viva o rock brasileiro #15
Voltando aos Legião Urbana, é dada a hora de analisar o disco antes do “Que País é Este“. Lançado em 1986, “Dois” traz a seguinte setlist:
Daniel Na Cova Dos Leões
Quase Sem Querer
Acrilic On Canvas
Eduardo E Monica
Central Do Brasil
Tempo Perdido
Metrópole
Plantas Em Baixo Do Aquário
Música Urbana II
Andrea Doria
Fábrica
Índios
Trata-se de um álbum rico, com quatro canções que marcaram a história do conjunto, tais Quase Sem Querer, Tempo Perdido, Índios e Eduardo E Monica. Inclusive esta última virou filme, contando a história de um amor improvável entre um rapaz e uma rapariga mais evoluída intelectualmente, com o facto de Eduardo tentar impressioná-la nos primeiros encontros, quando na verdade ela estava noutras dimensões. Mas é certo que o coração tem coisas que a razão desconhece, e o enlace dá-se, com a construção de uma família.
Índios é um hino lamentoso sobre a chegada de invasores a uma terra já ocupada, estranhando os “selvagens” o facto de Deus ser três e o facto de os homens terem matado este Deus. Trocando espelhos e demais bugigangas por terras riquíssimas, a canção torna-se atual no Brasil pelo desrespeito contínuo aos nossos povos originários. Quase Sem Querer é deliciosa de se ouvir e citarei aqui a letra reflexiva de Tempo Perdido, que vai assim:
“Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo
Todos os dias
Antes de dormir
Lembro e esqueço
Como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder
Nosso suor sagrado
É bem mais belo
Que esse sangue amargo
E tão sério
E selvagem! Selvagem!
Selvagem!
Veja o sol
Dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega
É da cor dos teus olhos
Castanhos
Então me abraça forte
E diz mais uma vez
Que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo
Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes
Acesas agora
O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens
Tão jovens! Tão jovens!“

O mais impressionante é que as letras de Renato Russo não se dão a refrãos fáceis, e muita das vezes a gente lê a letra e fica a imaginar como a melodia se encaixou naquela prosa. Cerebral e adepto de boas leituras, em clipes aparecem ao fundo da estante do compositor obras de Sigmund Freud e o clássico de Thomas Mann, “A Montanha Mágica“. Renato não se importa em fazer o papel tipo intelectual e cativa uma legião de fãs, os legionários.
Um disco magistral, que recorro quase sempre e que não se perde naquelas coisas que apreciamos e deixamos de lado. Vez ou sempre, reconhecemo-nos nas letras e nos questionamentos de canções tão bem trabalhadas. Esmero, esta é a palavra. Com “Dois”, os Legião fincam definitivamente a sua bandeira na história do rock Brasil.
Se queres que OBarrete continue ao mais alto nível e evolua para algo ainda maior, é a tua vez de poder participar com o pouco que seja. Clica aqui e junta-te à família!