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Uma das principais divisões que podem ser feitas para separar a comunidade gamer em duas partes está relacionada com a grande rivalidade entre jogos single-player e multi-player. Embora não seja necessariamente verdade que os jogadores se dediquem exclusivamente a um ou a outro grupo de jogos, é frequente terem uma preferência quando se fala em jogos para um jogador ou multijogador. Quer o jogador privilegie a possibilidade de jogar com outros seres humanos ou esteja confortável com o facto de não ter companhia (além da potencial Inteligência Artificial), “Brothers: A Tale of Two Sons” é um jogo que certamente lhe irá despertar o interesse.

Este jogo é fruto do trabalho de desenvolvimento da Starbreeze Studios, com direção de Josef Fares e distribuição a cargo da 505 Games. Até ao lançamento do jogo (em 2013), Fares era mais conhecido pelo seu trabalho de realização de cinema, tendo até então dirigido várias longas e curtas-metragens e acumulado vários prémios em festivais. “Brothers” marcou a primeira incursão de Fares como diretor criativo na área dos videojogos, que são reconhecidamente marcados pela forma como usam a interação com o jogador (aquilo a que, talvez redutoramente, chamamos de “jogabilidade”) para contarem a sua história.

“Brothers: A Tale of Two Sons” conta a história de dois irmãos (Naiee e Naia) que, para salvarem o pai que se encontra às portas da morte, têm que partir numa jornada para encontrar a Árvore da Vida, cujas águas são a única maneira de o salvar. Poderia ser uma história como tantas outras não fosse um pequeno detalhe: ambos os irmãos são controlados simultaneamente pelo jogador. Para o caso de o jogo estar a ser jogado com comando, esta escolha de controlos é ainda mais peculiar, sendo cada um dos thumbsticks e respetivo trigger (esquerdo e direito) responsáveis pelo movimento e interação de cada um dos irmãos com o mundo.

Naiee e Naia, protagonistas de “Brothers: A Tale of Two Sons”

Precisamente por este motivo, “Brothers” é simultaneamente um jogo singleplayer (por ser pensado para apenas um jogador) e multiplayer (por serem controlados simultaneamente duas personagens e por poder ser jogado por duas pessoas, embora não seja essa a visão dos criadores). Durante as cerca de três a quatro horas de história, o jogo avança ao longo de um conjunto de puzzles e de desafios de plataformas em que é necessário controlar Naiee e Naia ao mesmo tempo, sendo essa vertente multitarefa uma das principais dificuldades do jogo.

Nos vários desafios, ambos os irmãos devem ser usados de forma deliberada, pois enquanto que Naia (o irmão mais velho) é mais forte e consegue puxar alavancas, Naiee consegue passar por espaços mais apertados, fazendo sentir que os desafios são realmente atravessados através de um trabalho em equipa.

É na relação entre Naiee e Naia que recai grande parte da carga emocional do jogo. As peripécias que estes vão experienciando e as personagens que encontram ao longo do caminho (algumas hostis) contribuem não só para a esperada criação de dificuldades na descoberta do percurso da Árvore da Vida, mas também para o desenvolvimento da relação de proximidade entre ambos, para além da criação de empatia entre o jogador e os dois protagonistas.

Todos os desafios requerem um controlo simultâneo dos dois irmãos

A ênfase de “Brothers” é tão colocada nesta sensação de proximidade e de preocupação com os protagonistas que nem o facto de os visuais serem pouco realistas (é privilegiado um estilo mais fantasioso), assim como a linguagem que as personagens falam ser ficcional, retira intensidade a estes momentos, que são por sua vez explicitados através de efeitos sonoros e gestos.

Procurando não ser muito específico para não estragar a experiência a quem ainda não tenha jogado “Brothers”, já no epílogo do jogo, depois do clímax narrativo, o jogador é colocado à prova, sendo-lhe pedido que consiga inferir os controlos que deve utilizar para passar alguns obstáculos novos, controlos que não é suposto que este saiba por não ter ainda sido confrontado com essa situação particular.

É no preciso momento em que o jogador percebe que controlos deve utilizar que se dá talvez a maior epifania do jogo. A forma como foi construído com este momento particular em mente e emoção resultante de um simples aperto num botão, mostra que os videojogos são verdadeiramente um meio único.

Disponível em: Android, Nintendo Switch, PS3, PS4, Windows, Xbox 360, Xbox One

Luís Ferreira

Rating: 3.5 out of 4.

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2 thoughts on “Jogo: “Brothers: A Tale of Two Sons” – Um teste ao multitasking

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