OBarrete

Porque A Arte Somos Nós

Com a celebração de mais um Halloween, fica implícito um novo convite para examinar com maior atenção obras artísticas do género do terror, sejam elas unanimemente célebres ou geradoras de maior discórdia. Embora OBarrete tenha aproveitado a ocasião para fazer uma retrospetiva da aclamada série “Silent Hill”, é deixada aqui uma outra sugestão gaming mais contemporânea que, embora não se possa categorizar como videojogo de terror, faz emergir emoções associadas ao género, como o suspense e a tensão.

O jogo é “A Plague Tale: Innocence”, um lançamento original de 2019, por parte do Asobo Studio, um estúdio até então associado à adaptação de propriedades intelectuais já existentes (sobretudo de filmes de animação da Pixar) para o formato de videojogo. Recentemente, uma versão do jogo com melhorias gráficas foi lançada para a nova geração de consolas, versão que serviu de base para o presente texto. “A Plague Tale: Innocence” poderá ser situado no género de ação e aventura, com elementos de stealth e de survival horror.

Amicia e Hugo de Rune, irmãos e protagonistas de “A Plague Tale: Innocence”

O jogo inicia-se em 1348, caracterizando a jovem Amicia de Rune (protagonista e personagem controlável do jogo) e a sua família de ascendência nobre. Amicia vive no seu castelo na cidade de Aquitane (no sul de França) com o seu pai Robert, a sua mãe Beatrice e o seu irmão mais novo, Hugo, uma criança de 5 anos que sofre de uma doença incurável desde nascença. Depois de uma estranha manhã de caçada com o seu pai, onde Amicia se apercebe de um conjunto atipicamente grande de cadáveres de animais, a protagonista regressa ao castelo para perceber que este se encontra a ser invadido pelas tropas da Inquisição Francesa.

Percebendo que as tropas procuram capturar Hugo de Rune, Amicia consegue escapar com o seu pequeno irmão, ajudados pela mãe Beatrice, que por sua vez é assassinada pelas tropas francesas, juntamente com o Lorde Robert. As duas crianças conseguem fugir para uma cidade vizinha, conseguindo perceber que inúmeras hordas de ratos têm invadido o território e espalhado a Peste Negra (denominada do jogo como A Mordida). Ainda procurados pela Inquisição, Amicia e Hugo têm que escapar ao grande número de soldados que patrulha as ruas, tendo Amicia a preocupação adicional de cuidar do seu irmão doente, e de o levar até ao Doutor Laurentius, instruções dadas pela falecida Beatrice.

Os momentos mais aterrorizantes do jogo surgem quando os irmãos têm que lidar com as hordas de ratos

À exceção dos entrecortados momentos cinemáticos, o jogador controla Amicia de Rune na terceira pessoa, durante os encontros hostis que esta e o irmão vão tendo tanto com as tropas da Inquisição como com os aterrorizantes grupos de ratos que vagueiam pelas zonas mais sombrias da cidade. Forçado pela fraca experiência em combate e debilidade dos protagonistas, o jogador necessita de utilizar uma abordagem de furtividade em quase todo o jogo, algo que, adicionalmente, penaliza o jogador por tentar ser agressivo.

Por um lado, para fazer face aos inimigos, Amicia possui apenas uma fisga (que pode utilizar para atirar pedras ou, mais tarde, poções, contra inimigos e objetos), como, por outro lado, a protagonista morre instantaneamente se for apanhada pelos inimigos.

Grande parte dos desafios de stealth do jogo consiste num equilíbrio entre conseguir fazer face às hordas de ratos (por exemplo, atirando fogo aos ratos ou pedaços de carne para outras zonas) e derrotar os inimigos humanos, seja afastando-os do caminho pretendido ou usando pedras para os atordoar. Embora Hugo seja inicialmente uma personagem débil e passiva, que apenas serve para adicionar complicações a Amicia, posteriormente pode ser usado para executar certas tarefas ou entrar em sítios mais apertados. Contudo, Hugo deve ser usado de forma controlada, pois o pequeno irmão de Amicia poderá começar a entrar em pânico se for deixado muito tempo sozinho, alertando assim as proximidades.

O uso de stealth é na maior parte do jogo obrigatório, dada a debilidade de Amicia e Hugo

Durante as cerca de 10 horas de jogo, estes puzzles solucionados com o uso de furtividade vão tendo novas doses renovadas de variedade, conseguindo evitar repetições de cenários, um feito que deve ser elogiado numa altura em que a preocupação por estender as horas de jogo tem inibido as desenvolvedoras de conseguir cortar o excesso de gordura dos seus jogos. Embora algumas falhas se possam apontar à jogabilidade, como a reduzida capacidade de inteligência artificial dos inimigos, “A Plague Tale” consegue mostrar que há espaço no mercado gaming para jogos com orçamentos médios (por vezes denominados jogos AA, para os diferenciar dos lançamentos AAA).

Usando a jogabilidade como veículo narrativo, o jogo pretende, acima de tudo, contar uma história intensa, carregada pela relação entre os dois irmãos Amicia e Hugo. Usando claras inspirações como “The Last of Us” e “Brothers: A Tale of Two Sons“, “A Plague Tale: Innocence” explora o tema da família e a forma como as situações adversas são frequentemente autênticos desafios para as relações familiares. Porém, talvez o grande tema da história seja dado pelo subtítulo do jogo, onde a inocência de Hugo permite um olhar mais puro sobre o mundo, conseguindo encontrar a beleza até nas situações mais pavorosas.

Disponível em: Nintendo Switch, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S, Windows

Luís Ferreira

Rating: 3 out of 4.

Se queres que OBarrete continue ao mais alto nível e evolua para algo ainda maior, é a tua vez de poder participar com o pouco que seja. Clica aqui e junta-te à família!

Leave a Reply

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: