“Hiacynt” (em português “Entre Frestas“) é uma película polonesa bem intensa. Realizada por Piotr Domalewski, com os atores Tomasz Zietek, Hubert Milikowski, Tomasz Schuchardt, Jacek Poniedzialek, Agnieszka Suchora, Marek Kalita e outros, o drama policial de 1h46min baseia-se na Operação Jacinto, ocorrida na Varsóvia comunista e que tinha como mote fichar os homossexuais e chantagear as autoridades do Estado. Um sargento da polícia, Robert, filho de um conceituado coronel, não se dá por satisfeito com o encerramento de um inquérito sobre um assassinato e irá imiscuir-se na comunidade gay, tendo Arek como informante. Este é um estudante universitário libertário e inteligente às voltas com uma prova sobre Hegel.
Essa infiltração dá-se por conta própria, interferindo no seu noivado com a arquivista policial que trabalha na mesma delegacia que ele. Um pai austero e que vive mexendo os ‘pauzinhos’ para que o filho tenha sucesso nas progressões de carreira, mas o certo é que os sentimentos do policial ficam abertos na confrontação de diálogo com o seu informante.

O oposto dá-se numa festa super agitada onde Arek afirma a Robert que ele tinha medo da sua própria liberdade. Percebe-se um certo aspeto enrustido no seu comportamento, e as investigações levam-no a um professor universitário demitido pelo facto de ter as suas fotos vazadas e agora só lhe resta um trago que lhe dê coragem para se atirar pela janela fora.
Contextualmente, quando a homossexualidade ainda era vista como anomalia, com preceitos rígidos e estatais que interferiam na vida de todos os cidadãos, o certo é que este recorte é importante para entendermos o quanto a nossa sociedade avançou, inclusive sendo deletéria a expressão homossexualismo, sendo ismo uma terminologia pejorativa. O filme mostra a bruta atuação da polícia, nos interrogatórios vexatórios e desumanos, no abuso de poder a prostitutas e taxistas, sendo uma desonra aventar ser gay naquele sítio.

O filme é impactante nos seus dramas particulares, sendo o cenário e fotografias características de uma época e cidade cinzas, mas isso tudo perfaz o seu charme, com os seus monumentos, a sua neve derretida, a zona do cais do porto e os edifícios frios e funcionais, sendo muito relevante o cinema polonês no seu propósito.
Logo classificado como um filme LGBT (e mais algumas terminologias que só fazem somar a cada dia), entendo que é uma história que vai além, a partir de dramas que se impuseram e por que não, devemos lutar contra toda espécie de preconceito e pararmos de nos preocupar com quem dorme e ama quem. Esfera pessoal, basta escrever isso.
A Operação Jacinto foi uma página triste da história da Polónia, ocorrida entre 1985 e 1987, bem demonstrada neste filme que é relevante na sua proposta de denúncia social e lembrança, para que não volte a acontecer e para que caminhemos com mais entendimento e amor neste mundo.
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