Talvez mais conhecido pela sigla L.U.M.E., este é um projeto fundado em 2006 pelo pianista, compositor e diretor artístico Marco Barroso. Composto por 15 instrumentistas (tanto músicos de jazz como de música erudita), o grupo foca-se na atitude do rock, jazz e da música erudita que culminam nas variações experimentais do modelo clássico da Big Band, uma variante do jazz com origens na primeira década do século XX, cuja mais famosa figura é o lendário pianista Duke Ellington.
Esse rasgar de horizontes musicais entre o improviso e a composição é apresentado no terceiro disco “Las Californias”, lançado a 15 de outubro de 2021 pela Clean Feed. Este novo trabalho, apesar de continuar a mesma visão presente nos discos anteriores, revela uma procura por sonoridades improváveis e inesperadas pela mão dos 15 músicos do ensemble.
A reverência criativa de Marco Barroso, autor de todos os temas no disco, dança entre o drama e a ironia sem nunca perder todo um furor de energia. Para além das sonoridades já mencionadas, o disco também faz uso do método de colagem. Encontramos praticamente em todas as faixas a presença de samples extramusicais e também uma manipulação da própria música na criação de uma realidade imaginária que impulsiona este trabalho.
Após uma breve introdução que funciona quase como os músicos a falarem entre si antes de um concerto, o disco abre com a faixa homónima, um autêntico turbilhão de energia em que é raro o momento de recuperar o folego. A partir daqui percorremos diversos estados de espírito: em Shroomdinger um paraíso psicadélico; na suite AM phantasies uma inversão de um mundo nostálgico submerso no surrealismo; Dr. Tulp é uma espécie de banda sonora para um desenho animado; Bugalu conjuga a colagem de samples de filmes num cenário que explora várias temáticas jazzísticas; e, finalmente, Cleptofonie fantastique é um verdadeiro delírio que encerra o disco.

Em suma, “Las Californias” é uma muito agradável surpresa e uma aventura cheia de efervescência. Depois de ouvir a faixa homónima e o Marco Barroso a falar sobre o disco na Antena 2, fiquei muito curioso em saber como o resto do álbum seria. Um trabalho original e desafiante que cria uma paisagem surreal (tal como a capa) inundada por sonhos e memórias fragmentadas, que do pouco conseguimos interpretar com exatidão.
O grande responsável por este trabalho, Marco Barroso, é natural de Oeiras e começou a tocar piano aos oito anos. Formado na Escola Superior de Música e também na Escola do Hot, os gostos musicais do pianista português dividem-se entre vários estilos e artistas, passando pelos Soundgarden, Frank Zappa, Mr. Bungle, Stravinsky, Ligeti ou Messiaen. Já no que toca ao jazz, este interessa-se pelo universo orquestral, o free, a música improvisada e a cena downtown. Algumas das referências de Marco são Don Ellis, Viena Art Orchestra, Albert Ayler, John Zorn, Dave Dougals ou Fred Frith.
Aconselho vivamente a sua audição a qualquer amante de jazz. Uma pérola recém-nascida a ser descoberta!
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