Atualmente, escritores com pouca visibilidade nos meios editoriais aproveitam as suas respetivas redes sociais para promoverem os seus livros e, de certo modo, para se autopromoverem também. Nada contra, confesso que também faço isso, mas muitos saem-se melhor nas promoções ao trabalho em si. Imaginem uma época em que a possibilidade de divulgar um trabalho era limitada a alguns poucos jornais e as ferramentas de vídeo e áudio eram tão somente as de televisão e rádio, as chances de promoção eram limitadíssimas, senão nulas.
Faço este preâmbulo para escrever sobre Dalton Trevisan, escritor radicado em Curitiba, a capital do Paraná, na região Sul do Brasil, fora do grande eixo Rio de Janeiro – São Paulo. O indivíduo não gosta de conceder entrevistas, não gosta de sessões de autógrafos e isso desde sempre, escritor experimentado que é. Questionado sobre isso, respondeu: “Não tenho nada a dizer fora dos livros. Só a obra interessa, o autor não vale o personagem. O conto é sempre melhor que o contista“.
Tenho o hábito de comprar muitos livros. Mais até do que a minha humildade capacidade e tempo para lê-los. De modo que visitei a estante dos não lidos e deparei-me com um livro fino, de 56 páginas, e vi que era de Trevisan. Percebi o óbvio: não havia lido nada dele ainda. Foi com satisfação que me deleitei com os 15 contos de “Vozes do Retrato”, com o subtítulo “Quinze Histórias de Mentiras e Verdades”. Publicado pela Editora Ática.

Os títulos dos contos são: “Firififi”; “Orgulho de Mulher”; “Eis a Primavera”; “O Fim da Fifi”; “Maria Pintada de Prata”; “Uma Vela para Dario”; “O Ciclista”; “Caso de Desquite”; “O Pai, o Chefe, o Rei”; “Clínica de Repouso”; “Chuva”; “Vozes do Retrato”; “Me Responda, Sargento”; “Cemitério de Elefantes”; “Penélope”.
Os minicontos são excelentes, descrevendo cenários dos mais intrigantes e relatando os dissabores da vida; a pobre vida dos desvalidos regados a bebidas alcoólicas barata; os adultérios e crimes decorrentes desses atos; a doença terminal de um acamado com cancro que fede, para desespero do olfato da sua filha; uma cadela que está prestes a morrer; o vilipêndio a um cadáver que cai na rua; uma visita a um advogado especialista em divórcio e tantos outros temas.
Com linguagem crua e direta, sem muitas firulas, o autor é daqueles que sabe passar bem o recado. Os seus escritos ficam reverberando e certamente deixaram em mim a marca da originalidade, e assim sendo certamente procurarei outros títulos todas as vezes que quiser enveredar-me por esses labirintos literários.
Engana-se quem pensa que um livro fino de poucas páginas se entrega de primeira. Quis me deleitar com os contos e devido a isso li em média uns três por dia. Dias agradáveis, conhecendo assim mais um brilhante escritor que tem muito para nos dizer. Mesmo não recorrendo a entrevistas nem a autopromoções.
Se queres que OBarrete continue ao mais alto nível e evolua para algo ainda maior, é a tua vez de poder participar com o pouco que seja. Clica aqui e junta-te à família!
Trevisan é disparado um dos meus escritores preferidos. Sempre um deleite ler algum conto dele, revisitar os já lidos anteriormente e encontrar pessoas na internet falando dele.. li recentemente esse título, tão curto e tão impactante..
Parabéns pelo texto.
Valéria, muito obrigado pela leitura e por seu comentário. Muito boa mesmo a escrita do Dalton Trevisan.