruturas lógicas do corpo e do pensamento. É importante para mim referir como essas experiências me possibilitaram, por exemplo, pensar e sentir o corpo do outro, estar a sós no espaço público, encontrar uma imagem a partir do coletivo ou do processo de solitude…

Tendo participado em diversas exposições, performances, revistas e workshops nos últimos anos, consideras que uma postura pró-ativa é diferenciadora e recompensadora no mundo artístico em Portugal?

R: A autodisciplina, a dedicação, o foco e o trabalho sistemático são premissas fundamentais para tornar uma ideia real. A par disto, não diferenciar o artista da sua própria pessoa, viver integro como um só.

O que sinto em relação a isso, é que a autoexigência é a chave diagnóstica que permite compreender melhor o que fecunda o próprio trabalho. No entanto, a seriedade com que se aprofunda um assunto é um ato de liberdade assumida, e como tal, se for compreendida e valorizada, é recompensadora no sentido em que é reconhecido o papel da arte como processo de construção e assimilação de uma existência seja de que natureza for.

A tua aventura mais recente foi no Coliseu Ageas do Porto, onde foste selecionada pelo BalletTeatro do Porto no âmbito do Ciclo de Performances Artistas Emergentes. Como foi a experiência e qual era a vontade de a repetir?

R: Lembrar-me desse acontecimento é muito especial para mim.

Em primeiro lugar, “Chapter Five” foi a obra que apresentei no Coliseu e tem uma importância infinita nesta fase do meu trabalho em que tenho procurado refletir sobre a maneira como um corpo pode existir – uma conciliação do prazer e da sobrevivência. Nesse sentido, o primeiro momento do projeto ainda em fase de estudo, surgiu num contexto mais intimista no Museu José Malhoa (Caldas da Rainha) influenciado pela arquitetura do espaço, como pela proximidade do público. O que isto significa: que as possibilidades alteram o desencadeamento da ação a que me proponho, e com isso, a leitura dos meus gestos.

Quando se deu o momento de conhecer o palco e as possibilidades de o contornar, percebi que podia alargar o campo de leitura e os caminhos para que o meu corpo e os meus instrumentos / objetos pudessem tomar outro sentido. Aliado a isto, tive a sorte de ser acompanhada pela equipa técnica que possibilitou um extraordinário desenho de luz ancorado nas descontinuidades transitórias da ação e do som, e no aparecimento pontuado de máquinas de fumo.

Não posso deixar de sublinhar o impacto que teve esse trabalho técnico, que no fundo construiu toda a espacialidade cenográfica e ponderou a intensidade com que desempenhei aquilo a que me propus. Foi um espaço que se abriu para compreender muita coisa.

Fica o desejo de poder voltar a apresentar uma obra neste formato e também um especial agradecimento a quem a tornou possível.

Enquanto finalista da Licenciatura de Artes Plásticas, quais são as tuas perspetivas laborais e que género de dificuldades esperas encontrar?

R: Na realidade não tenho grandes expetativas, mantenho o desejo de aparecem propostas e projetos que possa integrar e dialogar com as minhas valências. A par disso, a possibilidade de continuar a estudar, investigar e a desenvolver o meu processo artístico. Com a crise que vivemos globalmente, cada vez são mais visíveis as fragilidades que atravessam a estrutura da cultura e do meio artístico, por isso, preocupa-me naturalmente o meio de subsistência futura.

Se encontrasses a Sofia Maciel daqui a 5 anos, como é que gostavas que ela estivesse?

R: Dado a distância ainda no tempo e com base no trabalho por mim desenvolvido desde tenra idade, gostaria que daqui a cinco anos já tivesse alguma projeção em países estrangeiros.

Contactos disponíveis

E-mail: sofiamaciel.00@gmail.com

IG: @aifos_leicam

FB: sofia.maciel.77

Bernardo Freire

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