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“Shadow of the Colossus” é o segundo jogo dirigido por Fumito Ueda, o respeitado designer de videojogos japonês. Fruto do trabalho de uma equipa interna da Sony denominada Team ICO, “Shadow of the Colossus” é considerado uma sequela espiritual de “ICO“, o primeiro jogo da equipa, lançado em 2001. Inicialmente concebido como uma experiência online multijogador (com o nome “NICO“), o jogo que viria a ser renomeado “Shadow of the Colossus” teve um período de desenvolvimento de cerca de quatro anos, um período relativamente longo, dados os padrões da altura.

Após um pivot na estratégia de desenvolvimento, “Shadow of the Colossus” foi lançado em todo o mundo como jogo single-player entre finais de 2005 e inícios de 2006, para a mítica PlayStation 2. Porventura, dado o estatuto de exclusivo e nunca tendo tido um lançamento para PC, o jogo foi tendo vários relançamentos, primeiramente uma versão remasterizada em 2011 para a PS3 (numa coleção que incluiu também um remaster de “ICO”), bem como um remake lançado em 2018 para a PS4. Ainda que a maioria das mecânicas do jogo tenham sido transversais às várias versões que foram sendo distribuídas, importa realçar que o presente texto se focará no remake de 2018.

“Shadow of the Colossus” foi já alvo de diversos relançamentos, para diferentes versões da PlayStation

Seguindo o demarcado estilo de design de “ICO” (pelas palavras de Ueda, o estilo de “design subtrativo”), “Shadow of the Colossus” impressiona por conseguir conjugar uma sensação de escala com o minimalismo a que habituou os fãs. O jogo começa com Wanda, um rapaz que pretende trazer de volta à vida a jovem Mono. Para tal, Wanda recebe a ajuda de uma estranha e misteriosa entidade chamada Dormin, conhecida por ter a capacidade de ressuscitar os mortos. A proposta de Dormin é simples e direta: caso Wanda consiga derrotar dezasseis colossos, Dormin trará Mono de volta à vida.

Para cada uma das 16 batalhas, o ciclo é similar. Partindo de uma localização central, Wanda primeiramente tem que encontrar o colosso em questão, usando como meio de locomoção o seu cavalo Agro e fazendo uso da sua espada mágica, capaz de refletir os raios de luz para a direção do colosso. Esta jornada de descoberta dos colossos é frequentemente um desafio por si mesma, onde é comum haver desvios obrigatórios, terrenos acidentados e territórios sombrios (que impedem Wanda de usar o poder da sua espada). Quando a arena de combate é descoberta, inicia-se a boss fight propriamente dita.

Foi defendido na análise a “ICO” que o seu sistema de combate era algo simplista para não enfraquecer o elemento core do jogo, ou seja, a relação entre os protagonistas. Em “Shadow of the Colossus”, essa preocupação em identificar os elementos nucleares da experiência e de construir os restantes adereços em volta dos mesmos mantém-se, sendo as batalhas com os colossos os elementos mais importantes da jogabilidade.

O grande foco do jogo está nos combates contra os 16 colossos

Cada um dos 16 confrontos com os colossos pode ser olhado como uma mistura entre um desafio de combate tradicional e um puzzle. Cada uma destas gigantescas criaturas (que variam grandemente em tamanho, forma e poderes) possuem um ou mais pontos fracos, absolutamente necessários de serem identificados para Wanda sair vitorioso. Nas primeiras batalhas, que acabam por servir como tutoriais, grande parte do trabalho resume-se a identificar uma forma de conseguir escalar o corpo colosso e espetar a espada no seu ponto fraco. Com o avançar do jogo, estes desafios tornam-se mais difíceis e o jogador precisa não só de identificar a debilidade como poderá usar o ambiente circundante, mas também de pensar fora da caixa.

Contrariamente a “ICO”, em “Shadow of the Colossus” variadas mecânicas de combate são passíveis de serem usadas, dado o foco do jogo nestes momentos de jogabilidade. Wanda pode usar a sua espada tanto para identificar os pontos fracos dos gigantes (usando a luz do sol, quando possível) ou para espetar a mesma no corpo dos inimigos, preferencialmente nos ditos pontos fracos.

Adicionalmente, Wanda está munido de um arco, que, embora cause um dano mínimo nos colossos, serve para atrair a sua atenção, por exemplo, para uma localização onde este sabe que depois poderá usá-la para saltar para o corpo da criatura. Também ao contrário de “ICO”, o jogo possui um Head Up Display (HUD) muito mais preenchido, com barras de saúde (de Wanda e do inimigo), a arma escolhida e um mostrador com a energia do protagonista (que este precisa de gerir para conseguir escalar o corpo dos colossos).

Os combates com os colossos não recaem só nas skills de combate, mas também no pensamento lateral e resolução de puzzles

No final de cada combate bem-sucedido, fragmentos do gigante derrotado entram no corpo de Wanda e este acorda posteriormente na localização inicial (onde falou pela primeira vez com Dormin). O jogador vai notando que, a cada colosso que Wanda destrói, o seu corpo se vai alterando: o protagonista fica cada vez mais pálido e a sua pele percorrida de veias negras. Com o avançar do jogo, o jogador descobre também que um grupo de soldados se aproxima da localização de Wanda para o capturar, atraindo cada vez mais a atenção para a narrativa do jogo, que, à primeira vista, tinha tudo para ser colocada de lado, em detrimento das espetaculares boss fights.

Felizmente, “Shadow of the Colossus” mantém a marcada característica de Ueda de contar a história através da jogabilidade e, ainda mais do que em “ICO”, usando uma narrativa não verbal. Todo o cenário do jogo, a banda sonora, a relação que se estreita entre Wanda e Agro, contribuem para manter uma atmosfera muito característica dos jogos de Fumito Ueda, desta vez enfatizando motivos como o herói solitário, o sacrifício, ou até, como refere Ueda numa entrevista, “a crueldade como meio de expressão“.

Com um legado de influências tão ou maior que o de “ICO” (que se defendeu como um dos jogos mais influentes de sempre), “Shadow of the Colossus” tem uma pequena vantagem sobre o predecessor espiritual, o facto de que não se sente tão tecnologicamente datado como o anterior, sobretudo para quem jogar o remake. Independentemente de o jogador jogar a versão original de 2005, o remaster de 2011 ou o remake de 2018, “Shadow of the Colossus” é um dos jogos essenciais deste século e um elemento obrigatório na coleção de qualquer gamer.

Disponível em: PS2 (original), PS3 (remaster), PS4 (remake)

Luís Ferreira

Rating: 4 out of 4.

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