O livro “Saí da Microsoft para mudar o mundo”, de John Wood, traz o subtítulo “A história de um empreendedor social e sua missão de ajudar crianças carentes a ler e escrever”. Com as suas 239 páginas, publicado pela Editora Sextante, o livro narra a linda história de um alto funcionário da Microsoft e próximo de Bill Gates que, em constantes viagens à Ásia, em trabalho ou passeio, enxerga uma realidade triste e desalentadora: no Nepal, seguindo uma trilha para turistas, depara-se com uma escola paupérrima, onde os poucos livros que haviam eram trancados numa urna tornando-se dessa forma inacessíveis.
Perguntando a um mestre-escola o motivo daquela guarda, ouve que os raros livros que ali se encontram devem ser preservados e são considerados verdadeiros tesouros. Assim, percebe-se o óbvio: em plena viragem do século, livros são considerados artigos de luxo e o não acesso só faria perpetuar uma triste realidade naquela e noutras regiões da Ásia: o analfabetismo e os baixíssimos índices de leitura.
John Wood promete voltar um dia, trazendo livros que seriam doados àquela escola. Claro que muitos executivos ocidentais devem ter se comprometido com promessas quando visitaram lugares tão pobres. O ar frio da montanha pode levar a isso, mas entre a intenção e a ação propriamente dita vai uma distância gigantesca.

Anos depois, e trabalhando na prévia com a captação de livros, eis que aparece John com centenas deles, a capa publicada no Brasil é bastante significativa: está o autor ao lado de um iaque (espécie de boi) e vai pessoalmente à escola fazer a doação. O lugarejo não tinha estrada que permitisse o trânsito de automóveis. A alegria e os festejos na receção cativam o seu coração. Dispara ali um gatilho que o faz refletir acerca do seu papel no mundo. O vantajoso emprego na Microsoft parecia não lhe satisfazer. Mesmo com a conta recheada de dólares, já não sentia prazer em desenvolver tarefas, muitas das vezes quando nem era ouvido pelos altos executivos e pelo próprio Bill Gates.
É narrado um episódio que atesta o lado “autista” de Gates: John tinha que prepará-lo para uma entrevista na qual ele seria sabatinado pela imprensa, na China; fez notas, discutiu brevemente com o bilionário e quando percebeu que este mal o ouvia, e que na hora da conferência de imprensa meteu os pés pelas mãos, aquilo parece ter sido a gota d’água para a decisão que tomaria a seguir: sair da Microsoft e trabalhar com captação de recursos para bibliotecas comunitárias noutros lugares pobres do continente asiático. A demissão coincide com o fim da relação com a namorada, também uma alta executiva, e que não desejava uma vida que não fosse a de luxo.
Como um rastilho de pólvora, as ações de John Wood, por intermédio de sua fundação, a Room to Read, espalharam-se pelo Nepal, Vietname, Camboja, Índia, Sri Lanka, Laos e África do Sul. Os números são impressionantes: em sete anos, a ONG (Organização Não-Governamental) construiu cerca de 300 escolas, 3600 bibliotecas e 110 oficinas de informática. Distribuiu três milhões de livros e ofereceu bolsas de estudo a meninas carentes. Um sonho que se transformou em realidade e à custa de bastante esforço, como o de separar, catalogar, solicitar ajuda à algumas editoras e, no início, despachar tudo dos Estados Unidos.

Pesquisei a Fundação e obtive o e-mail pessoal de John: felicitei-o e perguntei-me se ele responderia: para minha surpresa, sim. Mostrou-se bastante atencioso coincidindo com o personagem que conheci no livro. Ele reside atualmente em Hong Kong.
Sugiro a leitura deste livro de forma a refletirmos sobre a necessidade de sairmos do ego e do culto ao próprio umbigo, de modo a transformar uma realidade à nossa volta, que na maioria das vezes necessita apenas de um pequeno passo.
O livro é surpreendente até pelas inserções reflexivas e filosóficas, tais:
“Não há nada que assuste tanto um homem quanto ser capaz de descobrir a enormidade do que ele pode fazer e se tornar.” (Sören Kierkegaard)
“Mao Tsé-Tung disse certa vez que uma única morte é uma tragédia, mas um milhão é uma estatística.“
“Se quiseres dar uma espiada no interior da alma humana e passar a conhecer o homem… basta observar quando ele ri. Se ele sorri com facilidade, é um homem bom.” (Fiódor Dostoiévski)
“Depois de ganhar muito dinheiro, o homem geralmente vira um mau ouvinte.” (Paul Theroux)
“Fazer as contas ajudou-me a encarar a realidade. Eu passara a vida inteira a poupar, e agora as minhas economias seriam severamente afetadas. Então racionalizei: de que vale ter dinheiro guardado se a pessoa não pode usá-lo para bancar os próprios sonhos?” (Trecho do livro onde o autor reflete sobre a tomada de decisão em abandonar o trabalho na Microsoft)
Se queres que OBarrete continue ao mais alto nível e evolua para algo ainda maior, é a tua vez de poder participar com o pouco que seja. Clica aqui e junta-te à família!