“Pode ser que este seja melhor“, refiro a mim próprio enquanto levo o indicador ao comando para pressionar play em “Fear Street – Part 2: 1978”, distribuído pela Netflix. À partida aparentou ser um pensamento razoável, pois a bitola estava bastante baixa. “Fear Street – Part 1: 1994” foi aterrorizantemente mau. Um desperdício cinematográfico quando existe tanto cinema de horror da década de 1990 para investigar. Sem nada que indicasse o contrário, um surto de otimismo fez-me acreditar que esta segunda parte da trilogia iria ter o mínimo de mérito. Foi portanto com alguma surpresa que vi o filme superar pela negativa o seu antecessor em certas métricas.
A realização mantém-se ao cargo de Leigh Janiak e a história recupera o fôlego exatamente onde o primeiro capítulo terminou. Deena (Kiana Madeira) e o seu irmão Josh (Benjamin Flores Jr.) encontraram a misteriosa C. Berman (Gillian Jacobs) e convencem a senhora a contar a história macabra de como sobreviveu ao massacre de Camp Nightwing, em 1978.
O tempo e o espaço ajustam-se ao ano e ao local, onde Ziggy Berman (Sadie Sink) e a sua irmã mais velha, Cindy (Emily Rudd), enfrentam um dos seus amigos de machado em punho, cortesia de uma maldição da infame Sarah Fier. O rasto de sangue vai-se tornando mais pronunciado à medida que o possuído se cruza com os jovens do acampamento. O ponto de toda a história? Chegar a uma forma de travar a influência da bruxa de uma vez por todas.

O problema é, sem rodeios, tudo o que acontece até o filme atingir essa meta de felicidade, indicativa de que os créditos finais estão perto de chegar. Dentro da vasta cartilha de deceções, o que sobressai é a fulgurosa insistência do argumento em gerar melodrama entre as personagens quando estas estão em circunstâncias de perigo limite. No seu ponto de maior absurdo, as personagens podem estar a ser chacinadas que de alguma forma vão buscar forças para suspirar sentimentos catárticos. Isto não só remove das cenas qualquer propriedade séria ou brutal, como também reduz os momentos a farsas melosas.
Esta suposta homenagem aos slashers dos anos que representa, tais como “Sexta-Feira 13“ (1980), “A Vingança” (1981) ou “Acampamento Sangrento” (1984), falha em executar condignamente uma noção crítica para o aproveitamento do filme: a articulação entre o drama juvenil com a crueldade da violência disposta no ecrã. Em consequência, determinadas sequências tomam proporções cómicas, e outras preenchem o estado emocional de apatia e o mais severo dos desinteresses. Para não falar de que, tal como o primeiro filme, não há em “Fear Street – Part 2” qualquer tentativa de diferenciação. Nem a fantasia de mortes mais imaginativas, que é o mínimo que se pode pedir a este subgénero de terror.

Não é que a inovação seja uma condição sine qua non para o sucesso de uma longa-metragem. São numerosos os filmes que aplicam determinadas fórmulas sem introduzir grande frescura nas suas histórias. Nestes casos, o importante é mudar a perspetiva ou garantir que a execução é minimamente satisfatória, algo que “Fear Street – Part 2: 1978” não consegue oferecer. Para lá dos clichês e da constante sensação de déjà vu, a superfluidade da realização reflete vezes sem conta o facto do filme não ter nada a acrescentar ao movimento que explora.
Tudo isto leva-me a concluir que a cineasta Leigh Janiak está desligada da bolha que está a trabalhar. É possível argumentar que estou simplesmente fora do público-alvo da trilogia: uma audiência mais jovem, talvez menos versada neste subgénero, que nem sempre é encarado com bons olhos. Reconheço que pode ser um ponto de partida para uma quota-parte do público explorar o baú distorcido do cinema gore. Ou então continuar a consumir conteúdo cuja proposta de valor é oca e sem gosto.
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