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O filme “Tony Manero”, do realizador Pablo Larraín, com Alfredo Castro, Amparo Noguera, Paola Lattus e Hector Morales no elenco, conta com uma duração de 1h38min, sendo que se encontra disponível na Netflix Brasil. Estreado em 2008, a história de “Tony Manero” passa-se em Santiago do Chile no ano de 1978, durante a ditadura militar de Augusto Pinochet e centra-se na vida marginal de Raúl Peralta, que aos 52 anos inicia a película numa fila de calouros de um programa popular de televisão, errando a data da sua inscrição e possível apresentação.

Naquela semana, o programa de auditório iria apresentar o melhor sósia de Chuck Norris. Ele sentia-se Tony Manero, o personagem de John Travolta na longa-metragem “Febre de Sábado à Noite“, e era simplesmente apaixonado por ele. Morando num bairro pobre junto dos amigos dançarinos e uma velha dona da pensão, a sua vida sórdida apresenta-se na psicopatia, de não medir nenhum esforço para conseguir os seus objetivos, e tudo isso pelos pequenos furtos. Mesmo que tenha que tirar a vida de alguém, que importância isso tem se o seu objetivo for alcançado?

Alfredo Castro (Raúl Peralta)

Desses espúrios crimes, uma idosa é assassinada para ele levar a sua televisão, mas Raúl toma o cuidado de alimentar os gatos da velha antes. Bonzinho o sujeito, não? O fruto deste roubo servirá de moeda de troca com um vidraceiro, no seu pedido de um piso de vidro que servisse de palco para dar um efeito com as luzes na altura da sua apresentação na pocilga em que trabalha. De salientar que ele atuava em grupo, mas era o líder que puxava a atração e, certamente, era o ego da coisa toda.

Não consegue negociar muito bem a troca da TV pelos vidros, leva apenas uma parte, mas planeia levar ossos para os cães do vidraceiro à noite e, enquanto este dorme, é assassinado e enfim consegue Raúl ter os vidros necessários para o seu intento. Frequente assíduo do cinema, e na sessão do clássico de Travolta que ele assiste reiteradas vezes, chega ao cúmulo de assassinar o casal de idosos (o projetista e a bilheteira) para surripiar o filme e alguns trocados.

O que seria um simples maneirismo e uma fixação no personagem de Travolta revela-se a meio do filme como o protagonista estando mais para “O Psicopata Americano“, na excecional atuação de Christian Bale (análise deste filme aqui no Barrete, por uma colega). Ele aguarda ser chamado pela televisão, e morre de ciúmes ao saber que um colega de dança se irá apresentar também. Enraivecido, não titubeia. No dia em questão, estende o fato branco do sujeito solenemente e solenemente caga-lhe em cima. Faz questão de espalhar as fezes e sai sorrateiro, fugindo também da polícia que já estava a investigar os seus crimes.

“Tony Manero” (2008)

Saindo da sordidez e enfrentando um autocarro, é chegada a hora da sua apresentação, concorrendo com outros Tony Manero’s e a ver a patuscada toda que são os programas de auditório de televisão popular. Com as suas publicidades baratas, as suas vedetas e o público que é macaqueado para aplaudir e vaiar na altura certa, com as aparições caricatas e no momento da apresentação de Raúl, este dança e sonha com uma vida que confirmasse aquilo que ele sabia que era. Tanto é que ao ser questionado sobre o que fazia da vida, ele responde ao apresentador que fazia aquilo, que era um dançarino.

Consegue o 2.º lugar no concurso e vê o vencedor levar para casa um liquidificador e a classificação para uma etapa posterior, saindo junto com a sua amada. Tomam o mesmo autocarro, e o filme termina em numa hesitação que nos deixa com a pulga atrás da orelha: será que o psicopata atentaria contra o vencedor pelo facto deste ter lhe levado o prémio?

Um filme noir denso, complexo, com poucas cenas de sexo explícito e que nos apresenta uma cidade de Santiago que eu ainda não conheci, sendo que da vez em que visitei a cidade fiquei nos grandes centros. A fotografia e os cenários da película fazem-nos viajar pela história de um dos países mais incríveis da América do Sul, e faz uma ode a um clássico do cinema expresso no título e a um outro na minha humilde interpretação.

Marcelo Pereira Rodrigues

Rating: 3 out of 4.

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