Ennio Morricone, maestro italiano cujas composições atmosféricas para westerns spaghetti e cerca de 500 filmes fizeram dele um dos compositores mais versáteis e influentes do mundo e do cinema moderno, morreu na segunda-feira (6 de julho) em Roma. Tinha 91 anos.
Digno de uma longa e prolifera carreira, o Maestro trabalhou com uma diversidade de grandes realizadores que marcaram a Sétima Arte, como Sergio Leone, Bernardo Bertolucci, Pier Paolo Pasolini, Terrence Malick, Brian De Palma, John Carpenter, Quentin Tarantino, entre outros. As suas bandas sonoras marcaram e até elevaram os filmes com a sua elaboração de elementos melódicos, as suas distorcidas guitarras elétricas, e até ao uso de leitmotiv.
Chegando a ser um talentoso jogador de futebol pela AS Roma, Morricone seguiu a sua paixão pela música. Estudou composição e trompete, tocou em bandas jazz, foi estudante de Goffredo Petrassi, e começou a carreira artista a compor temas para músicos pop italianos, intercalando com poucos trabalhos em filmes baratos. Com formação em música de vanguarda, a vida e carreira de Morricone mudou para sempre quando, em 1964, foi contratado pelo realizador Sergio Leone. Ambos mudaram o paradigma da relação da música com o cinema.
É impossível esquecer a música épica em “O Bom, o Mau e o Vilão” (1966), uma das mais influentes trilhas sonoras na história, uma viagem pelo calor do Oeste, em que os efeitos sonoros criam todo um nível de epicness, sem deixar de fora a incontornável The Ecstasy of Gold. Juntamente a este clássico, não posso deixar de fora os leitmotivs e a harmónica em “Aconteceu no Oeste” (1968); a nostalgia em “Era Uma Vez na América” (1986); e o seu trabalho subvalorizado em “Aguenta-te, Canalha!” (1971). Estas são as obras principais da dupla Leone-Morricone, que nos deixou clássico atrás de clássico.
Dos últimos 40 anos de criações, destaca-se a melodia infantil em “Cinema Paraíso” (1988), o ritmo militar em “A Batalha de Argel” (1966), e o oboé em “A Missão” (1986). Outros filmes como “Teorema” (1968), “1900” (1976), “O Profissional” (1981), “Veio do Outro Mundo” (1982), “Os Intocáveis” (1987), e mais recentemente “Os Oito Odiados” (2015), ajudaram Morricone a construir o seu legado dentro de vários géneros cinematográficos.

Com uma carreira banhada em prémios, em 2016, Morricone viu o seu trabalho reconhecido no grande público com o seu primeiro Óscar pela banda sonora do filme de Tarantino, “Os Oito Odiados”, ganhando também um Globo de Ouro pelo mesmo trabalho. Anteriormente, recebeu o Óscar “lifetime achievement” em 2007, foi nomeado diversas vezes pela Academia, ganhou quarto Grammys, entre outras distinções internacionais.
Agora numa era pós-Morricone, a sua influência foi incontestavelmente intransponível, abrangendo músicos de todos os géneros, como John Zorn, Mr. Bungle, Akira Yamaoka, Hans Zimmer, Radiohead, Dire Straits, Muse, e até David Guetta. Assim, nos deixa um dos maiores da música.