Neste “American Psycho”, Patrick Bateman (Christian Bale) é um homem bem sucedido no mundo dos negócios que frequenta a classe mais vaidosa e presunçosa de Nova Iorque que, ao longo deste filme satírico, explora os seus impulsos e desejos por sangue.
Na cena inicial, quando começamos a conhecer Patrick e a sua rotina, o filme tem tudo para resultar. Vemos um homem muito meticuloso e extremamente obcecado com a própria imagem, mas que confessa não existir. Este primeiro monólogo dá-nos a sensação de que veremos um filme com um plot extremamente complexo e interessante e nesse aspeto os minutos subsequentes falham. O temperamento fora do normal do protagonista revela-se no momento em que ele e os seus colegas de trabalho gabam-se dos novos cartões de negócios.
Assim que percebe que o seu colega Paul Allen (Jared Leto) tem um cartão superior e mais ostentoso, decide assassiná-lo. E a cena da morte de Paul é a única que provavelmente escapa à restante desilusão do filme, pois é particularmente bem conseguida e muito interessante. Ao som de Hip to be square, Patrick assassina o colega com um machado e encena o seu desaparecimento.

Os minutos seguintes do filme realizado por Mary Harron encaminham-se numa espiral de loucura quase irónica demasiado hiperbólica para o tom que a película deveria tomar. Para continuar a canalizar os seus instintos animalescos, Patrick contrata duas prostitutas com quem se envolve sexualmente e espanca posteriormente. A seguir a estas “quase” vítimas, a raiva do assassino volta ao de cima quando observa o cartão de negócios do colega Luis Carruthers (Matt Ross) e tenta-o estrangular numa casa de banho, tentativa que Luis interpreta como um avanço sexual e deixa o psicopata sem reação e com mais uma “quase” vítima.
Muitas vezes o filme adquire uma ironia agradável, mas que não combina com o todo da obra e faz-nos pensar que num segundo estamos a ver um filme de terror e no outro uma comédia negra – as cenas simplesmente não se encaixam umas nas outras. No entanto, o filme começa mesmo a descambar na altura em que Patrick mata uma amiga em casa de Paul Allen e persegue, nu, uma das prostitutas que espancou anteriormente. Aqui vemos uma cena ligeiramente mais interessante, na qual a mulher foge do assassino e vai descobrindo, ao abrir de várias portas, mais corpos de mulheres mortas pelo protagonista, tornando a intensidade daqueles minutos mais acelerada.
Quando Bateman a vê escapar pelas escadas, decide atirar a motosserra com a qual a perseguia, atingindo-a mesmo antes desta sair em liberdade. Esta cena é particularmente mais elaborada, na medida em que nos faz lembrar aqueles típicos filmes de perseguidor-perseguido em que a ânsia domina o nosso espírito e ficamos, inevitavelmente, alerta.

Infelizmente, a partir daqui o filme ganha um tom louco e psicótico quando Bateman acaba por ser perseguido pela polícia e dispara sobre muitas outras pessoas pelo caminho, quase de forma ridícula, acabando por confessar todos os crimes ao seu advogado. Ironicamente, mais à frente, o próprio advogado de Bateman não acredita em nenhum dos crimes que este afirma ter cometido e chega mesmo a dizer-lhe que toda a história foi a piada mais hilariante que já ouviu. Isto porque não acredita que um homem tão cobarde e insípido como ele fosse capaz de tais atrocidades.
O filme fala-nos de um psicopata aspirante a assassino, cujos instintos oprimidos pela sociedade ecléctica onde se tenta encaixar acabam por se desenvolver de uma forma ridícula e distorcida. Patrick Bateman é apenas um homem que não suporta um desajuste na sua vida ilusoriamente perfeita; é um psicótico e não um psicopata.
A última cena vem talvez numa tentativa de salvar o filme, pois apresenta-se-nos como mais um monólogo filosófico e reflexivo de Bateman: “I want no one to escape, but even after admitting this, there is no catharsis. My punishment continues to elude me and I gain no deeper knowledge of myself. No new knowledge can be extracted from my telling. This confession has meant nothing“, o que, no fundo, significa que nada do que foi feito o libertou de si mesmo.
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