Meticuloso. Frio e insensível. Com apurado senso de dever. Um indivíduo que se vende caro. Li “O Dia do Chacal”, de Frederick Forsyth (Record, 1971, 367 p.) aos quinze anos e agora reli-o. Um grupo de nacionalistas franceses arquiteta assassinar o Presidente francês Charles de Gaulle. O Presidente, que escapara ileso de vários atentados, corre sério risco, pois a partir dessa narrativa será caçado por Chacal, assassino sem nome, pragmático, que, vivendo na clandestinidade na Europa, aceita o desafio por uma fortuna.
Este é o pano de fundo da trama de Frederick Forsyth, escritor de sucesso em várias narrativas de ação e complôs políticos (vale a pena citar aqui “Cães de Guerra“, “A Lista“, “O Negociador” e tantos outros). Neste “O Dia do Chacal”, os leitores são convidados a acompanharem o passo a passo do assassino. O seu método limpo, os seus preparativos, o seu plano de ação para executar a tarefa.
Pessoas que inadvertidamente cruzam o seu caminho e com ele travam efémeros momentos de amizade, são eliminadas, pois o profissional não pode deixar pistas. Tudo de forma limpa e segura. No meio da trama, as autoridades francesas ficam sabendo do complô e que existe um plano detalhado para assassinar De Gaulle. A polícia francesa, mais a guarda da Presidência, mais a polícia britânica unem-se para antever os passos do Chacal, e observamos aí uma narrativa de gato e rato.
O interessante no livro é que o leitor fica a saber cada passo do Chacal e, devo confessar (mas não sei se esse é um sentimento que fica com todos os leitores), que acabei a torcer por ele (certamente por entender tratar-se de uma ficção).
Os seus métodos estudados, a sua argúcia para confundir a polícia, exemplo de quando fura uma barreira policial, já ao final da trama, na solenidade em que De Gaulle condecoraria personalidades ilustres com medalhas, pois bem, o Chacal mascara-se de veterano mutilado de guerra (incrível saber como ele fez para ficar com uma perna só) e consegue chegar ao seu posto planejado. De Gaulle chega a estar no alvo de sua mira, mas um detalhe fará toda a diferença no desenrolar dessa passagem.

O comissário de polícia Claude Lebel segue os passos do Chacal diuturnamente. Conseguirá ele evitar o atentado? De Gaulle escapará com vida? E quem é afinal esse assassino frio e perfeito?
Essas e outras respostas poderão ser encontradas no livro em questão. Transposto para o cinema, indico a versão francesa (filme de 1973, do realizador Fred Zinnemann, bem fiel ao livro). Em Hollywood, houve uma versão que contou com Richard Gere, mas a ideia é fraca. Na versão francesa, vocês poderão deliciar-se pelos passeios em cidades francesas, o que não tem preço…
Trecho do livro:
“O Chacal passou os três dias que se seguiram ao seu regresso de Bruxelas dando os retoques finais nos seus preparativos para a sua próxima missão em França.
Levando no bolso a carteira de motorista com o nome de Alexander James Quentin Duggan, foi até Fanum House, sede da Associação Automobilística, onde adquiriu uma carteira internacional de motorista com o mesmo nome.
Comprou uma série de malas de couro de segunda mão numa casa especializada em artigos para viagem. Numa delas colocou as roupas que lhe serviriam para se disfarçar, caso fosse necessário, como o Pastor Per Jensen, de Copenhague. Antes, tirou as etiquetas dinamarquesas das três camisas que havia comprado em Copenhague e transferiu-as para a camisa clerical, o colarinho fechado e o peitilho preto que havia comprado em Londres e dos quais tirara as etiquetas inglesas.
Juntou essas roupas aos sapatos, às meias, à roupa de baixo e ao terno cinza-escuro que um dia poderiam compor a personalidade do Pastor Jensen. Na mesma mala foram guardadas as roupas do estudante Marty Schulberg, sapatos, meias, calças, camisas de meia e blusão de couro.
Cortando o forro da mala, guardou entre as duas camadas de couro que formavam os lados reforçados da mala, os passaportes dos dois estrangeiros, que ele poderia um dia personificar. Colocou ainda nessa mala o livro dinamarquês sobre as catedrais francesas, dois óculos, um para o dinamarquês e outro para o americano, dois diferentes conjuntos de lentes de contato de cor, cuidadosamente embrulhadas em papel fino, e os preparados para tingir os cabelos”.
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2 thoughts on ““O Dia do Chacal”: Prepare-se para torcer pelo vilão”