O sucesso do jogo “Brothers: A Tale of Two Sons” (anteriormente analisado aqui n’OBarrete) permitiu ao seu diretor e principal figura Josef Fares fundar o seu próprio estúdio em 2014, os Hazelight Studios. Até ao momento, a Hazelight publicou dois títulos, sendo precisamente no primeiro desses dois jogos que o presente artigo se irá focar. “A Way Out” foi lançado em 2018 com o selo da Electronic Arts (EA), no seu programa de originais, focado em apoiar desenvolvedoras de jogos indie.
“A Way Out” é um jogo de ação e aventura focado na sua narrativa que recai sobretudo em duas personagens principais: Vincent Moretti (Eric Krogh) e Leonard “Leo” Caruso (Fares Fares). Estes dois conhecem-se numa situação peculiar, nomeadamente na prisão, pouco após o encarceramento de Vincent por assassinato. Vincent conhece Leo pouco após a sua chegada à cadeia (este último preso por assalto à mão armada) e, percebendo que ambos possuem um inimigo em comum (o chefe da máfia Harvey), decidem arranjar uma forma de escapar da prisão para se vingarem do culpado pelo encarceramento de ambos.

Ainda que seja um jogo fortemente apoiado na vertente narrativa, a leitura do parágrafo anterior não é suficiente para mostrar o principal conceito inovador do mesmo. Tal como fez com “Brothers”, Fares coloca um pequeno twist na forma como apresenta o jogo e que se baseia no facto de este apenas poder ser jogado por dois jogadores num modo de ecrã dividido, não havendo possibilidade de jogar no modo single-player. Ainda que a experiência seja mais enriquecedora jogando com um parceiro localmente, o jogo permite jogar online com desconhecidos, ou até com amigos, sendo que apenas um precisa de ter comprado o jogo.
No início do jogo, cada jogador escolhe jogar com um dos protagonistas (Vincent ou Leo), podendo (embora seja pouco esperado) posteriormente trocarem de personagem no decorrer da história. Tendo em conta a decisão de tornar “A Way Out” um jogo obrigatoriamente multijogador, alguns problemas decorrem dessa decisão. Visto que nem sempre Vincent e Leo estão no mesmo espaço, pode ser algo difícil de conciliar os efeitos sonoros e diálogos que vêm de cada uma das metades do ecrã. Do mesmo modo, em várias situações em que haja alguma dessincronização entre os jogadores, poderá haver casos em que o progresso de um (quando ativa, por exemplo, uma nova cutscene) possa interromper a ação do outro.
Mas, porque a vontade de arriscar merece quase sempre ser destacada, é muito mais relevante realçar os pontos positivos de “A Way Out”. Sendo um jogo forçosamente cooperativo, este leva essa cooperação quase ao extremo, onde, em praticamente nenhuma situação, será possível um dos jogadores avançar um desafio sem estar em perfeita sintonia com o parceiro.

Mesmo exemplos corriqueiros como cenas em que Vincent e Leo têm que arrombar portas e esta só se abre se ambos premirem o respetivo botão ao mesmo tempo, ou quando ambos têm que decidir quem é que terá que distrair um guarda para o outro poder ir buscar uma chave, estas cenas mostram, dizia-se, o quão esta entreajuda é necessária e um dos grandes temas da história. Outro curioso exemplo são as inúmeras atividades que se podem fazer em conjunto, como jogos de quatro em linha, dardos, braço de ferro, entre outros, que ajudam a reforçar (e por vezes, até contrastar) esse motivo da interação entre parceiros e do próprio número dois.
Alguns dos grandes momentos do jogo surgem em etapas em que Vincent e Leo têm que decidir como abordar determinadas situações, tipicamente usando a força ou a inteligência, decisões que são sobretudo úteis à narrativa por adicionarem alguma ‘rejogabilidade’ à história. Nestas secções, ambos os jogadores terão que chegar a um consenso sobre qual das abordagens seguir, sendo que, até os dois concordarem sobre que caminho percorrer, o jogo não avança, algo que poderá suscitar as mais diversas e interessantes discussões fora do ecrã. É precisamente nestes momentos que “A Way Out” se torna mais do que um jogo, torna-se uma forma de celebrar a vida.
Disponível em: PS4, XBox One, Windows
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