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Ficarão surpreendidos os leitores deste artigo com o título referente a Willem Dafoe, mas existe uma razão para tal. Desde há algum tempo que eu e o Diogo, ao vermos filmes na televisão ou no cinema, fomos reparando com curiosidade na frequência com que este ator aparece no elenco de variadíssimas obras cinematográficas. E não é caso para menos, pois o seu curriculum fala por si.

Willem Dafoe (William James Dafoe) nasceu na cidade de Appleton (Wisconsin) nos Estados Unidos da América, corria o ano de 1955, e iniciou a sua carreira cinematográfica no ano de 1979, em “As Portas do Céu“, de Michael Cimino, não tendo sido esta experiência particularmente auspiciosa para si, pois acabou por ser dispensado pela produção da quase totalidade das cenas filmadas (aparece em apenas uma), não tendo sido sequer creditado.

Antes disso, tinha estudado teatro na Universidade de Wisconsin e veio a ser cofundador do “The Wooster Group” (Companhia de Teatro Experimental), em Nova Iorque, para onde se mudou no ano de 1976. Antes da sua fundação, trabalhou ainda com Richard Schechner (Professor Universitário de Artes, Mestre) e conheceu Elizabeth LeCompte, que viria a ser sua companheira e “sócia” no Wooster.

A sua primeira pelicula como protagonista viria a ser “The Loveless“, rodada no ano de 1982, e era uma produção independente dos estreantes Kathryn Bigelow e Monty Montgomery. Este trabalho foi realizado como uma homenagem ao filme de 1953, “O Selvagem“, em que Marlon Brando desempenhava o papel principal, aqui assumido por Dafoe. Durante o período que se segue, Dafoe protagoniza alguns trabalhos com críticas geralmente positivas aos seus desempenhos, embora com um relevo relativo.

Willem Dafoe no filme de Kathryn Bigelow e Monty Montgomery, “The Loveless”

No entanto, é em 1986 que Dafoe desempenha o seu primeiro grande papel em “Platoon – Os Bravos do Pelotão“, escrito e realizado por Oliver Stone, tendo a critica sido unânime na qualidade e intensidade da prestação do ator, sendo então nomeado para o Óscar de Melhor Ator Secundário, não tendo ganho. Tirando proveito do momento, em 1988 roda um dos papéis mais relevantes da sua carreira, “A Última Tentação de Cristo“, de Martin Scorsese, onde interpreta a figura de Jesus. A crítica é novamente unânime nos elogios ao desempenho do ator. Ainda nesse ano integra o elenco de “Mississippi em Chamas” e, em 1989, tem uma pequena participação em “Nascido a 4 de Julho“, de Oliver Stone.

Ao longo da década de 1990, Dafoe desempenhou vários papéis com maior ou menor relevância. O destaque vai para peliculas como “Quem Não Chora Não… Ama“, de 1990, em que um pequeno desempenho se torna numa das referências do filme. Já em 1992, desempenha papéis principais em “Areias Escaldantes” e “Perigo Incerto“. Depois de alguns trabalhos menos conseguidos, contracena em 1994 com Harrison Ford em “Perigo Imediato” e em 1996 surge na longa-metragem de Anthony Minghella, “O Paciente Inglês“. Já em 1998 participa no filme “New Rose Hotel“, ao lado de Christopher Walken e Asia Argento, sem esquecer o seu papel secundário em “eXistenZ“, de David Cronenberg.

Já no ano 2000, e após participar em “American Psycho“, Dafoe assume o papel de Max Schreck em “A Sombra do Vampiro“, de E. Elias Merhige, que lhe permitiu ganhar vários prémios pela sua atuação para além de uma nova nomeação ao Óscar de Melhor Ator Secundário. Em 2002 assume o papel do Duende Verde na obra da Marvel, “Homem-Aranha“, e a critica não é muito amigável com o seu desempenho. Em 2003, surge de forma breve em “Era uma Vez no México” de Robert Rodriguez, o último filme da trilogia México e em que participam Antonio Banderas e Johnny Depp.

Willem Dafoe como Max Schreck em “A Sombra do Vampiro”, de E. Elias Merhige

Em 2004 participa nas longas-metragens “Homem-Aranha 2” e “O Aviador“, neste último contracenando com Leonardo DiCaprio. Trabalha com Lars Von Trier em “Manderlay“, de 2005, e contracena com Juliette Binoche numa curta-metragem integrante de “Paris, je t’aime” (2006). Em 2007 reaparece como Norman Osborn em “Homem-Aranha 3” e em 2009 volta a trabalhar com Von Trier no (muito) polémico filme intitulado “Anticristo“, que valeu a Dafoe uma panóplia de críticas do muito bom ao muito mau.

Em 2011 volta a filmar com Ferrara, “4:44 Último Dia na Terra” e participa também numa produção australiana, “O Caçador: Último Tigre da Tasmânia“. Volta a trabalhar com Von Trier em 2013 para “Ninfomaníaca – Vol. 2“, e em 2014 participa em “Grand Budapest Hotel” e filma “Pasolini“, onde interpreta de forma brilhante a figura do realizador Pier Paolo Pasolini. Em 2017 é nomeado pela terceira vez ao Óscar de Melhor Ator Secundário, Globo de Ouro e BAFTA graças a “The Florida Project“, de Sean Baker. A crítica é unânime relativamente ao excelente desempenho de Willem Dafoe.

Em 2018 participa na criação da Marvel “Aquaman” e assume a identidade de Vincent Van Gogh em “À Porta da Eternidade“, que lhe valeu a nomeação para o Óscar de Melhor Ator Principal e um elogio de toda a critica cinematográfica. Já em 2019, após filmar “Os Órfãos de Brooklyn“, volta a ter um desempenho bastante positivo em “O Farol“, onde contracena com Robert Pattinson, tendo a película sido estreada no Festival de Cinema de Cannes. Mais recentemente integrou o elenco de “Nightmare Alley – Beco das Almas Perdidas“, de Guillermo Del Toro.

Willem Dafoe como Vincent Van Gogh em “À Porta da Eternidade”

O trabalho de Willem Dafoe ultrapassa as referências feitas neste texto, pois para além dos filmes em que participou como ator principal e secundário (obviamente, não mencionados na totalidade), Dafoe deu voz a variadas personagens de animação e não só, para além de narrações que fez em algumas obras e voz que emprestou para videojogos. Já para não falar do número considerável de curtas-metragens em que participou e dos comerciais televisivos que gravou. Trabalhou com cerca de 35 realizadores diferentes, rodando com alguns mais de três filmes.

A sua capacidade de desempenho é ampla e variada, tendo amplitude para de se adaptar a variadíssimas personagens e papéis. Sempre teve um grande interesse por trabalhos que revelam personalidades marcantes dos personagens que representa, nomeadamente quando estes são psicóticos ou possuem distúrbios de personalidade. É um ator generoso e sincero com uma disponibilidade excecional, pois para além dos papéis principais que desempenha, não recusa pequenos papéis, contribuindo com o seu talento na justa medida das suas capacidades.

Embora a determinada altura da sua carreira parecesse estar talhado para desempenhar (bem) o papel de vilão, Dafoe viria a demonstrar toda a sua carga dramática em vários personagens que assumiu ao longo da sua já extensa carreira, demonstrando que quando se é dono do dom maior da representação, a paleta de opções é praticamente inesgotável. Uma coisa é certa: é muito difícil ficar indiferente à presença de Dafoe no grande ecrã.

De fisionomia marcada, sorriso característico e olhar intenso, a sua imagem é inconfundível. Diria que é praticamente impossível os amantes de cinema não recordarem este ou aquele desempenho de Dafoe, tal a forma como se distingue entre os demais atores. O termo é certo, omnipresente, pois se analisarem de forma exaustiva a presença de Dafoe no cinema contemporâneo desde 1980, vão reparar que durante alguns segundos ou durante quase toda uma película, ele está lá. É sem qualquer dúvida um excelente ator e tem já, embora de forma discreta para alguns, um lugar marcado na história do cinema atual. Não é por acaso que o New York Times considera Dafoe o 18.º Melhor Ator do século XXI.

Willem Dafoe em “The Florida Project”

“I never act. I simply bring out the real animal that’s in me.”


Willem Dafoe

Bons filmes.

Jorge Gameiro

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