“O Grande Desconhecido” é o segundo de quatro livros que integram o famoso “L.A. Quartet”, escrito por James Ellroy. “The Big Nowhere“, no original, foi pela primeira vez publicado em 1988, cerca de um ano depois de “A Dália Negra“. Curiosamente, o livro também se inicia cerca de um ano após o final do antecessor, precisamente na noite da passagem de ano que marcava o início da década de 1950.
A primeira personagem a ser introduzida é Danny Upshaw, pertencente ao Departamento do Xerife de Los Angeles, que, na primeira noite do ano, é chamado para investigar um estranho e macabro assassinato. Quando chega à cena do crime descobre um cadáver completamente mutilado, sendo que o detetive, ex-estudante de ciência forense, acaba por subornar o médico legista para ser ele próprio a efetuar a autópsia. Novamente, James Ellroy indicia um carácter muito obsessivo por parte dos seus detetives protagonistas, onde o crime nunca é apenas um crime, mas uma manifestação das repressões e problemas que os afetam.

Logo no final do primeiro capítulo é possível traçar várias semelhanças e dissemelhanças para com o estilo narrativo de James Ellroy. Mantém-se a linguagem crua e dialética, a falta de pudor em descrever os podres da cidade de Los Angeles e uma obsessão com o mundo do crime. De forma distinta ao anterior livro da série, a jornada de Upshaw é narrada na terceira pessoa, criando uma natural distância entre o protagonista e o leitor, que Ellroy consegue colmatar exemplarmente com a omnisciência do narrador. Outro motivo de ressalva é a presença do Departamento do Xerife na história, ausente até então em detrimento exclusivo do Departamento da Polícia.
Mas as surpresas não ficariam por aí. Nos dois capítulos seguintes são introduzidos mais dois protagonistas da história. O segundo protagonista é o Tenente Mal Considine do Departamento da Polícia, que é alocado a uma investigação sobre a infiltração comunista em Hollywood, sendo que terá que trabalhar com o Tenente Dudley Smith, conhecido por ser um dos polícias mais corruptos de LA. Quem completa o trio é Turner “Buzz” Meeks, um ex-polícia que é braço direito de Howard Hughes, o famoso empreendedor. Depois de uma curta aparição em “A Dália Negra”, Meeks salta para um dos papéis principais e junta-se a Mal Considine (com quem tem um passado turbulento) e a Dudley Smith na investigação ao comunismo no cinema americano.

Embora os holofotes estejam divididos entre três personagens, é dado o devido tempo a cada uma para explorar não só a sua investigação, como as respetivas relações interpessoais e histórias de fundo. Embora “O Grande Desconhecido” seja um livro extremamente denso, com dezenas de personagens, são sempre estas a comandar a narrativa e não o inverso. Em particular, Buzz Meeks revela um enorme crescimento depois de em “A Dália Negra” se ter revelado como uma personagem particularmente detestável.
Ao longo da maior parte do livro, tanto a investigação de assassinato a cargo de Danny Upshaw como a mais complexa investigação do comunismo em Hollywood, prosseguem a ritmos distintos sem muitos pontos de contacto e com poucos pontos de interação entre as personagens de um e outro caso. Poderá a alguns leitores dar a impressão de que são duas histórias distintas que foram, por mero acaso, aglutinadas no mesmo livro. Contudo, como acontece frequentemente com James Ellroy, é na reta final da narrativa que as várias linhas se unem para dar ao leitor um final que surpreende e que choca, mas que nunca se sente rebuscado ou forçado.
Apesar de Ellroy cumprir até certo ponto o que é praticamente exigido a qualquer escritor de policiais – a capacidade para desenredar aos poucos o crime e dar uma resposta satisfatória ao leitor – apesar disso, dizia-se, tem a arte de servir esse prato acompanhado de uma boa dose de realidade. A sua visão negra do mundo faz com que os destinos das suas personagens sejam maioritariamente negativos, como se estivesse a balançar o efeito positivo causado pela resolução dos crimes. A moral da história é que, com James Ellroy, o mal, de uma forma ou de outra, acaba sempre por vencer.
Se queres que OBarrete continue ao mais alto nível e evolua para algo ainda maior, é a tua vez de poder participar com o pouco que seja. Clica aqui e junta-te à família!
One thought on ““O Grande Desconhecido”: Uma sequela maior e melhor”