Encontrei
Ricardo Reis
Certa vez
Na esquina do Flamengo,
Estava magro,
Caminhava trôpego,
Os olhos fitos na baía de Guanabara,
Andamos entre palmeiras,
Ele me falou da infância,
Do colégio jesuíta,
Das lições helenistas
E, saudoso monarquista,
Lembrou das caravelas
Que chegaram ao Brasil
Exatamente
Naquela paisagem bonita.
Senti-me com Lídia
Quando ele disse que minha testa branca
Ficaria bem coroada de rosas
(Rosas que se apagam tão cedo),
Abelhas voavam ao nosso redor
E as folhas estalavam aos nossos pés.
Netuno está quieto
Sob as águas tranquilas,
Ninfas passeiam
Com asas de libélulas
Enquanto as Parcas
Tecem os fios de nossas vidas;
Logo será noite,
Após o ouro de Apolo
Segue-se a prata de Diana
E a chama estremece.
Por algum tempo
Ficamos mudos,
Inscritos na consciência dos deuses,
Depois seguimos rumo à igreja da Glória,
Ele contou que não temia a morte,
Que fugia da dor
E lutava contra a timidez.
Confessou que era dolorido
Ser um expatriado
Mas que vivia alto,
Acima das circunstâncias,
Acima de onde os homens têm prazer ou dores,
Cheio de lucidez.
Não foi embriaguez,
Encontrei Ricardo Reis no Rio de Janeiro
Certa vez.
Em nome da equipa Barrete, um novo obrigado às palavras da cronista e poeta Raquel Naveira em homenagem à cultura portuguesa. Desta vez ao heterónimo de Fernando Pessoa, o médico Ricardo Reis.
Se queres que OBarrete continue ao mais alto nível e evolua para algo ainda maior, é a tua vez de poder participar com o pouco que seja. Clica aqui e junta-te à família!